terça-feira, novembro 06, 2007

O fim de uma era

"A idade da pedra não acabou por falta de pedra. A idade do petróleo também não vai acabar por falta de petróleo.

Mas vai acabar. Vai chegar o dia em que o barril de petróleo vai ser tão caro que deixa de ser rentável. Esse dia já esteve mais longe. Na última semana, o preço do barril atingiu valores recorde e a dúvida já não é se vai passar a barreira psicológica dos 100 dólares, mas quanto tempo vai demorar. Esta crise pode ser o empurrão que faltava para o processo de reconversão energética começar de forma irreversível. Não é a primeira vez que o mundo vive uma aflição destas. Em termos reais, a crise de 1979 – associada à revolução iraniana – foi bem pior. Contando com a inflação, é preciso que o barril de petróleo chegue aos 110 dólares para se atingir uma situação semelhante. E dado o enriquecimento dos países do G7, só com preços de 120 dólares é que as populações vão sentir os mesmos cortes no poder de compra. Mas não haja dúvidas: estes preços vão chegar. É uma questão de tempo. No início da década de oitenta do século passado, os racionamentos de combustíveis foram uma realidade. Sabemos que o resultado vai ser igual se não se fizer nada. Portanto, está aqui a oportunidade para iniciar o processo de transformação que retire ao petróleo o trono enquanto fonte energética. As fontes renováveis – solar, eólica, hídrica, energia das ondas – têm que ganhar um peso que hoje não têm, até porque passam a ser um bom negócio. Com a subida do custo da exploração do petróleo, as energias renováveis ficam relativamente mais baratas, justificando mais investimentos em investigação para encontrar formas que facilitem a sua utilização massiva.

Como todos os processos de mudança, este também vai ser doloroso. Vai afectar todas as áreas da vida. As casas vão ser diferentes, os carros provavelmente mais pequenos e menos potentes, os hábitos do dia-a-dia mais preocupados com a poupança energética. No combate ao desperdício está o outro caminho para a resolução da crise. Essa estrada vai ter de ser percorrida em paralelo com o aumento do recurso às energias renováveis. No final, o ambiente também agradece. Ao contrário do petróleo, as energias renováveis são mais amigas do ambiente, pelo menos nas emissões de gases que têm motivado as alterações climáticas. Estando o diagnóstico feito e a oportunidade identificada, é preciso arrancar. Nenhuma parte do mundo deve ficar de fora, embora sejam compreensíveis as resistências dos grandes países que agora acordaram para o desenvolvimento A Europa, por sua vez, está a começar com o pé esquerdo. Os países da União Monetária estão a abusar da almofada do euro forte face ao dólar. Estão a esconder os efeitos do petróleo caro. Quem não tem sintomas, não sabe que tem uma doença para tratar. Mas a factura vai chegar, bem alta, e vai ter de ser paga
. "

Bruno Proença

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Porque pensa que os carros serão menos potentes. Há dezenas de anos que a Formula Indy (a F1 americana) usa etanol e os carros dão mais de 400Km/h nas ovais. O foguetão Saturno funcionava a pilhas de combustível que consumiam hidrogénio. A gasolina não tem, nem de longe, o poder de explosão mais económico e/ou mais potente. Tem é a rede de distribuição, subsídios de todos os governos (acessos a refinarias, rede eléctrica junto a minas de carvão e a centrais a diesel/Carvão/gás natural). A estrutura de custos é totalmente pervertida, e a de impostos também. O paradoxo total é que as grandes empresas de petróleos ganham muito mais dinheiro nas alternativas, pois as suas redes podem ser muito simplesmente adaptadas. A questão fulcral é pois uma questão de estrutura fiscal e de adaptação de hábitos, logo uma questão de postura mental e de comportamentos. Todo o investimento em poupança de energia e em optimização da "mistura" de fornecimento de energia renovável (software, diversificação com a geotérmica e a solar de 24h) mostra-se não só rentável como muito apetecível. E o calor fora de época destes dias mostra que as alterações provocadas pelos fósseis estão a deixar de ser uma opção viável. O pânico não evita nenhum desastre, apenas o investimento e a execução o podem fazer. E sem hipocrisias, precisamos do nuclear, nem que seja o importado de França.

