As Cinzas da Fénix
"Menezes é, na ambição e no nervoso miudinho mal contido, uma espécie de clone de Portas, menos prudente nas palavras e mais mal vestido.
Com as directas do dia 28 Marques Mendes terminou um percurso penoso. De invulgar solidão. Nunca um líder partidário foi tão ostensivamente descartável. E só por milagre escapou a que o seu martírio e agonia durassem mais alguns anos. Na verdade, ninguém o desejava vencedor das próximas legislativas. Havia um razoável grupo de barões à espera da deixa, que se enganaram redondamente no tempo de entrada. Mendes com a sua seriedade, bem reflectida na limpeza que fez no partido, estava a mais na política que hoje por cá se faz que é feita à medida de arrivistas, oportunistas, hipócritas e malabaristas da palavra fácil. Que é o que hoje está a dar. A sua derrota não foi surpresa para ninguém. Nem para os que hipocritamente o davam como vencedor. Surpresa foi que ela resultasse de um confronto com um adversário tão óbvio. Tão previsível. Tão obcecado com o poder. Tão odiado pelos barões cavaquistas. Tão igual ao que já tantas vezes tivemos, sem que nada aprendêssemos.
Vai o novo líder fazer renascer das próprias cinzas o defunto PSD? Ninguém o sabe. Porque tudo na nossa política é imprevisível e neste país tudo é possível. O que sabemos é que na própria noite da eleição começou a conspiração dos (já desavindos) barões sulistas, que Menezes conhece bem de mais para que possa ser surpreendido. E sabemos também que Menezes não é Santana nem Mendes e lhes vai dar dura luta. Pela sua ambição e pelo seu genuíno apetite (e gozo) pelo combate. Por mais gratuito que ele seja. Menezes é, na ambição e no nervoso miudinho mal contido, uma espécie de clone de Portas, menos prudente nas palavras e mais mal vestido. E, na oratória e nos tiques telegénicos, uma imitação rasca de Santana. Mas Menezes não parece o homem capaz de fazer o tipo de oposição de que o País precisa. Tem bons trunfos. Tem o poder no partido. Tem um Governo que mete água por todos os lados para desmascarar e combater. Mas o seu poder é incipiente e enganador. A nível nacional continua a ser um 2.º plano. O verdadeiro poder não é seu. É de Sócrates. Que pode, como até agora, continuar a reduzir-lhe o espaço em que terá de se movimentar, como já o fez, com pleno êxito, a Mendes. Sócrates é um exímio predador de programas políticos e de ideias.
A sua mais visível característica como primeiro-ministro é a capacidade de esvaziar os programas da oposição, dita social-democrata, executando-os como se fossem seus. A que acrescenta uma invulgar capacidade de esquiva. O modo como, na hora da verdade, se põe a jeito para evitar ou minimizar danos. De que a forma como se tem vindo a relacionar com o PR é o exemplo mais flagrante. E Sócrates tem mais um precioso trunfo. Entre ele e Menezes o coração de Cavaco nunca hesitará. Depois vem o mais importante. Só um Governo de grande qualidade pode potenciar o aparecimento de uma oposição de grande qualidade também. Cada Governo tem as oposições que merece. Podemos, pois, fazer uma ideia do que nos espera.
PS – Não posso deixar de fazer uma referência muito pessoal ao modo tão ética e deontologicamente reprovável como Menezes utilizou as páginas do CM para fazer uma propaganda constante, descarada, desenfreada e imoral de si próprio. Congratulo-me com o facto de, embora tardiamente, ter compreendido a gravidade do seu comportamento."
João Marques dos Santos
Com as directas do dia 28 Marques Mendes terminou um percurso penoso. De invulgar solidão. Nunca um líder partidário foi tão ostensivamente descartável. E só por milagre escapou a que o seu martírio e agonia durassem mais alguns anos. Na verdade, ninguém o desejava vencedor das próximas legislativas. Havia um razoável grupo de barões à espera da deixa, que se enganaram redondamente no tempo de entrada. Mendes com a sua seriedade, bem reflectida na limpeza que fez no partido, estava a mais na política que hoje por cá se faz que é feita à medida de arrivistas, oportunistas, hipócritas e malabaristas da palavra fácil. Que é o que hoje está a dar. A sua derrota não foi surpresa para ninguém. Nem para os que hipocritamente o davam como vencedor. Surpresa foi que ela resultasse de um confronto com um adversário tão óbvio. Tão previsível. Tão obcecado com o poder. Tão odiado pelos barões cavaquistas. Tão igual ao que já tantas vezes tivemos, sem que nada aprendêssemos.
Vai o novo líder fazer renascer das próprias cinzas o defunto PSD? Ninguém o sabe. Porque tudo na nossa política é imprevisível e neste país tudo é possível. O que sabemos é que na própria noite da eleição começou a conspiração dos (já desavindos) barões sulistas, que Menezes conhece bem de mais para que possa ser surpreendido. E sabemos também que Menezes não é Santana nem Mendes e lhes vai dar dura luta. Pela sua ambição e pelo seu genuíno apetite (e gozo) pelo combate. Por mais gratuito que ele seja. Menezes é, na ambição e no nervoso miudinho mal contido, uma espécie de clone de Portas, menos prudente nas palavras e mais mal vestido. E, na oratória e nos tiques telegénicos, uma imitação rasca de Santana. Mas Menezes não parece o homem capaz de fazer o tipo de oposição de que o País precisa. Tem bons trunfos. Tem o poder no partido. Tem um Governo que mete água por todos os lados para desmascarar e combater. Mas o seu poder é incipiente e enganador. A nível nacional continua a ser um 2.º plano. O verdadeiro poder não é seu. É de Sócrates. Que pode, como até agora, continuar a reduzir-lhe o espaço em que terá de se movimentar, como já o fez, com pleno êxito, a Mendes. Sócrates é um exímio predador de programas políticos e de ideias.
A sua mais visível característica como primeiro-ministro é a capacidade de esvaziar os programas da oposição, dita social-democrata, executando-os como se fossem seus. A que acrescenta uma invulgar capacidade de esquiva. O modo como, na hora da verdade, se põe a jeito para evitar ou minimizar danos. De que a forma como se tem vindo a relacionar com o PR é o exemplo mais flagrante. E Sócrates tem mais um precioso trunfo. Entre ele e Menezes o coração de Cavaco nunca hesitará. Depois vem o mais importante. Só um Governo de grande qualidade pode potenciar o aparecimento de uma oposição de grande qualidade também. Cada Governo tem as oposições que merece. Podemos, pois, fazer uma ideia do que nos espera.
PS – Não posso deixar de fazer uma referência muito pessoal ao modo tão ética e deontologicamente reprovável como Menezes utilizou as páginas do CM para fazer uma propaganda constante, descarada, desenfreada e imoral de si próprio. Congratulo-me com o facto de, embora tardiamente, ter compreendido a gravidade do seu comportamento."
João Marques dos Santos
Etiquetas: porque é que a política é cada vez mais interessante.
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