A despesa da entrevista.
"O primeiro-ministro disse ontem ao país que é um licenciado honrado. E aproveitou o embalo para falar de Portugal: sublinhou a importância das reformas, vincou o impacto do seu estilo decisório e respondeu no seu tom habitual às perguntas sobre o aumento da despesa pública do país – rejeitando que essa subida tenha existido.
O primeiro-ministro sabe que não está a mentir, e escuda-se na legítima interpretação internacional – que mede a despesa pública em percentagem da riqueza do país. Já se sabe: se a despesa sobe menos quando comparada com a riqueza que um país é capaz de criar, é possível dizer que a despesa cai em percentagem do PIB. Bruxelas gosta disso, e a generalidade dos especialistas tende a aceitar que é melhor a despesa a cair em percentagem do PIB (mesmo que a subir em termos reais) do que a crescer em ambos os sentidos. Mas os mesmos economistas que aceitam esta convenção concedem que a despesa de um país revela (também) os gastos do Estado.
E sabem, sem dificuldade, que se esse Estado é pesado só deve existir uma razão legítima para que a despesa cresça em termos reais – via investimento público. Isto é, para a riqueza do país engordar, investe-se. E através desse dinheiro (gasto a mais) a despesa sobe – mas pode depois cair quando medida em percentagem da riqueza criada. A balança equilibrar-se-ia. O que se passa em Portugal?
Passa-se que o investimento público caíu (-15%). A riqueza engordou, mas isso não se deve ao Estado. Ainda bem: é o sector exportador (que Sócrates não se esqueceu de elogiar na entrevista) que está a fazer crescer a economia. O que permite outras contas: o aumento da despesa pública em termos reais foi pago com o esforço desses empresários.
Assim mesmo: enquanto eles se esforçam para gerar riqueza, investindo, o Estado gasta mais dois mil milhões de euros do que no ano passado. Bem pode Sócrates, e o ministro das finanças, jurar que existe um esforço.
Pergunta legítima: o que acontece, por exemplo, quando as empresas se reestruturam para cortar custos? Uma de duas coisas: ou fazem cair, realmente, a despesa que tinham (suprimindo salários e outras despesas) ou investem (subindo a despesa) para gerar mais lucros – e assim alegar que, para um nível semelhante de despesa, geram agora mais receitas.
Um país é um problema mais complexo. Mas há raciocínios que se aplicam com simplicidade: se o aumento da despesa se devesse a um ritmo acelerado de investimento, Sócrates podia dizer com orgulho que ela cresce – para depois alegar que cai em percentagem da riqueza que gera.
Assim, é conversa que se perde na televisão."
Martim Avillez Figueiredo
O primeiro-ministro sabe que não está a mentir, e escuda-se na legítima interpretação internacional – que mede a despesa pública em percentagem da riqueza do país. Já se sabe: se a despesa sobe menos quando comparada com a riqueza que um país é capaz de criar, é possível dizer que a despesa cai em percentagem do PIB. Bruxelas gosta disso, e a generalidade dos especialistas tende a aceitar que é melhor a despesa a cair em percentagem do PIB (mesmo que a subir em termos reais) do que a crescer em ambos os sentidos. Mas os mesmos economistas que aceitam esta convenção concedem que a despesa de um país revela (também) os gastos do Estado.
E sabem, sem dificuldade, que se esse Estado é pesado só deve existir uma razão legítima para que a despesa cresça em termos reais – via investimento público. Isto é, para a riqueza do país engordar, investe-se. E através desse dinheiro (gasto a mais) a despesa sobe – mas pode depois cair quando medida em percentagem da riqueza criada. A balança equilibrar-se-ia. O que se passa em Portugal?
Passa-se que o investimento público caíu (-15%). A riqueza engordou, mas isso não se deve ao Estado. Ainda bem: é o sector exportador (que Sócrates não se esqueceu de elogiar na entrevista) que está a fazer crescer a economia. O que permite outras contas: o aumento da despesa pública em termos reais foi pago com o esforço desses empresários.
Assim mesmo: enquanto eles se esforçam para gerar riqueza, investindo, o Estado gasta mais dois mil milhões de euros do que no ano passado. Bem pode Sócrates, e o ministro das finanças, jurar que existe um esforço.
Pergunta legítima: o que acontece, por exemplo, quando as empresas se reestruturam para cortar custos? Uma de duas coisas: ou fazem cair, realmente, a despesa que tinham (suprimindo salários e outras despesas) ou investem (subindo a despesa) para gerar mais lucros – e assim alegar que, para um nível semelhante de despesa, geram agora mais receitas.
Um país é um problema mais complexo. Mas há raciocínios que se aplicam com simplicidade: se o aumento da despesa se devesse a um ritmo acelerado de investimento, Sócrates podia dizer com orgulho que ela cresce – para depois alegar que cai em percentagem da riqueza que gera.
Assim, é conversa que se perde na televisão."
