Assassinato de um cadáver

Aqui há tempos o senhor Pinto de Sousa dizia que os portugueses deveriam ser certificados ou então requalificados, penso que utilizou um destes termos.

Deveria querer dizer que deveriam melhorar os seus graus académicos.

Apareceu então a confusão e abreviando, fica claro, que não existe maneira de provar o grau académico do Sr Pinto de Sousa, inserindo daqui que não vai ser fácil cumprir este objectivo de certificar os portugueses, ou então será fácil de mais.Confuso?

Fica claro, que o caso é pior que o da Moderna e que aquela pariu um rato, ainda por cima um que pagou o pato.

Fica claro, que a demora da justiça em actuar não é inocente.

Fica claro, que quando a justiça actua tarde e a más horas, não cobra o que deve cobrar.

Fica claro, que não existe estado de direito ou então que o direito está enviesado e protege quem não deve.

Fica claro, que todos os governos que tivemos desde Abril serviram interesses que não a nação e assim continua.

Fica claro, que os nossos filhos e netos têm o seu futuro hipotecado, ou não têm qualquer futuro, porque a democracia não existe neste sítio, é uma coisa travestida, é um parece que é, tal como os dados enviados a Bruxelas, e a CEE e o Euro, que nem existe em metade dos estados membro.

"REGRESSEM AOS ESTUDOS"

“É preciso que regressem aos estudos para concluir o 12.º ano de escolaridade” porque “o País precisa que se qualifiquem”.

Eis o apelo feito ontem pelo primeiro-ministro aos cerca de 500 mil jovens portugueses que estão a trabalhar e não têm o 12.º ano de escolaridade.

Segundo José Sócrates, “o aumento das qualificações é a melhor forma de aumentar a riqueza do País”. Sobre os cerca de 15 mil jovens portugueses licenciados que estão desempregados, Sócrates nada disse; tão-pouco do emprego precário.

Os Saraivas, os Louças, os Resendes falam e já tomaram a decisão que tudo é um “fait divers”, uma coisa de somenos, é como se o grande arquitecto que muitos do sítio idolatram precisasse olhar para o lado, conforme as conveniências e as crenças.

Afinal, os secularistas evangélicos do politicamente correcto como Louçã e outros, que acham que se não deve assassinar um carácter, acreditam que é possível matar duas vezes um cadáver, o que parece ser uma coisa redundante, apenas nas palavras.

Trata-se de enterrar um cadáver que é coisa diferente, porque como Pombal depois do terramoto, era uma questão de sobrevivência em relação às pestilências que daí adviriam.

O caso, de facto, é de pestilência e logo de saúde pública.

Lawrence acerca da parábola do Grande Inquisidor, dos Irmão Karamazov de Dostoievsky e acerca da qual mudou de opinião, pergunta-se:

“Será verdade que a humanidade reclama, e reclamará sempre, milagre, mistério e autoridade? E responde:

“ É sem dúvida verdade. Hoje, o homem vai buscar o sentido do miraculoso à ciência e às máquinas, à rádio, aos aviões, aos grandes navios, aos dirigíveis, ao gás venenoso, às fibras artificiais: todas estas coisas alimentam no homem o sentido do milagre, do mesmo modo que a magia o fez no passado (…)

(...)Na parábola descrita, Jesus regressa à terra nos tempos da Inquisição espanhola. Embora discretamente, é descoberto e reconhecido pelo povo e feito prisioneiro pelo Grande Inquisidor. Fechado no paço da Santa Inquisição, é interrogado, mas recusa-se a responder. Assim o Grande Inquisidor explica a Jesus que a humanidade é demasiado fraca para suportar a dádiva da liberdade.(…) As pessoas estão prontas a adorar quem quer que lhes dê pão, necessitando assim que os seus governantes sejam deuses. O Grande Inquisidor diz a Jesus que os seus ensinamentos foram corrigidos de modo a poderem adaptar-se à humanidade tal como ela é na realidade. E os homens regozijaram-se por serem de novo conduzidos como rebanhos e por essa terrível dádiva que lhes causava tanto sofrimento lhes ter sido, enfim, tirado dos corações, - ( o pão divino prometido por Jesus…).

(…)A verdade que Dostoievsky põe na boca do Grande Inquisidor é que a humanidade nunca procurou a liberdade, nem nunca o fará. As religiões seculares dos tempos modernos dizem-nos que os seres humanos anseiam por ser livres; e é verdade que qualquer tipo de restrições os impacienta. No entanto, é raro que os indivíduos estimem a sua liberdade acima do conforto que o servilismo compra, e mais raro ainda que o faça um povo inteiro. À proposição de Rousseau, segunda a qual os homens nasciam livres, embora estivessem por toda a parte acorrentados, Maistre opunha que pensar, pelo facto de umas quantas pessoas de vez em quando procurarem a liberdade, que todos os seres humanos a desejavam, era como pensar que, por existirem peixes-voadores, voar faz parte da natureza dos peixes.

(…) A mentira que há no discurso do grande Inquisidor está na imagem que tem de si próprio.

(…)

Compromete-se a salvar os seres humanos da “ grande ansiedade e da agonia que sofrem no presente, tendo que decidir livremente por si próprios. E todos serão felizes, todos esses milhões de criaturas, à excepção dos cem mil que os terão de governar. Porque só nós, nós que temos o mistério à nossa guarda seremos infelizes”. (…)

(...) Com efeito é evidente que os Grandes Inquisidores não existem. Os inquisidores em que Dostoievsky baseou o seu personagem não eram santos que dedicassem as suas vidas para evitar que a humanidade fosse esmagada pela verdade. Não eram diferentes da restante humanidade, sendo talvez até piores: dementes fanatizados, seres sedentos de vingança ou carreiristas timoratos.

(...)

Reportando aos que chamo de secularistas evangélicos do politicamente correcto e que julgam apenas que a ciência não pode trazer “ milagre, mistério e autoridade” à humanidade, mais não seja porque – como aqueles que no passado serviam a Igreja – todos os seus servidores são humanos, demasiado humanos.

Excertos de “ Straw dogs “de J. Gray