sexta-feira, outubro 05, 2007

As Cinzas da Fénix

"Menezes é, na ambição e no nervoso miudinho mal contido, uma espécie de clone de Portas, menos prudente nas palavras e mais mal vestido.

Com as directas do dia 28 Marques Mendes terminou um percurso penoso. De invulgar solidão. Nunca um líder partidário foi tão ostensivamente descartável. E só por milagre escapou a que o seu martírio e agonia durassem mais alguns anos. Na verdade, ninguém o desejava vencedor das próximas legislativas. Havia um razoável grupo de barões à espera da deixa, que se enganaram redondamente no tempo de entrada. Mendes com a sua seriedade, bem reflectida na limpeza que fez no partido, estava a mais na política que hoje por cá se faz que é feita à medida de arrivistas, oportunistas, hipócritas e malabaristas da palavra fácil. Que é o que hoje está a dar. A sua derrota não foi surpresa para ninguém. Nem para os que hipocritamente o davam como vencedor. Surpresa foi que ela resultasse de um confronto com um adversário tão óbvio. Tão previsível. Tão obcecado com o poder. Tão odiado pelos barões cavaquistas. Tão igual ao que já tantas vezes tivemos, sem que nada aprendêssemos.

Vai o novo líder fazer renascer das próprias cinzas o defunto PSD? Ninguém o sabe. Porque tudo na nossa política é imprevisível e neste país tudo é possível. O que sabemos é que na própria noite da eleição começou a conspiração dos (já desavindos) barões sulistas, que Menezes conhece bem de mais para que possa ser surpreendido. E sabemos também que Menezes não é Santana nem Mendes e lhes vai dar dura luta. Pela sua ambição e pelo seu genuíno apetite (e gozo) pelo combate. Por mais gratuito que ele seja. Menezes é, na ambição e no nervoso miudinho mal contido, uma espécie de clone de Portas, menos prudente nas palavras e mais mal vestido. E, na oratória e nos tiques telegénicos, uma imitação rasca de Santana. Mas Menezes não parece o homem capaz de fazer o tipo de oposição de que o País precisa. Tem bons trunfos. Tem o poder no partido. Tem um Governo que mete água por todos os lados para desmascarar e combater. Mas o seu poder é incipiente e enganador. A nível nacional continua a ser um 2.º plano. O verdadeiro poder não é seu. É de Sócrates. Que pode, como até agora, continuar a reduzir-lhe o espaço em que terá de se movimentar, como já o fez, com pleno êxito, a Mendes. Sócrates é um exímio predador de programas políticos e de ideias.

A sua mais visível característica como primeiro-ministro é a capacidade de esvaziar os programas da oposição, dita social-democrata, executando-os como se fossem seus. A que acrescenta uma invulgar capacidade de esquiva. O modo como, na hora da verdade, se põe a jeito para evitar ou minimizar danos. De que a forma como se tem vindo a relacionar com o PR é o exemplo mais flagrante. E Sócrates tem mais um precioso trunfo. Entre ele e Menezes o coração de Cavaco nunca hesitará. Depois vem o mais importante. Só um Governo de grande qualidade pode potenciar o aparecimento de uma oposição de grande qualidade também. Cada Governo tem as oposições que merece. Podemos, pois, fazer uma ideia do que nos espera.

PS – Não posso deixar de fazer uma referência muito pessoal ao modo tão ética e deontologicamente reprovável como Menezes utilizou as páginas do CM para fazer uma propaganda constante, descarada, desenfreada e imoral de si próprio. Congratulo-me com o facto de, embora tardiamente, ter compreendido a gravidade do seu comportamento
."

João Marques dos Santos

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