terça-feira, setembro 04, 2007

Mudar de vida

"Milhares de professores não conseguiram colocação no concurso nacional para preenchimento de necessidades residuais, no próximo ano lectivo. Dos mais de quarenta e sete mil que concorreram, só pouco mais de três mil foram colocados a tempo inteiro. Entre os participantes no concurso, cerca de vinte mil professores estiveram contratados no ano lectivo anterior. O sistema de ensino público, de acordo com estimativas sindicais, perderá entre dezasseis mil a vinte e três mil professores, num prazo de três anos.

Há quem fale, como sempre, em irregularidades no concurso. Se há indícios, investiguem-se. Mas imagino que as alegadas irregularidades não transformariam três mil professores contratados a tempo inteiro em trinta mil.

O que se passa é que o País continua a precisar de excelentes professores, mas não precisa de tantos professores. A escolaridade até tem aumentado, mas é conhecida a forte quebra da natalidade. Não é razoável esperar que enquanto os alunos diminuem a olhos vistos, o número de professores se mantenha ou aumente.

A pouco e pouco, vamos saboreando o lado mais amargo da sociedade que temos criado.

Portugal continua a ter um elevado número de pobres, cerca de 20% da população. Mas há um significativo número de portugueses que passou a ter acesso, cada vez a mais bens e serviços: a concessão de crédito explodiu e as famílias multiplicaram o endividamento.

Ter filhos foi uma prioridade que perdeu terreno para o chamado bem-estar, traduzido no carro, na casa, nas viagens, nos telemóveis e noutros objectivos alguns deles, puros caprichos transformados em necessidades básicas ou mesmo promovidos a projectos de vida.

A cultura e a indústria dominantes ensinam-nos, a todo o custo, a prevenir o número de filhos e a reduzir os nascimentos. Pela negativa. Simultaneamente, os padrões de vida transmitidos às novas gerações apontam no mesmo sentido: optimizar todos os meios que permitem uma sexualidade irresponsável. É raro ver a abordagem contrária: como promover responsavelmente o aumento da natalidade?

Enlevados com o presente, custa-nos acordar para a realidade. De repente, o óbvio torna-se evidente: o individualismo galopante não gera sociedades mais solidárias. As opções assumidas como puramente individuais, acabam por produzir consequências sociais.

Enquanto se mantiver neste estado, Portugal não terá mais escolas, mais professores, mais hospitais ou melhores reformas.

As elites nacionais têm responsabilidades na situação a que se chegou, mas não há manifestações, sindicatos, partidos, ministérios, governos ou presidentes que possam mudar Portugal, sem os portugueses mudarem de vida
."

José Luís Ramos Pinheiro

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quem emigra é jovem. Por isso nas grandes comunidades de Portugueses pelo mundo. O que lá não faltam são jovens filhos de emigrantes portugueses. Mas o que faltam são professores de Português que até ao dia 04.09.07 ainda não se sabe quando o ensino de português vai começar. Deve ser dificil escolher 2 professores entre 600 candidatos? Institude Luís de Camões para que serves?

quarta-feira, setembro 05, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Pobre Nação esquecida. Enquanto houver governantes que só olham para a sua conta bancária, ignoram o seu povo, que não percebem que sem vida não haverá uma "poderosa" descendência, podem dizer adeus a Portugal.

quarta-feira, setembro 05, 2007  

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