Má educação
"Pouca é, de facto, a mobilização cidadã e social para uma abordagem séria e continuada dos bloqueios a vencer.
Durante a semana que passou foi publicitada a informação anual sobre o desempenho das nossas escolas secundárias, assim propiciando a elaboração de novos ‘rankings’ relativos às mesmas e o regresso de recorrentes debates em torno do comportamento das públicas face às privadas ou das do interior face às do litoral. Será eventualmente útil este momento de catarse colectiva em que os media exploram à exaustão exemplos disto e daquilo em entrevistas com estudantes, famílias, responsáveis de estabelecimentos de ensino, autarcas ou dirigentes políticos; como o poderão também ser outros momentos em que uma medida governamental ou um episódio concreto suscitam polémica, revolta ou maledicência. No entanto, tida em conta a substância da matéria, não deixa de ser estranha a sensação de, passado o período “quente”, cada um regressar à sua vidinha quotidiana e a inércia voltar a reinar até novo “fogo” ser ateado – pouca é, de facto, a mobilização cidadã e social para uma abordagem séria e continuada dos bloqueios a vencer.
Dir-se-á, num aparente contraditório, que temos vivido uma conjuntura em que a tensão está ao rubro acerca de múltiplos temas correlativos, sejam eles a questão dos professores, as alterações curriculares, os encerramentos de escolas ou a reforma do ensino superior, para só mencionar alguns dos mais dirigidos. Mas será que a forma como tudo isto se tem exprimido contribui para uma efectiva expectativa de alteração do actual estado de coisas? A resposta está longe de positiva, apesar de nos encontrarmos numa fase da vida nacional em que imperam discursos e consensos estruturais sobre o papel central da educação nas configurações do futuro (qualificação dos recursos humanos, aumento da produtividade, competências e adaptabilidade face à globalização, mudança de mentalidades, e por aí fora).
Reconheça-se que o problema é universal e complexo. Por um lado, e como afirmou um ex-consultor de Tony Blair citado pelo “The Economist” (’How to be top’), o governo mudou muito e muitas vezes os vários aspectos da política educativa (financiamento, governação, admissão, curriculo, avaliação, papel dos governos locais, papel do governo nacional, leque e natureza das agências nacionais), apenas ficando imutável o ‘outcome’. Por outro lado, e recorrendo a dados do Programa PISA da OCDE – que compara as ‘performances’ dos alunos de um vasto conjunto de países, distinguindo nos resultados da aprendizagem as áreas da matemática, leitura, ciência e resolução de problemas –, são enormes e algo inesperadas as variações internacionais dos padrões educacionais (casos, p.e., da fraca posição ocupada pelos EUA e Espanha, das classificações modestas detidas por França, Alemanha, Suécia e Dinamarca, da boa ordenação de Bélgica e Holanda e das classificações cimeiras da Finlândia, Coreia do Sul, Japão e Canadá – refira-se, por curiosidade, que Portugal ronda o lugar 30 numa amostra de 40, quase sempre melhor do que Itália e Grécia e próximo de Espanha).
Nesta conformidade, o artigo acima referido avança ensinamentos pertinentes para pensar uma mudança radical na educação, quer ao contrariar ideias feitas (como as de que o sucesso dependeria do envolvimento de mais dinheiro ou da consagração de mais tempo ao estudo) quer ao apontar as três recomendações de um recente trabalho da McKinsey (as escolas precisam de conseguir os melhores professores, de obter o melhor dos professores e de intervir quando os alunos começam a regredir). E, após revelar tópicos comuns aos países líderes – na Finlândia, os novos professores têm de dispor do grau de mestre, a profissão beneficia de um elevado estatuto social e existem fundos importantes para formação; na Coreia, os docentes primários têm de obter uma licenciatura de 4 anos em uma de 12 universidades indicadas e são recrutados de entre os 5% melhores graduados; no Japão, a reforma de um professor deixa atrás de si um “legado” –, conclui: “conseguir bons professores depende de como eles são seleccionados e formados; o ensino pode tornar-se uma escolha de carreira para graduados de topo sem se ter de pagar uma fortuna; com as políticas certas, as escolas e os alunos não estão condenados a ficar para trás.” Três boas notícias para quem não queira vergar-se a um fatalismo conservador e imobilista…"
Fernando Freire de Sousa
Durante a semana que passou foi publicitada a informação anual sobre o desempenho das nossas escolas secundárias, assim propiciando a elaboração de novos ‘rankings’ relativos às mesmas e o regresso de recorrentes debates em torno do comportamento das públicas face às privadas ou das do interior face às do litoral. Será eventualmente útil este momento de catarse colectiva em que os media exploram à exaustão exemplos disto e daquilo em entrevistas com estudantes, famílias, responsáveis de estabelecimentos de ensino, autarcas ou dirigentes políticos; como o poderão também ser outros momentos em que uma medida governamental ou um episódio concreto suscitam polémica, revolta ou maledicência. No entanto, tida em conta a substância da matéria, não deixa de ser estranha a sensação de, passado o período “quente”, cada um regressar à sua vidinha quotidiana e a inércia voltar a reinar até novo “fogo” ser ateado – pouca é, de facto, a mobilização cidadã e social para uma abordagem séria e continuada dos bloqueios a vencer.