Martim Avillez Figueiredo
7 Comments:
É evidente que o eng. Sócrates foi favorecido pela UI: Primeiro porque pagou a matrícula, segundo porque pagou as propinas, terceiro porque era um jovem deputado, líder ou ex-líder da Juventude Socialista e isso dava prestígio à UI, mesmo que fosse de um partido da oposição na altura. Teria acontecido o mesmo em qualquer outra universidade privada. Elas existem para terem clientela (alunos) e se alguns alunos forem já jovens com algum relevo em qualquer sector da vida pública, tanto melhor. Se o Luís Figo resolver frequentar uma Universidade privada, certamente que será recebido de braços abertos e muita gente se esforçará para que consiga acabar um curso de qualquer coisa como desporto, treinador ou sei lá que mais, se existir nas universidades privadas. Já numa instituição do Estado é diferente. Aí um deputado é alvo de inveja e qualquer pessoa com algum relevo sofre os ataques de toda a gente, desde os professores, assistentes a colegas. Um deputado nunca poderia acabar um curso numa Universidade Pública porque os professores fariam-lhe a vida negra. Em qualquer Faculdade do Estado, não há nada que crie mais ódio e raiva do que o sucesso de alguém. Os imponentes professores doutores das universidades do Estado nunca suportariam um Einstein em Portugal e, nem sequer, um bom físico russo, por exemplo. Têm todos o culto da imponente mediocridade e só aceitam os comparsos que os podem ajudar mutuamente.
É fácil baixar o défice subindo impostos, congelando progressões, cortando no investimento e, apesar disso, as exportações conseguirem crescer. Isto é só politiquice da chacha!! Os "clubistas" estão "contentes" por o impacto da governação na economia não ser tão mau como no passado recente. Mas, na verdade tem deixado muito a desejar em todos os domínios. Este país é constituído na sua maioria por uns "tretas" a desgovernar outros "tretas", com as poucas excepções que têm que conviver com tudo isso. Sem querer ser derrotista, mas procurando não deixar de ser realista, quem tiver qualidade, i.e., inteligência e capacidade de trabalho, o melhor que pode fazer é emigrar, afinal até estamos na U.E. (ainda que desmerecidamente).
O deficit orçamental tem de ser reduzido via redução da despesa e não através do aumento estraordinário das receitas, que a ocorrer deveria funcionar como almofada. A redução da despesa corrente é ainda muito insuficiente mas ter caído em % do PIB é positivo.Mas como compreender, face a este estado de coisas,o anúnucio do reassumir das promoções automáticas no funcionalismo público que, como o nome indica, são uma contradição nos termos? Por definição, uma promoção nunca deve ser automática. A custarem 0,4% do PIB voltamos ao mesmo. Se há folga orçamental, reforçem-se os sistemas sociais,principal factor de coesão nacional, que irão estar sob ameaça por muitos e bons anos.Os servidores do Estado têm de compreender que isto está mau e é para todos.Quanto a políticas gerais, baixe-se o IRC ( não terá grande impacto na receita), promova-se o outsourcing de funções e serviços não estratégicos do Estado e crie-se legislação para relançamento da construção civil por via da obrigatoriedade de manter e recuperar edifícios.Promover o consumo privado não é boa ideia, pese embora o seu peso no PIB,porque arrasta crescimento da dívida. Agora, acabe-se com a novela do título académico do 1º ministro, já se explicou ao País, está acabado,não vejo o que poderá esclarecer mais, é preciso é que governe e, se possível, bem.
Foi pena que a entrevista tivesse sido só com jornalistas da RTP, pois se chatiassem o PM, oito dias depois estavam no desemprego. Parece-me não haverem dúvudas que as habilitações académicas foram todas irregulares e a 2ª.nota biográfica foi feita recentemente para enganar os portugueses, votei neles mas estou desiludido.
A insistência de Martinho na queda da despesa nominal é legítima, como o é a afirmação do PM que "é a 1ª vez desde há muitos anos que a despesa real cai." O que ambos não dizem é a realidade maior. O nosso PIB é constituído em grande parte pelo consumo privado, que como se sabe está estagnado. Ora um pequeno crescimento deste consumo privado tem uma ponderação muito maior no PIB (fá-lo crescer muito mais) do que um aumento, mesmo de 8%, mesmo ganhando quota de mercado, das exportações. E ironia suprema, grande parte das nossas exportações são...bens de consumo. Parece que o consumo privado é o mau da fita e as exportações é que são virtude. Pois não é assim. Os EUA e a Espanha têm balanças comercias negativas mas contas públicas muito mais equilibradas e níveis de vida muito superiores. As taxas de crescimento das suas economias ultrapassam os 3% nos últimos 3 anos (até mais, no caso da Espanha). Apesar dos pontos de vista divergentes (embora todos legítimos) é salutar que estejamos de novo a debater assuntos sérios.
Perdemos uma hora a ver papeis, afirmações gratuitase ficámos a saber que o Socrates, è um aluno saltitão, com cursos do mesmo tipo e que a assembleia da republica, tem duas versões das habilitações do primeiro! Bonito! Quanta à segunda parte, não passou da conversa do costume, mas a realidade è que não existem reformas de empresas ou de um estado, se não foram reduzidas as despesas do ESTADO, e isso não entra na cabeça dp Primeiro, nem do das Finanças, portanto não percebo onde está a sua popularidade, 8% de desemprego, ou isso è pinuts?
Sócrates continua a dominar a arte da politiquice: se a economia melhora o mérito é seu, quando piora os culpados são os empresários. "Esqueceu-se" de dar os parabém a quem faz as empresas exportar, usurpando esse mérito. Ainda por cima é clarinho que a despesa está desenfreada: 1000 milhões acima do previsto há 6 meses pelo Governo?! É um elefante de incompetência escondido atrás do crescimento económico que não se deve ao Governo e ao corte no investimento público, esse sim da sua responsabilidade. A julgar pelo investimento público em que está empenhado (OTA e TGV no actual traçado) concordo no corte de 15%, que só peca por defeito: mais vale cortar no disparate que deitar o dinheiro fora. Bem podemos nós e os nossos filhos trabalhar para pagar tanta asneira...
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