A DIREITA EM NOVEMBRO

"Nas comemorações do 25 de Novembro, que gradualmente se aproximam do mofo equívoco das comemorações de "Abril", o líder da Juventude Popular acusou o comunista Bernardino Soares de "distúrbios revolucionários" durante o PREC. Como, à época, Bernardino tinha quatro anos, o CDS conseguiu o único momento de notoriedade desde que Paulo Portas regressou ao partido para, alegadamente, conduzir a oposição a gloriosas vitórias.O PSD, que afinal não precisa de Paulo Portas para se reduzir à irrelevância, elevou as eleições numa freguesia com dois mil e tal habitantes a um "primeiro passo" do triunfo nacional em 2009. O PSD não ganhou a freguesia e não promete ganhar juízo, pelo que o dr. Menezes continuará a mastigar o dilema íntimo entre a "postura de Estado" e o clamor da rua, uma batalha que fascina 1,2% do eleitorado.

Curiosa e discutivelmente, talvez ainda exista a Nova Democracia, que é notícia por ser notícia. Segundo consta, o dr. Monteiro anda preocupado com uns "nacionalistas" extremados que se infiltraram no partido, contribuindo para desvirtuar a imagem moderada dos seus sessenta ou setenta militantes.À direita, portanto, tudo bem, obrigado. À esquerda, arrastam-se os dois partidos do mata e esfola, incluindo aquele a que Bernardino Soares, versão adulta, pertence. O BE está impedido, por felicidade, por definição e quase por estatuto, de crescer. E o PCP, à míngua de melhor, prossegue a encenação da luta de classes com médicos e professores no papel do proletariado. Pelo meio, e o meio é cada vez maior, sobra o Governo, livre de contraditório e de pudor, a fingir reformar e a manipular de facto, a varrer as últimas sombras ideológicas e a rebaixar a retórica a um inédito vazio publicitário, a adormecer o poder a ponto de o seu poder parecer inevitável, coisa que, por miséria alheia e para nossa miséria, se calhar até é."

Alberto Gonçalves