Os números
"Números. Nada agita mais economistas, gestores e políticos do que números. Os jornalistas adoram números. Até os sociólogos se converteram às análises quantitativas e mesmo na profissão jurídica há quem se tenha rendido completamente à magia dos números (e não estou a falar de honorários cobrados).
Enquanto isto sucede, continuamos a ouvir lamentos sobre a difícil convivência entre os alunos portugueses e a matemática, da qual fogem como o diabo da cruz. E mais uma vez os (neste caso, malditos) números se intrometem baixíssimas médias nos exames internos, péssimas classificações nas comparações internacionais. Como para grandes males, pequenos remédios, uns exames mais fáceis produziram o milagre de elevar, passando a positiva, a média da prova nacional de matemática do 12º ano. Autêntico ovo de Colombo que permitiu preencher todos as vagas dos cursos, nomeadamente das áreas tecnológicas, que exigiam positiva a matemática. Convenientemente, aumentou o número de alunos do ensino superior público, eventualmente justificando algum crescimento na dotação orçamental, e fazendo soar o toque de finados nos estabelecimentos de ensino privado que viviam de promover cursos sem o pré-requisito da matemática.
A inovação ainda não chegou, porém, ao 9º ano. A fazer fé nas notícias publicadas, as notas dos testes internos foram baixíssimas, mais ou menos em linha com as que tinham sido obtidas, em anos anteriores, nas provas nacionais do 12º ano!
Para ser justo, não se pode excluir a hipótese de os exames actuais serem hoje mais adequados enquanto instrumentos de aferição de conhecimentos. O percurso que os alunos este ano admitidos no ensino superior vierem ter, a sua taxa de aprovação ou reprovação, será o teste ácido desta política. Oxalá seja mesmo verdade que foi a preparação que melhorou. E, nesse caso, erija-se um monumento aos professores dos 10º, 11º e 12º anos que conseguem valorizar matéria-prima tão fraca!
Haja esperança. Entretanto, por mais uns anos, continuaremos a conviver com esta dicotomia do fascínio pelos números e a total incapacidade para os tratar adequadamente. Exemplos? Desde logo, os famigerados rankings de estabelecimentos do ensino secundário. Por opção ideológica ou, quiçá, consciente daquela debilidade, o Ministério da tutela começou por resistir a fornecer os elementos necessários. Quando constatou a forma como os mesmos eram (mal) tratados fez o óbvio disponibilizou os dados em bruto, deixando aos meios de comunicação social a tarefa de, ao publicitá-los, os desacreditar. Ao fim de meia dúzia de anos, a publicação dos rankings passou a ser um "fait-divers", com ordenações para todos os gostos. E assim se desvirtuou uma iniciativa que, conquanto discutível, teria mais méritos que deméritos desde que executada com seriedade e rigor técnicos.
Nas análises quantitativas não há reciclagem possível. Se entra lixo, sai lixo. Se os dados são maus, se os inquéritos que lhes estão na base são equívocos ou mal administrados, os resultados serão precários ou mesmo errados. Mesmo que produzam, ou sobretudo se produzirem, títulos bombásticos, em especial em áreas polémicas. O cepticismo é um bom princípio para distinguir gato de lebre. Não se confunda competência com bem falar, nem resultados inovadores com "soundbites". A incompetência e o oportunismo são a melhor forma de promover o relativismo e de destruir a utilidade das análises quantitativas para o avanço do conhecimento."
Alberto Castro
Enquanto isto sucede, continuamos a ouvir lamentos sobre a difícil convivência entre os alunos portugueses e a matemática, da qual fogem como o diabo da cruz. E mais uma vez os (neste caso, malditos) números se intrometem baixíssimas médias nos exames internos, péssimas classificações nas comparações internacionais. Como para grandes males, pequenos remédios, uns exames mais fáceis produziram o milagre de elevar, passando a positiva, a média da prova nacional de matemática do 12º ano. Autêntico ovo de Colombo que permitiu preencher todos as vagas dos cursos, nomeadamente das áreas tecnológicas, que exigiam positiva a matemática. Convenientemente, aumentou o número de alunos do ensino superior público, eventualmente justificando algum crescimento na dotação orçamental, e fazendo soar o toque de finados nos estabelecimentos de ensino privado que viviam de promover cursos sem o pré-requisito da matemática.
A inovação ainda não chegou, porém, ao 9º ano. A fazer fé nas notícias publicadas, as notas dos testes internos foram baixíssimas, mais ou menos em linha com as que tinham sido obtidas, em anos anteriores, nas provas nacionais do 12º ano!
Para ser justo, não se pode excluir a hipótese de os exames actuais serem hoje mais adequados enquanto instrumentos de aferição de conhecimentos. O percurso que os alunos este ano admitidos no ensino superior vierem ter, a sua taxa de aprovação ou reprovação, será o teste ácido desta política. Oxalá seja mesmo verdade que foi a preparação que melhorou. E, nesse caso, erija-se um monumento aos professores dos 10º, 11º e 12º anos que conseguem valorizar matéria-prima tão fraca!
