Uma pergunta difícil
"A questão do cozinheiro despedido de um restaurante de um hotel por ser portador do vírus da sida merece cuidada reflexão. O caso põe em confronto duas teses uma científica, e repetidamente reafirmada, segundo a qual a transmissão do vírus ocorre por relação sexual não protegida, por via endovenosa e por via materno-fetal. Segundo esta tese, um cozinheiro com sida pode perfeitamente trabalhar, sendo nula a hipótese de transmissão. Mas os juízes basearam-se no facto, também cientificamente comprovado, de o vírus existir no sangue, no suor e nas lágrimas, concluindo que o perigo de contágio existiria para quem tivesse na boca uma ferida. O vírus, segundo os cientistas, existe realmente no suor e nas lágrimas, mas o perigo de contágio por esta via é zero.
O problema que se põe, e por isso o caso é interessante, é o de sabermos se se pode assegurar a 100 por cento que o contágio só se faz nas três hipóteses atrás mencionadas ou se há uma pequeníssima hipótese, zero vírgula qualquer coisa de possibilidade, de o contágio ocorrer através, por exemplo, do suor ou das lágrimas, para não falar já na hipótese colocada de haver um cliente com uma ferida na boca que ficaria exposto ao contágio.
Alguém dizia, ontem, que a decisão dos juízes da Relação de Lisboa envergonha o nosso país. Por mim, antes que se atire a primeira pedra, gostaria que todos respondêssemos a uma pergunta o leitor comeria sossegado num restaurante sabendo que o cozinheiro tinha sida? Não me interessam as respostas sentimentais, cientificamente infundadas. O que interessa é que a Ciência nos ajude a responder. E se a resposta que os cientistas nos ajudarem a dar não for 100 por cento sim, então há que respeitar a decisão dos juízes.
Sobra de tudo isto o problema do cozinheiro. Perdido nas teias da lei, era bom sabermos que o espera uma reforma decente por doença ou que a Segurança Social o encaminhará para um trabalho onde a sua doença não faça perigar a nossa saúde. A não ser assim, é que teremos fortes razões para nos envergonharmos. "
José Leite Pereira
O problema que se põe, e por isso o caso é interessante, é o de sabermos se se pode assegurar a 100 por cento que o contágio só se faz nas três hipóteses atrás mencionadas ou se há uma pequeníssima hipótese, zero vírgula qualquer coisa de possibilidade, de o contágio ocorrer através, por exemplo, do suor ou das lágrimas, para não falar já na hipótese colocada de haver um cliente com uma ferida na boca que ficaria exposto ao contágio.
Alguém dizia, ontem, que a decisão dos juízes da Relação de Lisboa envergonha o nosso país. Por mim, antes que se atire a primeira pedra, gostaria que todos respondêssemos a uma pergunta o leitor comeria sossegado num restaurante sabendo que o cozinheiro tinha sida? Não me interessam as respostas sentimentais, cientificamente infundadas. O que interessa é que a Ciência nos ajude a responder. E se a resposta que os cientistas nos ajudarem a dar não for 100 por cento sim, então há que respeitar a decisão dos juízes.
Sobra de tudo isto o problema do cozinheiro. Perdido nas teias da lei, era bom sabermos que o espera uma reforma decente por doença ou que a Segurança Social o encaminhará para um trabalho onde a sua doença não faça perigar a nossa saúde. A não ser assim, é que teremos fortes razões para nos envergonharmos. "
José Leite Pereira
Etiquetas: No reino do politicamente correcto.
10 Comments:
Não entendo destas doenças mas compreendo que no cabeleireiro e noutros serviços existem cuidados de desinfecção dos materiais por causa de possíveis contágios. Em restaurantes deverá ser maior o cuidado porque os golpes são talvez uma porta. Existem profissões de menos perigos.
