Porque sobe o desemprego ?
"Os números pioraram em toda a linha, contrariando as previsões do governo. Agora, a bola está do lado das empresas. Choque e perplexidade. Foi desta forma que foram recebidos os números do desemprego de 2006, ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O fenómeno do desemprego piorou em toda a linha, isolando o Governo que nos últimos meses emitiu sinais que apontavam para uma melhoria da situação no mercado de trabalho. Mais inquietante ainda, é o facto dos economistas ouvidos pelo Diário Económico fazerem pouca fé numa recuperação da taxa de desemprego nos primeiros trimestres de 2007. O forte aumento dos desempregados de longa duração e o número crescente de pessoas sem trabalho com níveis mais baixos de qualificações torna cada vez difícil o regresso ao mercado .
Para além disso, reparam os especialistas, o investimento - a variável que determina directamente a criação de emprego - deverá continuar em estagnação este ano, arrastado pela contribuição negativa do Estado no esforço nacional na tentativa de cumprir com as regras do Pacto de Estabilidade, como sublinhava o Banco de Portugal no relatório de Inverno. Ou seja, a bola está do lado das empresas, mas os economistas prevêem que os projectos em carteira apenas se comecem se “sentir” na segunda metade deste ano. Nas eleições, o Executivo socialista fixou como meta a criação de 150 mil postos de trabalho até ao final da legislatura (2009). Em 2005 houve destruição de emprego, no ano passado o número de pessoas empregadas subiu 0,7%, ou mais 37 mil postos de trabalho, o que significa que a equipa de José Sócrates, que está a meio do mandato, encontra-se a mais de 100 mil empregos do seu objectivo.
No último trimestre de 2006, a taxa de desemprego atingiu o valor mais elevado desde 1987 – 8,2% da população activa –, reflectindo um aumento em volume de 2,5% face ao mesmo período do ano precedente.
Em termos anuais, o cenário é igualmente frustrante, tendo em conta os sinais de retoma moderada da economia: em 2006, o número de desempregados rondou uma média de 427,8 mil pessoas, mais 1,3% do que em 2005. Conclusão: a taxa de desemprego fixou-se em 7,7%, contra 7,6% em 2005, acumulando assim seis subidas anuais consecutivas.
Portugal, que está em divergência com o resto da Europa nos níveis de riqueza ‘per capita’ há seis anos consecutivos, enveredou por uma aproximação preocupante à média europeia no capítulo do desemprego. Em 2000, a taxa nacional valia quase metade (4%) do nível da zona euro. O número ontem libertado pelo INE coloca o rácio português três décimas percentuais abaixo dos 8% estimados pela Comissão Europeia para o espaço dos Doze.
Economistas surpresos
Nenhum dos economistas ouvidos pelo Diário Económico esperava estes resultados. Carlos Almeida Andrade, economista-chefe confessa que “não esperávamos que a taxa de desemprego fosse além dos 7,6%”. No seu entender, é um valor “surpreendente por causa da subida muito forte do quarto trimestre”. “Podia ser explicado pela sazonalidade, mas mesmo corrigindo os valores percebemos que o aumento é grande. Parece-nos que terá a ver com o desemprego dos serviços, e que este poderá ser já um reflexo da reforma da Função Pública”, adianta.
Eduardo Catroga, economista e empresário, repara que “o aumento do desemprego estará parcialmente ligado à reestruturação da economia”, mas defende que a principal razão para a derrapagem “está no “desajustamento crónico entre as qualificações e a oferta de trabalho. Por um lado, faltam pessoas com formação técnica, por outro há demasiados licenciados que não encontram trabalho pois as suas qualificações de base não servem às necessidades do mercado. O presidente da Sapec teme que “leve algum tempo” até reverter esta situação.
Cristina Casalinho, economista-chefe do Banco BPI, confessa-se estupefacta. “Mesmo na pior das nossas previsões nunca esperámos que ultrapassasse os 8%. Mais preocupante é a criação de emprego, que ficou pelos 0,7%. Estávamos à espera de mais, tendo em conta os sinais de recuperação económica. Poderia ter havido uma maior taxa de actividade, mas nem isso. Não encontro uma explicação convincente”. A economista frisa ainda que “se o Governo está empenhado em reduzir o número de funcionários públicos”, é natural que isso seja mais um atrito ao objectivo dos 150 mil empregos até 2009.
A responsável do ‘research’ e o economista-chefe do Santander, Rui Constantino, concordam que “o encerramento de grandes unidades industriais, como a fábrica de automóveis da Azambuja (Opel), e de outras instalações do sector, como fábricas de cablagem” estarão na origem da subida do desemprego. Para Constantino, “são números estranhos pois todos os indicadores apontavam no sentido contrário, nomeadamente os níveis de confiança, e a economia não entrou em desaceleração. No quatro trimestre de 2005 aconteceu algo semelhante”, mas nessa altura as retoma era bem mais incipiente, sublinhou o economista. Para além das deslocalizações fabris, lembrou “o encerramento de fábricas do sector têxtil”, facto que, no entender de Carlos Andrade, vem explicar o aumento no desemprego das mulheres. Rui Constantino considera ainda que as novas condições (mais apertadas) do sistema de pensões e de acesso ao subsídio de desemprego que entraram em vigor no final de 2006 também estarão a “incentivar” uma corrida aos apoios do desemprego desempregado, uma forma de evitar as novas regras."
