HIPOCRISIA OCIDENTAL, DE FACTO
"Vagamente inspirados pela canção "colonialista" de Noel Coward, onde pousavam o uísque e caíam para o lado ao meio-dia, na Rangum actual os protestos dos nativos consistem em apagar as luzes e a televisão à hora do noticiário. O Governo local treme. Por sorte, o Ocidente não está para brincadeiras e ataca a ditadura birmanesa com vigílias. As vigílias, sim, dão que pensar.
Pensar, por exemplo, na quantidade de gente solidária com a Birmânia que não sabe onde fica a Birmânia, qual a sua capital, duas ou três banalidades sobre a respectiva História, os propósitos dos insurgentes, os actos e as políticas da junta militar que manda naquilo. Não será improvável que muitos dos que, deste lado, arriscam 30 minutos das suas vidas em nome do amor ao próximo (próximo é força de expressão) terão, no máximo, a vaga ideia de que a Birmânia é uma ditadura má, contestada por monges bons e por uma senhora bonita que vive entre a prisão e as t-shirts do cançonetista dos U2.
Esta pressa em apanhar a "causa" do momento provoca equívocos bizarros e, se tivermos um gosto perverso, divertidos. Limitando-me à pequena vigília de Lisboa, acho engraçado que criaturas laicas defendam a santidade da elite budista e o seu direito "natural" a intervir no poder. Ou que esquerdistas encartados berrem hoje contra um regime atroz e socialista há décadas.
Há, admito, quem não ache, mas esses também podem desligar a televisão durante o noticiário. "
Alberto Gonçalves
Pensar, por exemplo, na quantidade de gente solidária com a Birmânia que não sabe onde fica a Birmânia, qual a sua capital, duas ou três banalidades sobre a respectiva História, os propósitos dos insurgentes, os actos e as políticas da junta militar que manda naquilo. Não será improvável que muitos dos que, deste lado, arriscam 30 minutos das suas vidas em nome do amor ao próximo (próximo é força de expressão) terão, no máximo, a vaga ideia de que a Birmânia é uma ditadura má, contestada por monges bons e por uma senhora bonita que vive entre a prisão e as t-shirts do cançonetista dos U2.
Esta pressa em apanhar a "causa" do momento provoca equívocos bizarros e, se tivermos um gosto perverso, divertidos. Limitando-me à pequena vigília de Lisboa, acho engraçado que criaturas laicas defendam a santidade da elite budista e o seu direito "natural" a intervir no poder. Ou que esquerdistas encartados berrem hoje contra um regime atroz e socialista há décadas.
Há, admito, quem não ache, mas esses também podem desligar a televisão durante o noticiário. "
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