Se existe perigo de contágio por minimo que seja, isso deve ser acautelado. Despedimento NÃO, mas mudança de posto de trabalho sem perder qualquer regalia salarial, isso SIM. Os "comentaristas" que aqui leio, acho que estão a falar da boca para fora, pois isso de se dizer uma coisa e depois se fazer outra...não serve a ninguém....
Não sejam hipócritas. É norma estabelecida que para poder trabalhar em determinados locais, e muito especialmente da área da restauração, tem de fazer prova médica de boa saúde. Porque querem agora à força que o funcionário continue na cozinha do hotel? Deslocá-lo para outra tarefa sim. Mas nunca na copa.
Mas julgo que ninguém falou do mais importante,que é o facto do organismo duma pessoa com sida estar mais debilitado e susceptível que um saudável e por isso,"apanhar"outras doenças com mais facilidade, como hepatite e tuberculose,e aí sim,seria altamente contagioso e nem pensar exercer esse cargo.Não se esqueçam tanbém da posição do Hotel perante os clientes no meio disto tudo.Fizeram bem!
Muitos não concordarão mas eu concordo e digo que por muito injusto que possa parecer ao doente, foi uma medida correcta em virtude do perigo de contaminação. Numa doença destas,sem cura, todo o cuidado é pouco para prevenir!Ñão se transmite só por via sexual,também pelos fluidos corporais isso aconteçe.De certeza que o tribunal se informou a esse repeito antes de tomar essa decisão!
...segundo o advogado, que muito respeito, contudo lamento desiludi-lo, pois é sabido que as pessoas infectadas, são menos imunes e contraem facilmente infecções de outra natureza, passíveis de contagiar terceiros com mais frequência. Neste caso, há certos serviços que estão fora de questão: um deles é o da restauração, a nível da manipulação de alimentos directamente... É a saúde pública que está em causa, por todo o respeito que tenho para com todos os seres vivos (humanos e não só!). Haja bom senso e menos demagogia, pois aé da realidade que falamos. Não sei se hoje é obrigatório (penso que reina a anarquia), mas sei que pelo menos era há uns tempos, que se exigia um atestedo médico e boletim de saúde em ordem, requisito para certas funções. A não acontecer isto, vivemos em alta promiscuídade social e de valores e o resto é conversa. Com isto não quero apenas referir-me ao HIV, mas às patologias diversas daí decorrentes e não só: há muitas doenças infecto-contagiosas que grassam por aí e ninguém controla!
A saúde pública deve prevalecer sobre direitos individuais. As doenças altamente contagiosas devem ser comunicadas pelos próprios pacientes ou por médico em caso de recusa, seja à entidade patronal seja aos serviços de saúde do Estado. Os doentes devem ser tratados com toda a humanidade, mas a doença não pode conferir mais direitos do que um tratamento adequado e digno. Os portadores de certas doenças deveriam mesmo ver reduzidos alguns dos seus direitos, em nome do direito de todos à saúde.
Nao se trata de informar os patroes se somos portadores de HIV/SIDA, ou de hepatite ( altamente contagiosa),
os patroes e que tem de criar condicoes de higiene de trabalho para todos, se olhar-mos para o desporto, os jogadores nao podem jogar de brinco e porque? e uma maneira de evitar contagio, se e que alguem esta infectado, ninguem precisa de o dizer.
parem de ser hipocritas, e criem condicoes de higiene, nao e por acaso que muitos restaurantes estao a fechar a ASAE esta por ai..............
Esse homem sofre de uma doença que o torna inapto para a cozinha! Ninguém deveria ter dúvidas disso!
Sejamos realistas e sérios. Deixem a hipocrisia de lado. Há tantas limitações profissionais por motivos de doenças menores e mesmo assim têm coragem de questionar a SIDA na cozinha de um hotel...
Para os que se dizem entendidos na matéria deixo a questão. Se o homem, contagiado com HIV se cortar ao fazer uma fresca e saborosa salada de alface, que será servida dentro de momentos a um cliente que por azar trincou a lingua enquanto comia o seu bife, não há risco de contágio? Agradeço a resposta!
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