Haja esperança. Entretanto, por mais uns anos, continuaremos a conviver com esta dicotomia do fascínio pelos números e a total incapacidade para os tratar adequadamente. Exemplos? Desde logo, os famigerados rankings de estabelecimentos do ensino secundário. Por opção ideológica ou, quiçá, consciente daquela debilidade, o Ministério da tutela começou por resistir a fornecer os elementos necessários. Quando constatou a forma como os mesmos eram (mal) tratados fez o óbvio disponibilizou os dados em bruto, deixando aos meios de comunicação social a tarefa de, ao publicitá-los, os desacreditar. Ao fim de meia dúzia de anos, a publicação dos rankings passou a ser um "fait-divers", com ordenações para todos os gostos. E assim se desvirtuou uma iniciativa que, conquanto discutível, teria mais méritos que deméritos desde que executada com seriedade e rigor técnicos.
Nas análises quantitativas não há reciclagem possível. Se entra lixo, sai lixo. Se os dados são maus, se os inquéritos que lhes estão na base são equívocos ou mal administrados, os resultados serão precários ou mesmo errados. Mesmo que produzam, ou sobretudo se produzirem, títulos bombásticos, em especial em áreas polémicas. O cepticismo é um bom princípio para distinguir gato de lebre. Não se confunda competência com bem falar, nem resultados inovadores com "soundbites". A incompetência e o oportunismo são a melhor forma de promover o relativismo e de destruir a utilidade das análises quantitativas para o avanço do conhecimento."
Alberto Castro
Etiquetas: No reino do politicamente correcto.
15 Comments:
Como podem continuar acreditar num governo dirigido por um individuo que vem a público falar que existe mais sucesso escolar quando esse mesmo individuo não é verdadeiro em relação às suas proprias habilitações literárias.
A impressão que dá é que o nosso PM quer fazer as pessoas mais burras do que o que são e como tal voltarem ao tempo da velha senhora onde a unica coisa que interessava era apostar nos 3 F's (Fatima, futebol e fado) em detrimento da boa formação profissional. É mais facil enganar um burro do que alguém que pense.
É claro que houve «Mais alunos e mais sucesso». E o caso mais relevante foi a licenciatura em engenharia conseguida pelo 1º ministro numa faculdade que o seu próprio ministro fechou por declarada falta dfe qualidade e ter conseguido o diploma do curso de INGLÊS com uma folha A4 e num dia.
Parabéns Socrates.
Estes números são resultados das passagens de ano practicamente administrativas que esta ministra impõe nas escolas.
É prova da medíocridade de uma pessoa estar contente de aumentar a aprovação dos alunos quando isso foi efectuado não pelo nível de conhecimentos dos alunos mas sim por decreto.
Será que na próxima época de exames vai ser possível entregar a prova por fax?
Sucesso? Onde? Sr Primeiro Ministro, vá aos corredores das escolas e oiça a linguagem dos seus alunos de sucesso! Sugiro que antes peça à policia segura para fazer uma pequena investigação, não vá o diabo tecê-las! É só empurrões, "alhos" e gritaria. Vá a um restaurante e pessa para ser atendido por um aluno CEF e tenha cuidado não vá vomitar tal é a má educação dos seus alunos de sucesso. Entregue o seu jardim a um aluno CEF e vai ver que até o cão tosquiam com a máquina da relva tal foi a aprendizagem nas aulas com os auscultadores a debitarem boa música! Porque será que é diferente na Finlândia Sr. primeiro ministro? Acorde enquanto é tempo!!!
Cada intervenção do nosso 1º e da ministra da deseducação me transporta para um país desconhecido onde tudo é uma maravilha. Um país no topo da Europa. É uma vergonha que o nosso jornalismo não tenha uma política de investigação e estude o modo como se chega a estas estatisticas. Facilitismo, entrega de certificações sem ter obtido novas aprendizagens e organização de cursos de formação para benefício dos mesmos de sempre. Depois há os fazedores da opinião pública que apoiam o governo nas suas medidas restritivas mas para isso são pagos a peso de ouro. Concluindo a educação está mal porque formou os políticos que temos....
Boa tarde,
este Ministro está de mal a pior. Acredito sim nas estatisticas, mas na prática não se verifica nada disso. Com a simplificação que a Ministra da Educação quer implementar (exames de ingresso muitíssimo simplificadas, programas muitíssimo simplificados, entrada nas Universidades pela porta do cavalo ou sem provas de ingresso ou,com notas muitíssimo baixas), acredito que daqui por meia década o insucesso vai desaparecer. Porém, continuam a sair na prática analfabetos !!! E já agora, com com estes resultados, podem passar a escolaridade obrigatória para o 12º. Força governo, que vamos colher isto tudo um dia mais tarde e, não melhorar como querem fazer ver.
Bem haja a todos os que se esforçam e que não precisam de milagres para subir nas estatisticas.
