Faltam dois anos
"A dois anos das eleições legislativas, o bafio parece instalar-se lentamente no país.
Surgem novas notícias sobre possíveis abusos sexuais na Casa Pia. Publicam-se relatórios sobre pontes que ameaçam ruir. A RTP volta ao barulho do costume. O procurador-geral da República diz-se escutado e lança o pânico. Os juízes e magistrados do Ministério Público garantem que o Código de Processo Penal converterá o país num antro de criminosos à solta. Paulo Portas fotocopia documentos do Estado e continua por aí de fatinho janota. Santana volta à ribalta: sem substância, mas cheio de pose. Menezes é Menezes. O aeroporto da Ota não ata nem desata. Os lóbis salivam. O desastre económico (para o país) do TGV continua silenciosamente a alta velocidade. A administração pública agita-se e exige. José Sócrates acerta e falha, mas não encontra o delicado equilíbrio entre a capacidade de decisão – que tem –, e o autoritarismo, que cultiva. Finalmente, a economia mexe-se, mas ainda devagar, e o Governo não explica que precisa de mais tempo e de mais sacrifícios para apresentar resultados. No fundo, adia o choque com a realidade.
Os portugueses têm um problema de expectativas: têm-nas demasiado altas, mas não se esforçam para as atingir. Há muito anos que é assim. Somos pobres, pouco qualificados, pouco produtivos, pouco dinâmicos e absolutamente dependentes de um Estado falido, improdutivo e gastador. No entanto, dizer a verdade nunca ajudou a ganhar eleições. E os portugueses gostam de facilidades. Esta falta de ambição tem, no entanto, um custo elevado: perpetuam-se os problemas. Há anos que é preciso equiparar os direitos e deveres entre o público e o privado; que é essencial facilitar os despedimentos para agilizar as contratações; que é imperioso criar um regime fiscal transparente e competitivo. Finalmente: que é preciso formar as pessoas com rigor e apostar nas áreas certas.
Contudo, apesar de tudo isto ter barbas, o país reclama sempre que o Governo incomoda uma corporação. Já se sabe, não é fácil mandar. Não é fácil resistir ao canto da sereia para agradar à maioria. Não é fácil decidir contra o voto de 700 mil funcionários públicos e as respectivas famílias. É sempre mais tentador enganar a multidão – como tem acontecido em todos os executivos. Contudo, Sócrates não pode deixar-se arrastar para a bebedeira dos lambe-botas do partido, nem pode deixar-se aprisionar pelo ambiente de pré-catástrofe que envenena o ar. É verdade: o copo não está cheio – como festeja o PS –, mas também não está vazio, como acusa a oposição. Está a meio. Para o bem e para o mal, as eleições são daqui a dois anos."
André Macedo
Surgem novas notícias sobre possíveis abusos sexuais na Casa Pia. Publicam-se relatórios sobre pontes que ameaçam ruir. A RTP volta ao barulho do costume. O procurador-geral da República diz-se escutado e lança o pânico. Os juízes e magistrados do Ministério Público garantem que o Código de Processo Penal converterá o país num antro de criminosos à solta. Paulo Portas fotocopia documentos do Estado e continua por aí de fatinho janota. Santana volta à ribalta: sem substância, mas cheio de pose. Menezes é Menezes. O aeroporto da Ota não ata nem desata. Os lóbis salivam. O desastre económico (para o país) do TGV continua silenciosamente a alta velocidade. A administração pública agita-se e exige. José Sócrates acerta e falha, mas não encontra o delicado equilíbrio entre a capacidade de decisão – que tem –, e o autoritarismo, que cultiva. Finalmente, a economia mexe-se, mas ainda devagar, e o Governo não explica que precisa de mais tempo e de mais sacrifícios para apresentar resultados. No fundo, adia o choque com a realidade.
Os portugueses têm um problema de expectativas: têm-nas demasiado altas, mas não se esforçam para as atingir. Há muito anos que é assim. Somos pobres, pouco qualificados, pouco produtivos, pouco dinâmicos e absolutamente dependentes de um Estado falido, improdutivo e gastador. No entanto, dizer a verdade nunca ajudou a ganhar eleições. E os portugueses gostam de facilidades. Esta falta de ambição tem, no entanto, um custo elevado: perpetuam-se os problemas. Há anos que é preciso equiparar os direitos e deveres entre o público e o privado; que é essencial facilitar os despedimentos para agilizar as contratações; que é imperioso criar um regime fiscal transparente e competitivo. Finalmente: que é preciso formar as pessoas com rigor e apostar nas áreas certas.
