APÓLOGO BREVE DO PATRIARCA MOISÉS DO BEZERRO DE OURO E DA GALINHA DOS OVOS MOLES
Moisés nasceu na cidade egípcia de Kor-Ushe, nos arredores do Cairo. Era filho da princesa Nefer-Titrititiki-Ptah-Tut, e de um fabricante de múmias de Barcelos. O escândalo foi todavia abafado e Moisés atirado aos crocodilos. Veio a ser posteriormente salvo pela prestigiosa Corporação dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.
Seu avô, Gamal Ramsés ab'del Nasser II, semeou o deserto de construções de areia,ao tempo do primeiro concurso do Diário de Notícias.
Pirâmides,esfinges, o marujo tatuado no peito, o obelisco da Praça da Concórdia e a estátua de D.Pedro IV, são as suas obras mais conhecidas.
Moisés escondia a sua nobre ascendência, dada a fama que corria entre o Povo, de que todos tinham "aquela pancada".
Dedicou-se desde muito novo à cultura de frangos de aviário e a leituras edificantes, como: "A terceira visão" de Lobsang Rampa, "O despertar dos Mágicos", e o "Robinson das Galapagos", eram as suas leituras preferidas. Foi durante muito tempo assinante da Revista Planète e do Diario do Governo.
E assim passou grande parte da sua juventude, entre tratamentos da sabedoria antiga, as aves domésticas e os famélicos felahs do Delta.
Uma bela manhã, fugindo do Colégio do Santo Faraó, em Tuh-Mahr, no Alto Egipto, onde o tinham internado, apartou-se do caminho , para satisfazer uma necessidade religiosa. E, eis senão quando teve uma visão: - Dependurada dos ramos de uma figueira brava, estava uma jovem de aspecto mais que duvidoso, que anunciou:
- Moshe, tu és o eleito"
O nosso herói, julgando tratar-se dos resultados das eleições para a Comissão sindical, pôs-se a fazer contas de cabeça. Resolveu deixar crescer o cabelo, e na na aldeia mais próxima comprou um saco...
Assim entrou Moisés na vida pública.
Passaram anos...
Um dia andava Moisés no deserto, apascentando o seu Povo, quando teve uma grande diarreia. Como suspeitasse que aquela não era uma diarreia vulgar, mas um monumental e tormentosa raleira , das que mudam a face do mundo, resolveu prover-se de mantimentos e retirar-se para o Sinai. Na verdade quem poderia prever quanto tempo aquilo iria durar?
Pôs precipitadamente num cesto três salpicões, um frango corado, um pão de Castelo Branco, um pacote de batatas fritas Pála-Pála, a túnica bordada de missangas com que a avó se casara com um cameleiro de Hermon, um maço de papiro higiénico e uma galinha viva, para o que desse e viesse...e saíu a correr.
O Povo esperou um mês., e Moisés não voltava. Ao fim do 31.º dia, julgando-o atacado de cólera, deram-no como morto.
E foi um vêr se te avias. Queimaram o poster do Moisés e puseram-se a adorar a Nosa Senhora de Fátima, de pau pintado.
Entretanto, na montanha, Moisés acocorado, meditava sem descanso. À tardinha envergava a túnica da avó, e ia passear a galinha...
Tinham-lhe crescido os cabelos e as unhas, e à volta dele, pairava um fedor insuportável a estábulo.
Foi neste ambiente propício à experiência mística, que Moisés pela primeira vez comunicou com o Além...(não confundir com o Allen..)
Passou o tempo. A galinha morrera de maus tratos -nos últimos tempos a desgraçada já nem punha ovos, deixava-os simplesmente cair...!!! -e Moisés começou a sofrer de solidão...
Dispunha-se a abandonar o umbigo do mundo - os hebreus nesse tempo concebiam o mundo como uma grande fêmea deitada, cujo umbigo era o centro do mundo, o "omphalos" - quando o chamou uma voz.
-Ah, Moisés, Moisééééé´s
- Nhôra? respondeu o Profecta.
- Anda cá, pega no escopro e escreve...
- Despacha-te, gritou de novo a Voz, ante a pasmaceira do patriarca. Moisés ainda pensou que fosse a Natália, mas era um pouco pior.
Talhou na rocha um bloco de apontamentos, sentou-se numa pedra, compôs as pregas da túnica e pôs-se à espera.
Então a voz tomou um tom desdenhoso.
-Escreva, Moisés, escreva...no mesmo tom que o Marquez (Mascarenhas) usaria para dizer "arquive, filho, arquive..."
De repente, rimbombante como um trovão, o vozeirão Divino, grosso abalou os céus:
-ESCREVA SUA BÊSTA!!!!!
Assim nasceram as tábuas da Lei, cuja versão, recolhida por Lopes Graça e Giacometi, passamos a reproduzir:
I - Nunca comas batatas fritas que não sejam Pála-Pála!
II- Prefere sempre os frangos do Aviário do Freixial
III Visita Kor-Ushe , pelo menos, uma vez na tua vida, a Guida tem lá uma pinga de estalo.
IV Nunca evacues no Sinai
V Lava sempre as mãos antes de comer e descomer
VI Nunca bebas água sem ser da torneira
VII Se vires uma sarça a arder, colobora com os serviços florestais, apaga-a logo , para bem da Humanidade . Usa de preferência os extintores "Hipólito"
VIII -Se ouvires vozes estranhas, desliga. É certamente negócio de linhas trocadas.
IX - ´Não acredites na Nossa Senhora de Fátima. Além de virgem é estéril. Prefere o Boi Ápis, que ao menos produz esterco com que adubarás as tuas terras, colobaorando assim com o Governo Provisório.
X - Espalha...espalha, passa a outro
E foi nesta semente de felicidade do Povo de Israel e de todos os Povos que aderiram à sua Verdade.
IOANIS ERETICUS
Abu-Simel , Julho de 1974
A TRANCA religiosa esta semana é patrocinada pelas seguintes firmas e marcas:
Batatas fritas Pála-Pála
Aviário do Freixial
Junta de Turismo de Kor-Ushe
Extintores Hipólito
Panificadora de Castelo Branco
Estação Agro-Pecuária "Kibutz do Monte Sinai
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home