Dir-se-á, num aparente contraditório, que temos vivido uma conjuntura em que a tensão está ao rubro acerca de múltiplos temas correlativos, sejam eles a questão dos professores, as alterações curriculares, os encerramentos de escolas ou a reforma do ensino superior, para só mencionar alguns dos mais dirigidos. Mas será que a forma como tudo isto se tem exprimido contribui para uma efectiva expectativa de alteração do actual estado de coisas? A resposta está longe de positiva, apesar de nos encontrarmos numa fase da vida nacional em que imperam discursos e consensos estruturais sobre o papel central da educação nas configurações do futuro (qualificação dos recursos humanos, aumento da produtividade, competências e adaptabilidade face à globalização, mudança de mentalidades, e por aí fora).
Reconheça-se que o problema é universal e complexo. Por um lado, e como afirmou um ex-consultor de Tony Blair citado pelo “The Economist” (’How to be top’), o governo mudou muito e muitas vezes os vários aspectos da política educativa (financiamento, governação, admissão, curriculo, avaliação, papel dos governos locais, papel do governo nacional, leque e natureza das agências nacionais), apenas ficando imutável o ‘outcome’. Por outro lado, e recorrendo a dados do Programa PISA da OCDE – que compara as ‘performances’ dos alunos de um vasto conjunto de países, distinguindo nos resultados da aprendizagem as áreas da matemática, leitura, ciência e resolução de problemas –, são enormes e algo inesperadas as variações internacionais dos padrões educacionais (casos, p.e., da fraca posição ocupada pelos EUA e Espanha, das classificações modestas detidas por França, Alemanha, Suécia e Dinamarca, da boa ordenação de Bélgica e Holanda e das classificações cimeiras da Finlândia, Coreia do Sul, Japão e Canadá – refira-se, por curiosidade, que Portugal ronda o lugar 30 numa amostra de 40, quase sempre melhor do que Itália e Grécia e próximo de Espanha).
Nesta conformidade, o artigo acima referido avança ensinamentos pertinentes para pensar uma mudança radical na educação, quer ao contrariar ideias feitas (como as de que o sucesso dependeria do envolvimento de mais dinheiro ou da consagração de mais tempo ao estudo) quer ao apontar as três recomendações de um recente trabalho da McKinsey (as escolas precisam de conseguir os melhores professores, de obter o melhor dos professores e de intervir quando os alunos começam a regredir). E, após revelar tópicos comuns aos países líderes – na Finlândia, os novos professores têm de dispor do grau de mestre, a profissão beneficia de um elevado estatuto social e existem fundos importantes para formação; na Coreia, os docentes primários têm de obter uma licenciatura de 4 anos em uma de 12 universidades indicadas e são recrutados de entre os 5% melhores graduados; no Japão, a reforma de um professor deixa atrás de si um “legado” –, conclui: “conseguir bons professores depende de como eles são seleccionados e formados; o ensino pode tornar-se uma escolha de carreira para graduados de topo sem se ter de pagar uma fortuna; com as políticas certas, as escolas e os alunos não estão condenados a ficar para trás.” Três boas notícias para quem não queira vergar-se a um fatalismo conservador e imobilista…"
Fernando Freire de Sousa
2 Comments:
No meu tempo dizia-se que o professor era educador, mas hoje não passa de um saco de boxe dos alunos, e aí dele, se levanta a mão para um puto, porque além de sancionado, cai o Carmo e a Trindade.Não era só na Escola que se exigia e pedia responsabilidades ao aluno e ao professor, ambos sabiam os deveres que tinham de cumprir, embora com graus diferentes. No Liceu se o aluno chegava tarde ou faltava, já sabia que ia ser chamado ao reitor para que se justificasse, o mesmo acontecia com o professor, se o aluno foi mal educado para com o professor, era chamado ao reitor e a pena podia ir de uma admoestação á explusão, dependendo da gravidade da mesma, o certo é que quando a pena fosse a explusão, só restava ao aluno recorrer ao ensino particular, porque o oficial ficava interdito. A palmada pedagógica sempre foi usada pelo professor, ou pelo mestre, e foi por isso que eu, e outros como eu, fomos homens. Com um ensino destes onde não é exigido aos alunos o minimo de responsabilidades, como é que hão-de ser os homens amanhã com senso de responsabilidade, e respeito pelo próximo. Hoje há os concelhos de pais para acompanhar a escola, mas o que é que estes fazem? Tem evitado dos professores serem esbofeteados? Após vinte e cinco de Abril houve muita liberdade, mas mais libertinagem, e muitos dos que agora são pais, já não tiveram uma educação digna desse nome, para que agora a possam ou queiram transmitir aos filhos. O politicos do pós 25 de Abril, que têm passado pela educação, para além de andarem constantemente a fazer experiências com o ensino, fazendo dos alunos cobaias, desautorizando os professores, premitiram que se instalasse o laxismo e a falta de educação que agora existe. Não sou nem nunca fui professor.
O problema é geral, em sociedades onde os pais querem levar uma vida "cool"(canais de desporto ou sexo e umas cervejas..)e onde os professores estão la´para ganhar os deles e não querem aturar meninos mal-educados e onde as crianças não podem trabalhar ,mas aprenderem "ludico".Vão safar-se as sociedades com principios e valores como o trabalho,a disciplina e honestidade
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