quinta-feira, setembro 27, 2007

À ESPERA DO TRAMBOLHÃO

"A luta pela liderança do PSD veio mostrar mais uma vez a confrangedora falta de pensamento político, de ideias e princípios, que afecta a generalidade dos partidos e da classe política portuguesa.

Isto não tem especialmente a ver com os presentes candidatos. Nem é consequência destes dirigentes abstraírem-se das ideias e parecerem concentrar-se nas estratégias ou tácticas de conquista do poder. O que está em causa é a própria genética dos partidos, que nasceram numa conjuntura totalmente distinta da presente - a transição pós-golpe do 25 de Abril para a instauração democrática. Que nem sequer se sabia se vinha...

Os quatro partidos do regime com assento parlamentar significativo - o BE é um fenómeno de marketing político correcto, muito empurrado por simpatias mediáticas - nasceram então no vazio da queda do marcelismo e da vontade pouco esclarecida mas muito poderosa do MFA.

O clima era de "antifascismo" histórico e histérico, se bem que os "brandos costumes" e a paciência serena do povo em relação ao esquerdismo político-militar, o comportamento do PS, o peso dos católicos e o enquadramento externo - Europa, NATO, Guerra Fria - tivessem refreado as piores consequências. E dado esta imagem de "revolução não sangrenta". Pelo menos, não sanguinária.

Daí e neste quadro, saíram os partidos: o PCP era uma seita marxista ortodoxa, liderada por um leninista tipo Outubro que se lançava ao assalto ao poder, à Petrogrado. Só "contida" pela grande estratégia da União Soviética em período de distensão com Washington. Ao seu lado, ou à sua esquerda, pululavam os partidos esquerdistas, entre folclore, fanatismo e paranóia... Mas onde se estrearam, futuros "valores" dos partidos democráticos... O PS era, desde a fundação, e graças ao Dr. Mário Soares, um partido social-democrata, embora tivesse o Sr. Manuel Serra e a sua comandita, com veleidades revolucionárias. Mas Serra saiu de cena e a identidade pró-NATO e anti-comunista do PS cristalizou então. O PSD, que se intitulava "social-democrata" era constituído à partida, pela "ala liberal" do marcelismo, ou seja, por um grupo marcado por uma estratégia de "entrismo", comprometida e emendada a tempo. Mas não tinha, nem parece alguma vez ter querido ter, um pensamento político definido pelos seus dirigentes. Até para não assustar a massa da direita sociológica, católica, patriota, conservadora, da classe média e pequena classe média, que eram os seus votantes, uns convictos, outros por mal menor. E o CDS/ /PP, com alguma suspeição de "inimigo do regime" (votara contra a Constituição de 1976, tão querida de todos os outros partidos do sistema), teria, em termos de ideias, uma vida atribulada - centrista, cristã-democrata, nacional popular, conservadora... Com isto tudo e mais tudo isto, foi mudando à mercê dos líderes e das ocasiões.

Mas não muito nem o suficiente. E o facto de nem o PSD nem o CDS serem capazes de fazer um aggiornamento à direita, semelhante aos dos anos 85-86 e 95-96, condena-os hoje à incapacidade. Sobretudo porque o PS, avançando na matriz social-democrata, que até ultrapassou, se atirou a fazer a política económica possível com um certo realismo. E os partidos à direita do PS, não se atrevendo a ter uma agenda de princípios de direita, deixando-se colonizar intelectualmente por uns migrantes da esquerda festiva convertidos ao mercado, mas com a agenda laica de esquerda, estão condenados a aparecer com um lusco-fusco de ideias confundível com o do PS. E - o que tem sido patético - quando atacam o Governo é pela esquerda...

Não será o tempo de assumirem uma agenda nacional diferenciadora e diferenciada da esquerda? Nas palavras e nos princípios, pelo menos. Ou será esperar muito e vão preferir ficar aí, à espera que Sócrates dê um trambolhão, para reaparecerem, dos escombros, como salvadores?
"

Maria José Nogueira Pinto

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