quarta-feira, setembro 12, 2007

Os endividados

"Não se pode criar um ‘subsídio’ para ajudar quem contraiu empréstimos. É infantilizar os cidadãos.

Em finais de Agosto o presidente dos Estados Unidos apresentou um conjunto de medidas para ajudar as famílias abaladas pela subida das taxas de juro a manterem as casas que compraram. Dias mais tarde, em Portugal, o líder do PP Paulo Portas desafiou o Governo a tomar iniciativas para ajudar os portugueses endividados. E há dois dias foi a vez de Francisco Louçã, do Bloco de Esquerda, avançar com o mesmo tipo de proposta para os desempregados.

Devem os governos apoiar as famílias com dificuldades em pagar os créditos à habitação? Sei que é de uma frieza que se aproxima da desumanidade mas a resposta é não. Incentiva a irresponsabilidade, infantiliza os cidadãos. A mensagem subjacente é que podem fazer todas as asneiras que depois lá está o “paizinho” Estado para resolver.

É muito diferente do estado social, em que se apoia os cidadãos na velhice, na doença e no desemprego, numa espécie de seguro social. Então significa que é o modelo de Francisco Louça que está correcto? Não de todo. Já existe o subsídio de desemprego para apoiar quem está desempregado. Não se pode criar um “subsídio” para ajudar quem contraiu empréstimos. É abrir uma Caixa de Pandora.

A explicação que encontro para a iniciativa da administração Bush, surpreendente dado o seu perfil liberal, é um pouco, digamos, cínica. Ou, de forma mais intelectual, as famílias em dificuldades, por serem muitas, geraram uma externalidade negativa, sendo os ganhos globais de as ajudar – evitar uma crise financeira e económica – superior às perdas.

Apesar de George W. Bush ter garantido que não vai salvar os especuladores imobiliários, estes, tal como os bancos apanhados pela crise da ‘sub-prime’, vão ganhar com este apoio às famílias. Duvido que uma iniciativa destas fosse tomada se o problema estivesse mais limitado.

A abordagem do presidente da Reserva Federal Bem Bernanke, ainda que peque por tardia, é a mais racional. Bernanke afirmou que a Fed vai regular as práticas predatórias no mercado do crédito hipotecário. Esta é, de forma limitada, a perspectiva que o governador do Banco de Portugal está a seguir e pode reforçar com as novas competências na supervisão comportamental.

Há um erro que todas as autoridades e governos cometeram. Nos bons tempos deixaram a banca ir longe de mais. “Dar o peixe” infantiliza os cidadãos. Dar canas de pesca defeituosas que apanham peixes que nos envenenam mais cedo ou mais tarde é um crime do Estado. O excesso de liberdade é selvajaria. E foi isso que se foi permitindo. O que assumiu proporções mais graves num país como Portugal, onde a iliteracia financeira é elevada. Mas nesses tempos não ouvimos nenhum partido político fazer alertas
."

Helena Garrido

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A Espanha acaba de rejeitar ,pela maioria socialista,uma proposta do PP para congelar acções contra desempregados(eles são muito bonzinhos,quando na oposição..).Só me surpreende que termine o artigo sem uma referencia ao Banco de Portugal.Eu sei que é gente atarefada,mas não lhes competia supervisionar o modo como o crédito é atribuido.Queremos um mercado mais do tipo CGD ou, das credíticias "online" para decisão na hora?..

quarta-feira, setembro 12, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Só que, se esquece ou não quer recordar, por exemplo que os funcionários públicos que tinham um contrato com o seu patrão (O Estado, pessoa de bem...)quando organizaram a sua vida e pediam emprestimos para compra de habitação desconheciam que o Estado (pessoa de bem para quem trabalham) lhes iria cortar o que com eles contratualizou... Será que isso aconteceu também com os bancários que têm relações priviligiadas com a banca em termos de empréstimos que lhe permite juros inferiores aos praticados no mercado? Não me parece, tanto quanto sei! Pergunto-lhe: Como se pode organizar a "vida" quando se mudam as regras do jogo a meio do campeonato? Sugiro que investigue melhor e que associe a sua frieza a cada caso! Concordo consigo nos casos de dívidas imponderadas. Uma coisa é alguém endividar-se sem ter a possibilidade de o fazer, outra é alguém ficar desprovido BRUSCAMENTE, de uma progressão na carreira que lhe permitia planear as dívidas contraídas! Espero que não esteja na lista dos "prejudicados". A inveja é coisa que desprezo!...

quarta-feira, setembro 12, 2007  
Blogger Three Of Five said...

De facto adquirir uma habitação é um acto infantil, essa senhora Helena deve viver debaixo da ponte, ou numa tenda para dizer essas barbaridades. Geralmente só quem tem o rabinho bem assente é que se dá ao luxo de dizer asneiras deste tipo. Depois da destruição do mercado de arrendamento, a alternativa foi a aquisição, e como todos os cidadãos tem direito a ter uma vida digna, debaixo de um tecto, adquiriram o que podiam na altura em que precisavam, ou era necessário um curso para adquirir uma habitação? Essa senhora com esse discurso neo-liberal esquece-se de que está a falar de seres humanos e o que nos diferencia dos animais é essa capacidade de vivência em sociedade em ajuda mútua, pelo menos era assim. Esta nova geração de selvagens neo-liberais defende a sobrevivência do mais forte mas esquece-se que mesmo esse princípio tem regras e que o que defendem é a anarquia total.

segunda-feira, setembro 17, 2007  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!