segunda-feira, julho 09, 2007

Gente a mais.

"A perda do emprego tem um impacto moral inapagável. Ainda que surja logo um novo emprego [...], a marca não desaparece. propósito de restringir ao mínimo inevitável a presença de trabalhadores nas empresas existe e manifesta-se sob formas evidentes ou disfarçadas. Proclama-se -- mormente em jantares de Natal e em festas de aniversário de empresa – que “a maior riqueza de uma organização são as pessoas”, mas a receita preferida é “exterminá-las”.

Uma empresa é criada, idealizada e estruturada para produzir, segundo a tecnologia existente, determinados bens ou serviços. Vai-se ao “mercado de trabalho”, põem-se em prática processos mais ou menos sofisticados e longos de recrutamento das pessoas necessárias, nas quantidades e qualidades indicadas pelo desenho da organização e dos processos. Os trabalhadores são submetidos a processos de formação para as funções de que ficarão incumbidos. Abre-se uma teia de relações em que se joga boa parte do destino (profissional, pessoal e familiar) de um número mais ou menos importante de pessoas. Pouco a pouco, forma-se a chamada “cultura da empresa”, estabelecem-se laços de pertença de cada um à organização, pauta-se o ritmo de muitas vidas pelas exigências da laboração e pelos imperativos do mercado. A actividade dá lucros, a organização é eficiente, a produtividade é boa, as encomendas não cessam, os trabalhadores (por muito insatisfeitos que, eventualmente, estejam com os salários e as condições de trabalho) encaram e assumem o nome da empresa como referência central das suas vidas.

Mas isso é só o começo. A gestão “moderna” vive da redução de custos – para suportar a competição sem ver baixar os lucros e, também, sem investir na qualidade e novidade dos produtos nem na melhoria da organização e dos processos utilizados. E porque as empresas não têm nenhum controlo sobre os preços de outros factores – crédito, matérias primas, instalações, energia – , reduzir custos é poupar no pessoal.

É aqui que, verdadeiramente, começa a “vida” da empresa - a fase “dinâmica” do seu processo de amadurecimento, o momento “energético” do seu disparo para o crescimento.

A gente que foi recrutada – à luz de um certo “desenho” da empresa –, e que adquiriu expectativas de ter um “modo de vida” e um lugar de realização profissional, vai agora ser posta perante uma provação brutal, sem perceber por quê. Aparentemente, tudo corria bem – pelo menos aquilo que as pessoas podiam percepcionar e que delas dependia. Pouco interessa. Desígnios elevados e estratégias nunca antes sugeridas tornam “inevitável” a eliminação de “excedentes”, em operações que ora são rotuladas com grosserias (”desengordurar”...) ora se acoitam sob eufemismos anglo-saxónicos.

Dir-se-á que a coisa só é grave porque estamos “mal habituados”. O nossos trabalhadores estariam “instalados” num clima de estabilidade e de “direitos adquiridos”, alimentado por leis laborais fortemente protectoras, pela postura pouco moderna dos sindicatos e pela sombra tutelar do Estado.

Mas a realidade é outra. Um livro recente, já citado nesta coluna (”The Disposable American”, de Louis Uchitelle), descreve, com detalhe, as consequências sociológicas, psicológicas e económicas da prática obsessiva da “gestão por despedimentos” nos Estados Unidos - país onde, até ao início dos anos noventa, dominava ainda a preocupação de promover (também legalmente) a segurança do emprego. E o quadro que se descobre é aterrador.

Mesmo em casos benignos – como a saída por acordo, com boas compensações em dinheiro – , a perda do emprego tem um impacto moral inapagável. Ainda que surja logo novo emprego – o que, nos Estados Unidos, significa muitas vezes baixar de nível de vida – , a marca não desaparece. A perda de auto-estima está consumada. No fundo de cada um, instala-se o sentimento de ter sido rejeitado, considerado incapaz ou menos valioso. Uma parte do potencial que o trabalhador despedido tinha esvai-se no processo. Quer pelo lado da depressão, quer pelo da violência, a saúde mental corre riscos.

Isto, claro, lá longe, nos Estados Unidos
."

António Monteiro Fernandes

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Solicito a V.Exª. Sr. Ministo do Trabalho e Solidariedade Social que seja revisto o direito das Reformas antecipadas em relação á penalização imposta por V.Exª., pois um trabalhador que começou a trabalhar com 16 anos de idade, tendo pois 40 anos de Serviço,não deve ser tão penalizado, pois essa pessoa deu o seu melhor durante esse tempo todo e,agora,querendo a reforma antecipada, por razões de esgotamento e, necessidade de descansar, vê o seu futuro ameaçado devido a ter uma reforma muito pequena e dificilmente terá uma vida digna para dar face ás suas despesas de saúde e de garantia de usufruir do tempo que ainda lhe resta para viver,fazendo agora tudo o que lhe dá prazer e conforto até á sua morte.Imploro a V.Exª. que seja benevolente com este grande problema da Sociedade, pois os idosos deste País, anseiam por ter uma velhice digna.