Contudo, apesar de tudo isto ter barbas, o país reclama sempre que o Governo incomoda uma corporação. Já se sabe, não é fácil mandar. Não é fácil resistir ao canto da sereia para agradar à maioria. Não é fácil decidir contra o voto de 700 mil funcionários públicos e as respectivas famílias. É sempre mais tentador enganar a multidão – como tem acontecido em todos os executivos. Contudo, Sócrates não pode deixar-se arrastar para a bebedeira dos lambe-botas do partido, nem pode deixar-se aprisionar pelo ambiente de pré-catástrofe que envenena o ar. É verdade: o copo não está cheio – como festeja o PS –, mas também não está vazio, como acusa a oposição. Está a meio. Para o bem e para o mal, as eleições são daqui a dois anos."
André Macedo
10 Comments:
Excelente artigo, só um comentário: a verdade vende!!! Sobre o resto é tudo verdade somos maus, desesperados, preguiçosos e adoramos queixar-nos.
Quase que estou d'acordo consigo, meu caro André ! Peguemos nestes 2 exemplos recentes: O Ministério da Justiça estava mesmo a precisar dos Audi's com extras ? A Estradas de Portugal, SA (já foi JAE,IEP e EP,EP)o que é que trará de virtuoso ? Com exemplos destes...como é possível motivar o eleitorado ? Pedir mais sacrifícios ?
Não gosto dos portugueses! Acho que isto, como o Eça já dizia há mais de cem anos, é uma "choldra"! Portugal fez uma Revolução (ou mais um golpe de estado militar), e nunca criou elites a partir daí! Estas nunca tiveram em conta a realidade do país! A cultura portuguesa é uma cultura de miséria, de mediocridade e de compadrios! Inventaram o "homem novo", o "novo português", sem nuca terem entendido o público a quem se estavam a dirigir, assim como a própria mediocridade da pseudo elite política, que nunca teve uma visão de um modelo de desenvolvimento económico a longo prazo porque é , exactamente o que já disse, é uma classe medíocre e mal preparada, sem cultura e que vive para o caciquismo partidário! O 25 de Abril foi o abrir de portas a uma seita jacobina, carbonária e maçónica cujo objectivo é deter o poder e riqueza a qualquer meio, borrifando-se para o país! Por mim acho que Portugal há muito que já não é um país, mas uma estação de tratamento de esgotos! Assim como os portugueses, que a maior parte são mansos e bananas, só se acomodando e nunca se revoltando! Só saíu à rua em massa por causa da treta de Timor, muitos deles nem sabendo onde ficava e de que se tratava! Até nisto Portugal revelou a sua medíocridade: abandonou um povo à sua sorte, entrando este em guerra civil, com a vitória da FRETILIN, pró-soviética, fazendo muito bem a Indonésia invadir Timor, pois Portugal lavou as mãos das suas responsabilidades e a Indonésia não queria mísseis soviéticos apontados a Jacarta! Mas o português é assim: manso, cordeiro, limitado e subserviente! O que é uma benção para os medíocres do poder político!
É o tempo que falta,para que o PS volte a ter nova Maioria Absoluta... O povo não é estúpido e compreende os sacríficios que foi e é preciso fazer,para tirar o País da desgraça em que estava... E então se,como prevejo o défice ficar abaixo dos 3% e o PIB subir até aos 2%,a Maioria Absoluta ainda será maior. E é pena a função pública,fazer só um dia de greve até ao fim do ano...Era bom, era que fizesse pelo menos 15 dias,para que a despesa publica primária beneficiasse com essa receita extra, e então de certeza o défice ficaria ainda abaixo dos 3%.... Viva a greve da Função Pública,se então fôr a uma sexta-feira ainda melhor...
...pois é, André! Tudo isso e a pura das verdades, mas o destino, empurra-nos para essas coisas!.. É o nosso fado, a sina maldita que nos acompanha-e aos nossos consecutivos governos!- e contra a qual não podemos nem queremos remar! E digo-lhe mais!...qualquer que seja o resultado das eleições o "grande problema" vai ficar mais uma vez por resolver!..os partidos do governo são como o louva-a-deus, sabem que depois de ter a femea, vão ser comidos!..mas vão em frente!...ou não fossem portugueses!
