A força da razão.
"Eu sei que é inacreditável, mas há mulheres que sofrem quase tanto quanto as madeirenses impedidas de abortar. Quando a modelo inglesa Waris Dirie, nascida na Somália, tinha 5 anos, a mãe e uma senhora prestável cortaram- -lhe o sexo com uma lâmina. Em seguida, sempre a frio, coseram os restos e, generosas, permitiram um orifício para efeitos urinários. O exercício, predominante em certas comunidades muçulmanas (mas não só), alegadamente livrou a criança de um futuro promíscuo. Waris não agradeceu a benesse e fugiu para Londres.
Não sentiu grande diferença. Mesmo que na moderna Inglaterra a mutilação genital feminina seja um crime, as estimativas para o número de imigrantes e filhas de imigrantes excisadas oscilam entre as 60 mil e as 200 mil. Anos após ano, a lista aumenta. Ano após ano, não se regista uma única condenação, sequer um julgamento. E Waris Darie gasta a sua vida a pregar em vão contra o exótico hábito. Desde a semana passada, a fundação que lidera oferece 20 mil libras por informações que levem à prisão dos criminosos. Esta semana, a polícia londrina prendeu um. Horas depois, mandou-o em paz.
Na Somália, a tradição fomenta a barbárie. Na Inglaterra, o "multiculturalismo" vigente é incapaz de a combater. Nem falo dos malucos que legitimam a mutilação por respeito à "diversidade", ou das cautelas para evitar conotá-la com o islão. Falo dos genuínos esforços para eliminar a prática, que são de uma meiguice tocante e inútil.
Acima de tudo, os esforços implicam "compreensão". É vital compreender a essência dos grupos étnicos que retalham mulheres. E compreender os argumentos morais e religiosos ligados ao retalho. E atender às susceptibilidades dos pais. E ouvir os chefes comunitários. O habitual: ao invés de erradicarem os actos selvagens, as sociedades tolerantes doutoram-se neles.
Há meses, no Expresso, o meu amigo João Pereira Coutinho lembrou o general Charles James Napier, comandante militar da administração britânica na Índia oitocentista. Uma ocasião, Napier recebeu uma delegação regional, que reivindicava o direito de realizar a "sati", a divertida mania de grelhar as viúvas na pira funerária dos maridos. O general propôs um encontro de culturas: "A vossa tradição inclui a queima de mulheres. Óptimo. A minha inclui o enforcamento das pessoas que queimam mulheres. Façam a pira, que ao lado faremos uma forca. Vocês cumprem o vosso costume, nós cumprimos o nosso."
Obviamente, não foi o que se passou no século posterior. Aos poucos, a Grã-Bretanha (e a Europa) largou o império e os costumes. Os ex-colonizados levaram os costumes para a casa dos ex-colonos. E a sensatez de Napier não tem herdeiros."
Não sentiu grande diferença. Mesmo que na moderna Inglaterra a mutilação genital feminina seja um crime, as estimativas para o número de imigrantes e filhas de imigrantes excisadas oscilam entre as 60 mil e as 200 mil. Anos após ano, a lista aumenta. Ano após ano, não se regista uma única condenação, sequer um julgamento. E Waris Darie gasta a sua vida a pregar em vão contra o exótico hábito. Desde a semana passada, a fundação que lidera oferece 20 mil libras por informações que levem à prisão dos criminosos. Esta semana, a polícia londrina prendeu um. Horas depois, mandou-o em paz.
Na Somália, a tradição fomenta a barbárie. Na Inglaterra, o "multiculturalismo" vigente é incapaz de a combater. Nem falo dos malucos que legitimam a mutilação por respeito à "diversidade", ou das cautelas para evitar conotá-la com o islão. Falo dos genuínos esforços para eliminar a prática, que são de uma meiguice tocante e inútil.
Acima de tudo, os esforços implicam "compreensão". É vital compreender a essência dos grupos étnicos que retalham mulheres. E compreender os argumentos morais e religiosos ligados ao retalho. E atender às susceptibilidades dos pais. E ouvir os chefes comunitários. O habitual: ao invés de erradicarem os actos selvagens, as sociedades tolerantes doutoram-se neles.
Há meses, no Expresso, o meu amigo João Pereira Coutinho lembrou o general Charles James Napier, comandante militar da administração britânica na Índia oitocentista. Uma ocasião, Napier recebeu uma delegação regional, que reivindicava o direito de realizar a "sati", a divertida mania de grelhar as viúvas na pira funerária dos maridos. O general propôs um encontro de culturas: "A vossa tradição inclui a queima de mulheres. Óptimo. A minha inclui o enforcamento das pessoas que queimam mulheres. Façam a pira, que ao lado faremos uma forca. Vocês cumprem o vosso costume, nós cumprimos o nosso."
Obviamente, não foi o que se passou no século posterior. Aos poucos, a Grã-Bretanha (e a Europa) largou o império e os costumes. Os ex-colonizados levaram os costumes para a casa dos ex-colonos. E a sensatez de Napier não tem herdeiros."
Alberto Gonçalves
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