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

É realmente ridiculo estas atitudes no tempo de Guterres os patroes pre reformaram pessoas com 55 e menos de idade e no tempo de Bagao Felix houve pessoas que se reformaram os que não os fizeram que estao numa idade em que o cansaço é muito pois o stress do trabalho mais a vida familiar não se aguenta mais . Criei 3 filhos sem nunca faltar às vezes trabalhava ao sabado saia às tantas e ainda levava trabalho para casa . Os meus filhos ou ficavam sòzinhos quando estvam doentes ou pedia à minha mae quando ela podia para dar um olhinho e agora sou obrigada a trabalhar mais. Tenho dois filhos 1 com 28 ou com 32 anos formados e desempregados como eles muitos mais e eu condenada a trabalhos forçados. Prefiro matar-me Porque é que o Vieira da Silva não condena à morte todos os que estão na faixa etaria dos 50 e mais e não fica com o dinheiro das refromas para poder dar reformas por imteiro e chorudas aos deputados etc . Faça como o Hiltler seja sério é isso que ele quer é roubar o dinheiro das refromas.Para mim acabou-se o socialismo é pior que a direita de Bagao Felix

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Base para a concretização do tema :Ex:que referem Dinamarca com aplicação positiva foi possível derivado à sua cultura =um governo sólido, uma religião estatal que provoca moralidade e ética nos cidadãos , empresários com conhecimento e sindicatos que apoiam total aos seus sócios em colaboração com as entidades patronais , onde se encontra uma situação igual quer nos 27 quer fora dos 27?? Ordenados aproximados entre diversas categorias .Logo Portugal tem muito que se organizar para implementar esta via uma vez que ainda nos falta muito para lá chegar.

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

...Liberdade para (uns) despedirem... E, para outros (OS DESPEDIDOS!), TRANSFORMAREM ISTO NUM NOVO IRAQUE, VIETNAME, ETC; ETC;... com LIBERDADE PARA ... MATAREM (quem os despedir, claro!). Adivinhem o que vem aí...

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

de facto têm razão, se vamos importar o modelo de flexisegurança dinamarquês, porque não também importar o seu modelo de ordenados? Aliás porque não também importar o governo de lá e exportar para trás do sol posto o governo português?

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

1.Vejam bem o antigo grupo dos Estados da "Coesão"(que beneficiaram do super generoso FUNDO DE COESÃO): uns introduziram grandes reformas e estão bem ( Irlanda e Espanha),outros estão como estão( Grécia e Portugal).Estando,apesar de tudo, a Grécia melhor do que Portugal,segundo os números do EUROSTAT. 2.Os Estados que introduziram a FLEXIGURANçA ( Irlanda,Dinamarca,Austria,Holanda,Espanha) estão muito bem.Os que mantêm a rigidez do seu mercado de trabalho...estão como estão! 3.A AUTOEUROPA demonstrou que Portugal também podia aplicar a FLEXIGURANçA se se quizer aplicá-la ! Não somos piores do que os outros,temos a mesma Dignidade e merecemos viver ao nível da Europa do ano 2007 ! 4.Nem venham com o estafado argumento financeiro : a HOLANDA gastou apenas 100 milhões de euros de despesas sociais adicionais para introduzir a FLEXIGURANçA. E a HOLANDA tem mais população activa, muito melhor nível de vida e melhor qualidade de vida.O dinheiro gasto na bola dava para introduzir reformas a sério em Portugal 5.Se não fizermos as reformas necessárias, veremos fechar uma a uma grande parte das nossas Empresas e os nossos Trabalhadores estarão condenados a salários baixos, reformas de miséria,e a tal "rigidez" não será garantia para ninguém...como o demonstra a evolução do desemprego e sobretudo do desemprego de longa duração, que atinge duramente vários grupos vulneráveis. 6.As pessoas bem informadas sabem o que têm de fazer e como o fazer.Já se perderam décadas ! Só o diálogo social,a negociação colectiva, a participação activa dos Parceiros Sociais no Desenvolvimento e uma forte Vontade Política permitirão que o nosso País entre mesmo num período de franco e visível crescimento, em sintonia com o resto da UE.Vamos TODOS construir o nosso caminho para a Flexisegurança, com equilibrio e transparencia.Não somos menos nem merecemos menos do que os outros Povos !

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

A flexisegurança acenta numa base sustentavel que é a segurança social com estruturas solidas quer a nivel orçamental quer a niverl organizativo Ex. Suecia, Noruega, Finlandia Aqui começam pelo fim a aplicaçao da mesma sem estruturas somos mesmo governados por NABOS E INCOMPETENTES mesmo a nivel da Presidencia da Republica. Por isso um deputado finalnedes disse que o povo portugues está a atravessar os problemas que tem devido aos governantezs que têm tido

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Os governantes em Portugal fazem tudo muito simples. Como nunca são responsabilizados criminalmente pela porcaria quando a fazem, tem sempre muitas ideias em cima do joelho.

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Para que isto seja viavel 1º tem de haver politicos crediveis e honestos coisa que em Portugal não há. 2º Um estado honesto, em Portugal não há.

segunda-feira, julho 09, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Como se vê, é de politicos para politicos. Será que este senhor fo pago com o dinheiro dos nossos impostos, para dar o "pontapé de partida", na Flexisegurança. Acredito que sim. Continuamos a ver, o problema está do lado dos trabalhadores. Quando é que se levanta a "manta" e se põe o nome nos BOIS ? Que tipo de patrões - rasantes - tem o nosso País ?. Mal formados e sempre à espera dos subsidios. Porque razão o senhor Rasmussen, não comparou o tipo de empresários que tem no seu País, com os que existem neste trapo de Portugal? Meus amigos, atrás dum tacho, vem outro. Um exemplo da clara-evidência da politica do tacho. Não se admirem se amanhã um governante for para a Europa dar conferências, sobre o miserabilismo Português. Conversa da treta, o País precisa é de Homens competentes ou Espanha que nos faça uma OPA. Já agora, porque é que este senhor não vai para Espanha, discutir a Flexisegurança?

segunda-feira, julho 09, 2007  

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