terça-feira, novembro 06, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Este artigo está cheio de wishfulthinking. Por mais que a Europa (e o Ocidente) desenvolva energias alternativas a procura do petróleo será sempre imparavel. Os chineses são 1.300 milhoes e ainda estão no início do desenvolvimento. Os indianos são 1000 milhoes, etc, etc. A GRANDE QUESTÃO NÃO É O PETROLEO. É SABER SE O PLANETE AGUENTA ESTE TIPO DE CRESCIMENTO (CAPITALISTA). O PREÇO DO PETROLEO NÃO PASSA DE UM SINTOMA!

terça-feira, novembro 06, 2007  
Anonymous Anónimo said...

E qual é o problema se o petróleo "saltar" para os 100, 150, 200 dólares ? Em 76 Paris esteve com apagões pelo Natal e continua uma linda e amorosa capital. Antes o carocha bebia 12 litros e agora bebe menos de metade. Não estou a ver a Elf/Total, Exxon ou Repsol na falência. Basta um luso "choque tecnológico" e estamos safos. Recordemos a "não-barragem" do Foz Coa e temos um bom exemplo da nossa "prudência" !

terça-feira, novembro 06, 2007  
Anonymous Anónimo said...

A pedra teve o seu fim, não porque se tivesse esgotado, mas porque surgiu algo muito melhor, uma alternativa viável. O mesmo não acontece com o petróleo, o seu fim vai acontecer por se tornar escasso, a alternativa viável não existe nem se afigura. O pior é que o petróleo é o pilar da sociedade actual. é o motor da agricultura, dos transportes, da industria, pescas,...., tudo. Imagine um mundo sem aviões (ainda não há aviões eléctricos). Como será afectado o turismo, transporte rápido de mercadorias,…? Quantos postos de trabalho estão envolvidos? - aviação, turismo, industria, combustíveis, manutenção, .....Imagine um mundo sem camiões (também não há camiões eléctricos capazes de percorrer 800 km num dia). Como alimentar as muitas cidades com 5, 6, 7, 8, 9 e mais milhões de habitantes se não houver máquinas agriculas e transportes? Quando o pilar ruir, o que vai acontecer ao gigante arranha céus. O petróleo é o motor de todos os ramos da economia actual, e, pelo que parece está a escassear. O que fizemos no último século foi construir um arranha céus em cima de um baralho de cartas. O mais curioso é que todos sabem disso mas ninguém encara o problema.

terça-feira, novembro 06, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Oi Cara ! Está-se esquecendo dos famosos bio-combustiveis. Vêm ai e em força. Só que não existe bela sem senão. Ou se cultiva para alimentação humana e animal ou se cultiva para combustivel... a não ser que a humanidade passe a ser alimentada também a bio-combustivel... com impostos especias tal e qual agora são aplicados... vem aí muita fominha ... Tudo para gáudio de uns politicos e empresários da treta que governan-se à conta dos desgraçados que exploram. O dia está cada vez mais perto. O dia em que os roubados e expoliados deste planeta tornar-se-ão canibais e comerão aqueles porquinhos que tanto têm engordado à pála dos desgraçados deste planeta.

terça-feira, novembro 06, 2007  
Anonymous Anónimo said...

Uma interessante reflexão filosófica,mas falta alguma explicação sobre o "atraso".Quando se decidiu ir tirar petróleo do fundo do mar ou expurgar as areias asfaltadas ,havia sempre um valor mínimo, abaixo do qual o crude do deserto do Médio Oriente era imbatível -poucos dólares por barril.O aumento do consumo,as crises políticas e a especulação pelos fundos aconselharam a ir explorar onde é cada vez mais caro.A energia solar é usada desde há 4 ou 5 décadas em paises do Adriático e o etanol brasileiro desde os anos oitenta.Ou seja,ou o mercado garante preços compensadores a prazo, ou ninguem arrisca pesados investimentos para o "petróleo voltar".Entre nós,o Geota acha que não se devem fazer as 10 barragens e falar do nuclear é falar do diabo.Sol na eira e chuva no nabal,não dá..

terça-feira, novembro 06, 2007  

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