Luís Reis Ribeiro e Sofia Lobato Dias
O fenómeno do desemprego piorou em toda a linha, isolando o Governo que nos últimos meses emitiu sinais que apontavam para uma melhoria da situação no mercado de trabalho. Mais inquietante ainda, é o facto dos economistas ouvidos pelo Diário Económico fazerem pouca fé numa recuperação da taxa de desemprego nos primeiros trimestres de 2007. O forte aumento dos desempregados de longa duração e o número crescente de pessoas sem trabalho com níveis mais baixos de qualificações torna cada vez difícil o regresso ao mercado .
Para além disso, reparam os especialistas, o investimento - a variável que determina directamente a criação de emprego - deverá continuar em estagnação este ano, arrastado pela contribuição negativa do Estado no esforço nacional na tentativa de cumprir com as regras do Pacto de Estabilidade, como sublinhava o Banco de Portugal no relatório de Inverno. Ou seja, a bola está do lado das empresas, mas os economistas prevêem que os projectos em carteira apenas se comecem se “sentir” na segunda metade deste ano. Nas eleições, o Executivo socialista fixou como meta a criação de 150 mil postos de trabalho até ao final da legislatura (2009). Em 2005 houve destruição de emprego, no ano passado o número de pessoas empregadas subiu 0,7%, ou mais 37 mil postos de trabalho, o que significa que a equipa de José Sócrates, que está a meio do mandato, encontra-se a mais de 100 mil empregos do seu objectivo.
No último trimestre de 2006, a taxa de desemprego atingiu o valor mais elevado desde 1987 – 8,2% da população activa –, reflectindo um aumento em volume de 2,5% face ao mesmo período do ano precedente.
Em termos anuais, o cenário é igualmente frustrante, tendo em conta os sinais de retoma moderada da economia: em 2006, o número de desempregados rondou uma média de 427,8 mil pessoas, mais 1,3% do que em 2005. Conclusão: a taxa de desemprego fixou-se em 7,7%, contra 7,6% em 2005, acumulando assim seis subidas anuais consecutivas.
Portugal, que está em divergência com o resto da Europa nos níveis de riqueza ‘per capita’ há seis anos consecutivos, enveredou por uma aproximação preocupante à média europeia no capítulo do desemprego. Em 2000, a taxa nacional valia quase metade (4%) do nível da zona euro. O número ontem libertado pelo INE coloca o rácio português três décimas percentuais abaixo dos 8% estimados pela Comissão Europeia para o espaço dos Doze.
Economistas surpresos
Nenhum dos economistas ouvidos pelo Diário Económico esperava estes resultados. Carlos Almeida Andrade, economista-chefe confessa que “não esperávamos que a taxa de desemprego fosse além dos 7,6%”. No seu entender, é um valor “surpreendente por causa da subida muito forte do quarto trimestre”. “Podia ser explicado pela sazonalidade, mas mesmo corrigindo os valores percebemos que o aumento é grande. Parece-nos que terá a ver com o desemprego dos serviços, e que este poderá ser já um reflexo da reforma da Função Pública”, adianta.
Eduardo Catroga, economista e empresário, repara que “o aumento do desemprego estará parcialmente ligado à reestruturação da economia”, mas defende que a principal razão para a derrapagem “está no “desajustamento crónico entre as qualificações e a oferta de trabalho. Por um lado, faltam pessoas com formação técnica, por outro há demasiados licenciados que não encontram trabalho pois as suas qualificações de base não servem às necessidades do mercado. O presidente da Sapec teme que “leve algum tempo” até reverter esta situação.
Cristina Casalinho, economista-chefe do Banco BPI, confessa-se estupefacta. “Mesmo na pior das nossas previsões nunca esperámos que ultrapassasse os 8%. Mais preocupante é a criação de emprego, que ficou pelos 0,7%. Estávamos à espera de mais, tendo em conta os sinais de recuperação económica. Poderia ter havido uma maior taxa de actividade, mas nem isso. Não encontro uma explicação convincente”. A economista frisa ainda que “se o Governo está empenhado em reduzir o número de funcionários públicos”, é natural que isso seja mais um atrito ao objectivo dos 150 mil empregos até 2009.
A responsável do ‘research’ e o economista-chefe do Santander, Rui Constantino, concordam que “o encerramento de grandes unidades industriais, como a fábrica de automóveis da Azambuja (Opel), e de outras instalações do sector, como fábricas de cablagem” estarão na origem da subida do desemprego. Para Constantino, “são números estranhos pois todos os indicadores apontavam no sentido contrário, nomeadamente os níveis de confiança, e a economia não entrou em desaceleração. No quatro trimestre de 2005 aconteceu algo semelhante”, mas nessa altura as retoma era bem mais incipiente, sublinhou o economista. Para além das deslocalizações fabris, lembrou “o encerramento de fábricas do sector têxtil”, facto que, no entender de Carlos Andrade, vem explicar o aumento no desemprego das mulheres. Rui Constantino considera ainda que as novas condições (mais apertadas) do sistema de pensões e de acesso ao subsídio de desemprego que entraram em vigor no final de 2006 também estarão a “incentivar” uma corrida aos apoios do desemprego desempregado, uma forma de evitar as novas regras."
Luís Reis Ribeiro e Sofia Lobato Dias
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