Zapatero ‘touché’
"O presidente do Governo espanhol incorreu no estigma que rodeia todos os chefes de Governo: a soberba, isto é, a incapacidade para reconhecer os erros. Se Espanha fosse hoje palco de eleições, o mais provável é que Zapatero saísse derrotado. Esta é a principal conclusão tornada pública pelas sondagens realizadas por vários meios de comunicação depois do último atentado da ETA, levado a cabo no aeroporto de Barajas. O feito não deixa de ser insólito, pois seria de esperar que a reacção dos cidadãos, perante mais um acto de terror sem qualquer misericórdia, fosse a de cerrar fileiras com o actual Governo, que encarna a legitimidade democrática. Mas tal deixou de acontecer depois da tragédia de 11 de Março de 2004 em Madrid. Na altura, o PSOE tentou associar, com uma rapidez e eficácia devastadora, o massacre terrorista responsável pela morte de quase 200 pessoas à participação espanhola na invasão do Iraque - facto que contribuiu para a sua vitória nos inúmeros comícios que realizou. Neste caso, a reacção popular perante o atentado terrorista da ETA caracterizou-se, igualmente, por uma rejeição maioritária do presidente do Governo espanhol, se bem que por outras razões. Zapatero tinha abraçado um processo de negociação com a ETA no qual fez com que a opinião pública acreditasse que o final da violência estava próximo, mais perto do que nunca. Para ser mais exacto, no próprio dia 29 de Dezembro, no qual Zapatero se mostrava bastante optimista em relação ao evoluir favorável das conversações com a ETA, e anunciava um 2007 bastante prometedor em relação a esta matéria, a banda terrorista estacionava o veiculo que fez explodir no dia 30 no estacionamento do novo terminal de Barajas e que provocou a morte a dois imigrantes equatorianos. Quase todos chegámos à mesma triste conclusão: o presidente do Governo espanhol não estava a par das verdadeiras intenções dos terroristas, foi terrivelmente enganado, e criou um conjunto de expectativas infundadas, produto do seu voluntarismo - o que fez com que não só a merecida credibilidade do chamado processo de paz tenha caído vertiginosamente, como tenha colocado a sua própria nas ruas da amargura. A reacção de Zapatero ao atentado foi extravagante e enojadora: mostrou-se relutante em dar por encerrado o processo de negociação, foi de férias para Doñana e o país esteve, durante alguns dias, como se de um barco à deriva se tratasse - que é como esteve quase sempre, mas principalmente depois de que Zapatero assumisse as rédeas do mesmo.
Pessoalmente, receio que uma grande parte dos eleitores socialistas não perdoe o comportamento do presidente do Governo - como demonstram as sondagens. Além do mais, é bem provável que estes nunca cheguem mesmo a desculpá-lo, tendo em conta a política de reformas revolucionárias referentes aos aspectos sociais, à configuração territorial do Estado ou à própria Constituição - motivos responsáveis por uma enorme divisão e crispação no país e que são do desagrado dos seus seguidores. Mas as eleições ainda vêm longe, e no mundo da política, as circunstâncias podem sofrer grandes reviravoltas de um dia para o outro - bastam dois dias, por exemplo. Foi o que aconteceu no passado dia 14 de Março de 2004, quando o PP se apresentava como vencedor e acabou derrotado. Assim sendo, qualquer previsão sobre o que vai suceder em 2008, ou mesmo antes, caso as eleições sejam antecipadas, é perfeitamente fortuita. Mas há que ter em conta algo deveras importante: Zapatero é o primeiro presidente do Governo que desperdiça, em tão pouco tempo, o fluxo eleitoral que, em vez de fluir numa intenção de voto favorável - tirando partido de todos os instrumentos de poder -, acaba por retroceder. Por outro lado, também é o presidente do Governo que mais rapidamente incorreu no estigma que rodeia todos os chefes de Governo: a soberba, isto é, a incapacidade para reconhecer os erros. Regra geral, as pessoas têm o hábito de se sentir acima do bem e do mal lá para o segundo mandato. Em Espanha, com Zapatero, isto já é visível, e nem chegámos ao fim da primeira legislatura."
Miguel Angel Belloso
Pessoalmente, receio que uma grande parte dos eleitores socialistas não perdoe o comportamento do presidente do Governo - como demonstram as sondagens. Além do mais, é bem provável que estes nunca cheguem mesmo a desculpá-lo, tendo em conta a política de reformas revolucionárias referentes aos aspectos sociais, à configuração territorial do Estado ou à própria Constituição - motivos responsáveis por uma enorme divisão e crispação no país e que são do desagrado dos seus seguidores. Mas as eleições ainda vêm longe, e no mundo da política, as circunstâncias podem sofrer grandes reviravoltas de um dia para o outro - bastam dois dias, por exemplo. Foi o que aconteceu no passado dia 14 de Março de 2004, quando o PP se apresentava como vencedor e acabou derrotado. Assim sendo, qualquer previsão sobre o que vai suceder em 2008, ou mesmo antes, caso as eleições sejam antecipadas, é perfeitamente fortuita. Mas há que ter em conta algo deveras importante: Zapatero é o primeiro presidente do Governo que desperdiça, em tão pouco tempo, o fluxo eleitoral que, em vez de fluir numa intenção de voto favorável - tirando partido de todos os instrumentos de poder -, acaba por retroceder. Por outro lado, também é o presidente do Governo que mais rapidamente incorreu no estigma que rodeia todos os chefes de Governo: a soberba, isto é, a incapacidade para reconhecer os erros. Regra geral, as pessoas têm o hábito de se sentir acima do bem e do mal lá para o segundo mandato. Em Espanha, com Zapatero, isto já é visível, e nem chegámos ao fim da primeira legislatura."
Miguel Angel Belloso
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