"Há anos que é essencial agilizar os despedimentos para agilizar as contratações". A destruição de 167 mil empregos qualificados em Portugal demonstram que, afinal, não é tão difícil despedir. Empregos qualificados em Portugal caíram de 12% em 2 anos, por sua vez, os empregos menos qualificados valem hoje 73% contra os 75% em 2005. Fala-se muito das PME serem competitivas, mas este tipo de empresários querem pagar cavalos ao preço de camelos.Querem pagar ordenados de 700 / 800 euros a licenciados e depois querem pessoas imovadoras e motivadas nas suas empresas (basta consultar o site do IEFP). Enquanto o tecido empresarial português se basear em salários baixos não iremos a lado nenhum. Não é por acaso que as grandes empresas nacionais que discutem o mercado è escala global pagam ordenados bem acima da média nacional aos seus trabalhadores. Por norma, os nossos empresários preferem comprar um Porche hoje do que um Ferrari daqui a alguns anos. A rábula da função pública é uma treta (não sou funcionário público) bem como da equiparação do sistema de reforma. Se estão tão convencidos disso porque é que ELES têm reforma por inteiro ao fim de 12 anos de trabalho?. Relativamente ao facto de aceitarmos tudo, infelizmente estou de acordo consigo. Lembro-me que no ANTIGAMENTE, até pelo facto de se ter reduzido, por decreto, a quantidade de açucar por pacote as pessoas reclamavam agora... parecem carneiros, estão anestesiadas.
O artigo começa com o dilúvio mas para o fim é mais realista. Só não percebo como é que a oposição quer baixar a despesa corrente primária e ao mesmo tempo diz que Sócrates afronta o funcionários com uma proposta de 2,1%. Diz também que o ensno é uma lástima - e é verdade - mas acha que o governo trata mal os professores quando lhe exige no novo estatatuto que têm de ser classificados com rigor e que nem todos podem chegar ao fim da carreira aos 52 anos. Enfim, o governo está a fazer o que deve para ver se isto sai do atoleiro, mas com a sociedade que temos é uma tarefa quase impossível. Mesmo assim, pelo resultados já obtidos, nun ca antes atingidos a não ser por Salazar com o despedimento de milhares de funcionários, a diminuição drástica dos vencimentos dos restantes e a diminuição da escolaridade obrigatória para a 3.ª classe, mesmo assim, dizia eu, por tudo o que tem feito, este governo merece uma reforçada maioria daqui a dois anos.
Já pensaram que pode efectivamente faltar menos que os 2 anos apregoados... A economia está estagnada e vai a caminho do colapso e o governo parece não perceber isso....julga que fazendo um bom número de circo, a população satisfeita irá votar em massa nele dando-lhe nova maioria absoluta. Não acreditem nisso, este governo parece desconhecer as coisas mais elementares, a população não tendo meios de subsistência, obviamente revolta-se. Infelizmente, os partidos não conseguem conter a despesa pública, estão demasiado pressionados pelas estruturas partidárias e querem tirar proveito da situação. Sendo a nossa economia, uma economia aberta, não pode dar-se ao luxo de praticar uma fiscalidade muito diferente dos seus vizinhos ( o imposto tabaco diminuiu drásticamente e o ISP também ). O estado assim, não vai ter receitas, o comércio foi desviado para Espanha, onde as coisas são mais baratas e a economia paralela acabará por dominar, por muito que o estado se esforçe no controle dos valores monetários do contribuinte. A minha única esperança, é que o Dr.Cavaco Silva perceba isso a tempo, se antecipe ao calendário eleitoral e construa um governo de "salvação nacional". A BEM DA NAÇÃO
Para mal dos "pecados" daqueles que gostariam de vêr o Pais na Bancarrota, ( Incluo nestes todas as oposições)vão ter uma triste surpresa!!!!Portugal vai acabar 2007 com um crescimento acima dos 2% e um deficit abaixo dos 3%!!!! Só por isto Socrates merece mais 4 anos!!!!Bem podem inventar Greves e tentar o GNR que apliquem os cassetetes, ( Isso é que alguns queriam....Quem esteve atento às imagen televisivas desta Greve, não viu S´o Bernardino do PCP, também se viu no Primeiro dia um "menino, com outro pela mão...) este rival do Loucã do BE....Que andava este "menino" a fazer???? Metam todos o Pedófilos na Cadeia, mas não não tornem a Casa Pia num novo CAMARATE!!!!!tentaram liquidar o PS com a acusação a toda a sua direcção no primeiro ronde....aguardemos a 2ªtentativa.....Há quem queira a demissão da Provedora, do ministro que a nomeou, porque este é do PS e não pode nomear. Será que se fosse o PCP seriam eles nomeados??? será esse o objectivo??? Apanhem todos os predadores e predadoras, castiguem-nos, mas não conspirem contra a democracia!!!!!!
Quem em 1974 enterrou o país, proclamando a "felicidade na terra", estava a contar com os milhões da URSS/ou os Dólares da Europa. ..Os segundos chegaram, sob a forma de Euros, mas estão-se a acabar, a e a pobreza do país a vir ao de cima.
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