terça-feira, março 27, 2007

A Europa e os outros.

"Nas páginas da imprensa europeia pode ler-se que uma juíza alemã se inspirou no Alcorão para decidir um caso de violência doméstica. Resumindo a história: uma alemã de origem marroquina apresentou queixa num tribunal de Frankfurt contra o marido por tratos quotidianos que incluíam a ameaça e o espancamento. A juíza decidiu não lhe conceder o divórcio alegando que a vítima casara segundo a lei islâmica e que o Corão permitia este tipo de comportamento. Para além do recurso já apresentado e da indignação geral, incluindo a das associações de imigrantes muçulmanos, não se sabe quantas voltas deram no túmulo muitos filósofos e pensadores alemães que contribuíram para formação doutrinária do moderno Estado de direito.

Não deixa de ser curioso que esta notícia surja na mesma semana em que em Berlim, e um pouco por toda a Europa, se comemoram os cinquenta anos da assinatura do Tratado de Roma. Lidar com a crescente imigração, em particular com a integração das comunidades de origem islâmica, é um dos maiores desafios com que a Europa se depara para as próximas décadas. Uma Europa secularizada, velha e com baixa natalidade, convivendo com comunidades religiosas, jovens e com elevadas taxas de nascimentos. No seu livro “Free World”, Timothy Garton Ash sublinha: “Para um europeu do século XV, dizer um europeu muçulmano ou um muçulmano europeu seria uma contradição nos termos, como dizer um “homem-mulher” ou uma “mulher-homem”. No século XXI, é simplesmente vital que se torne possível dizê-lo sem contradição.” (Alêtheia, 2006, p.277). Resta saber com que custos e dificuldades.

É evidente que a originalidade jurídica, agora noticiada, em nada contribui para resolver este problema, quer na Alemanha quer noutros países europeus. As democracias ocidentais distinguem-se pela separação entre as leis do Estado e as leis religiosas. Ora, é precisamente este traço distintivo, tolerante, das nossas sociedades que pode ajudar a que, apesar de todas as contrariedades, a integração social e cultural das comunidades imigrantes possa ser, não só possível, como um factor de desenvolvimento da Europa. Tudo o que seja o contrário do respeito pelas regras do Estado de direito democrático só poderá criar ainda mais obstáculos a este desafio. Alguém poderia fazer o favor de explicar isto, de preferência em alemão, à senhora juíza?
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Nuno Sampaio

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Relativamente a este assunto que se prende com os islâmicos, não há nada a dizer!! Se nesses lugares as mulheres são propriedade dos homens e podem ser maltratadas, não percebo o que é que os ocidentais têm a dizer sobre isto?? Quanto à juíza alemã, só podia estar com uma grande bebedeira...

terça-feira, março 27, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Srª Ana, talvez seja demasiado jovem, mas relembro-lhe que, até ao 25/04/74, as mulheres portuguesas eram, legalmente, propriedade dos seus maridos. Se uma fugisse de casa [por maus tratos, por exemplo] e voltasse para os pais, o esposo podia ir ter com a polícia e exigir que esta a fosse buscar e devolver ao Lar, independentemente de tudo o resto... Não assuma que se trata de algo "Islâmico".

terça-feira, março 27, 2007  
Anonymous Anónimo said...

"We are all islamics.."entendeu ana?"And salazaristas..."acrescento.A imbecil da juiza conseguiu aquilo que as "comunidades islâmicas"ainda não obtiveram na GRã-Bretanha : a lei islâmica ,dentro de casa.Acheguem -lhe um turco...

terça-feira, março 27, 2007  

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