A eliminação dos exames, as passagens automáticas, a perseguição aos professores está a criar uma geração de incompetentes e incapazes. A degradação da exigência e nível de ensino está a ser mascarada com falsas aprovações que aoenas servem para criar estatísticas favoráveis. A manipulaçãos dos números é escandalosa e independentemente das aldrabices que o governo possa fazer, o nível de competência e kniw-how está a diminuir a olhos vistos. Um horda de incompetentes emerge ninguém conseguirá medir as consequências para o futuro deste país! O nível de QI está-se a reduzir dramáticamente.
Tenho 40 anos e no tempo em que era estudante chumbava-se. Chumbei 3 anos, merecidos porque não sabia, não estudava, chumbava. Mas agora acho que vou exigir os três anos que perdi, o dinheiro em triplicado que os meus pais gastaram, a este sr que diz que é engº.
Chumbar nunca fez mal a ninguém, antes pelo contrário, se não se sabe não se pode andar para a frente, tem que se repetir, para se aprender.
Mas nos dias que correm o que interessa é o sucesso escolar, seja à custa do que for. Alunos que não sabem e passam, pouca exigência, faltas as aulas. Tudo passa minha gente. O problema é quando tiverem que trabalhar e não souberem nada vão para o olho da RUA ,que as empresas não são a santa casa da misericórdia.
Qual é o espanto?
Com alunos que não chumbam por faltas, que em vez de chumbarem anos são colocados em turmas especiais de recuperação (criadas especialmente para o efeito), tipo faz 2 ou 3 anos em apenas um, máximo 2...Não admira
Aliás, pena tenho de ter queimado pestanas, os meus pais dinheiro, porque agora fazia o 12º ano num ano só, nestas recém criadas novas oportunidades até tinha direito a computador.E no ensino superior fazia uma licenciatura em 3 anos ao invés de 5.
Já não falando no facto de fazer exames nacionais cheios de erros ortográficos e passar, com direito a prontuário para as palavras básicas mas eruditas tão desconhecidas desta nova geração, pois não são escritas com k's e x's.
Na Universidade concluía o curso continuando a não saber escrever português e sem bases de racicíonio porque é só facilidades.
Viva este facilitismo, pois vale tudo para deixarmos de ser, estatisticamente, um país de analfabetos, pena que na prática nada mude, pelo contrário passam a ter escolaridade e continuam com as mesmas dificuldades básicas na compreensão e na escrita.
Pois,assim não é dificil.
Oferecem o 9º ano, aos alunos. Depois vem as novas oportunidades, junta-se um CRVCC e resultado final o 9º ano ao fim de dois meses. Quem é bom, quem é?
Depois já que acabaram o 9º ano em dois meses, vamos aliciar estes alunos a fazer o secundário em pouco mais de 6 meses. E para acabar vamos trazer mais pessoas para aprender e vamos dar-lhes um computador portatil, que tal?
Assim, sim, combatemos o insucesso escolar. Qual pais de analfabetos, qual quê. Quando tal somos todos licenciados e nem sabemos, ah pois é. Porque nós vivemos de estatisticas e são estas que interessam para os nossos governantes.
Viva o Socrates.
ahhahaahahahha, deixa-me rir.
estes tipos são mesmo idiotas, sucesso escolar com alunos cada vez mais burros e uma geração de jovens estúpidos. Gasta-se dinheiro em salários? Gastem-no em laboratórios e livros que as escolas bem precisam.
Qual não foi o meu espanto quando a minha filha chegou a casa feliz da vida porque lhe tinham dado uma carrada de sites de jogos, coisa que em casa não lhe permito, pelo monitor dos tempos das areas projecto.
Todos temos a consciência que estes resultados são falsos, nem os dirigentes do Ministério são competentes, nem os professores estão motivados, nem os pais estão interessados. Estes resultados aparecem por um abaixamento de exigência e for um facilitismo que melhora estatisticas e nunca o pais.
O facilitismo resulta do modelo em que Sócrates "fez" a sua "licenciatura", sem estudar, nem por lá os pés.
As facilidades não ajudam ninguém, nem os próprios, pois se todos conseguem o mesmo sem esforço, quando procuram emprego nada os distingue, ..., talvez uma cunha!!! Que é os sistema antigo.
Pensavamos que se pretendia encontrar os melhores.
ASSIM NÃO VAMOS A LADO NENHUM.
A razão do insucesso baixar e do sucesso não aumentar é simples: os professores não podem chumbar os alunos! Eles já não chumbam por faltas e qdo um professor os quer chumbar tem de justificar mto bem... e por vezes o chumbo não é aceite e ele passa. Assim o insucesso baixa... mas o sucesso não aumenta!
O Ministério ameaça os professores para que não reprovem alunos, caso contrário são avaliados negativamente e depois acham que há sucesso.
coitados dos professores... O sucesso é fictício. E agora proibem os meninos de chumbar por faltas. lindo...
É uma maravilha! eEstá tudo a 100%. Na educação não há falhas, a economia é a melhor da Europa e até do mundo, o número de desempregados é muito baixo, cerca de 100, não há roubos, assaltos, crimes, os preços das casas e carros são baixissímas... é um paraiso que nos querem impingir diáriamente!!! é demais!
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