Quando se diz Rússia Unida, subentende-se Putin e vice-versa
"A julgar pelas declarações de Vladimir Putin, Presidente da Rússia, e dos seus apoiantes do Partido Rússia Unida, “não há no Mundo outro país onde o homem respire tão livremente”.
Estes versos de uma canção soviética, composta em 1937, ano do auge das repressões estalinistas na União Soviética, regressam do passado quando se vê como decorre a campanha eleitoral na Rússia.
No próximo dia 2 de Dezembro, cerca de 108 milhões de eleitores deverão escolher 450 deputados da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento. Não obstante nos boletins de voto estarem onze partidos políticos, todos os olhares se concentraram em Vladimir Putin depois de ter aceite ser o cabeça de lista do Partido Rússia Unida e de transformar o escrutínio num referendo à sua política.
Num encontro com construtores de estradas na Sibéria, Putin reconheceu que quanto maior for a vitória no dia 2 de Dezembro, maior será o seu “direito moral” de influir a política russa depois de abandonar o cargo de Presidente da Rússia, em Maio do ano que vem.
Esta foi uma das condições essenciais para garantir uma grande vitória da Rússia Unida, visto que, segundo as sondagens, a popularidade desta força política fica muito aquém da base social de apoio de Vladimir Putin: 40 e 70%, respectivamente.
Enquanto que, no boletim de voto, ao lado do símbolo dos outros partidos foram impressos os nomes dos três primeiros candidatos, o nome de Vladimir Putin é o único que acompanha o emblema da Rússia Unida.
Praticamente todas as sondagens dão a este partido uma maioria constitucional (entre 55 e 67%), restando saber quantos partidos superarão a barreira dos 7%, condição necessária para eleger deputados. Segundo os estudos da opinião pública, na futura Duma Estatal estarão representados, além da Rússia Unida, mais dois ou três partidos: Partido Comunista (6 a 14%), Partido Liberal Democrático (5 a 11%) e Rússia Justa (4 a 8%).
A campanha eleitoral correu “às mil maravilhas” para a Rússia Unida. Não obstante estar prevista na lei eleitoral a realização de debates televisivos e radiofónicos entre representantes dos onze partidos, o partido de Putin recusou-se a participar neles. Era preciso explicar ao eleitoral em que consiste o “Plano de Putin”, tão apregoado durante a campanha, mas que os eleitores não o viram.
Além disso, os três canais nacionais de televisão, os únicos órgãos de informação que cobrem o imenso país que é a Rússia, não pouparam esforços para fazer campanha por Putin e denegrir os adversários. Adversários, não. A Rússia Unida ressuscitou o termo “inimigos”, tão querido na era estalinista.
Para Putin, os inimigos internos são aqueles que levaram a URSS à ruína e os que “há dez anos atrás, controlavam as posições fulcrais no Parlamento, no Governo, que, nos anos 90, ocupando altos cargos, agiam em prejuízo da sociedade e do Estado, serviam os interesses das estruturas oligarquicas e pilharam as riquezas nacionais”.
O Presidente Putin espera que os eleitores russos tenham memória curta, porque, na época comunista, ele era coronel do KGB (polícia secreta soviética) e, nos anos 90, ocupou cargos importantes, entre os quais o de dirigente do Serviço Federal de Segurança (herdeiro do KGB) da Rússia.
As sondagens apontam para que os partidos da oposição liberal não ultrapassem os 2% dos votos, mas o Kremlin faz deles um dos principais inimigos e reprime violentamente as “marchas dos descordantes”.
A campanha eleitoral ficou também marcada por uma forte retórica anti-ocidental. “Não metam os vossos narizes ranhosos nos assuntos internos deste país!” – exclamou Putin num encontro com eleitores de São Petersburgo. Além disso, foi seriamente reduzido o número de observadores estrangeiros autorizados a acompanhar o acto eleitoral.
Tudo isto criou na opinião pública a ideia de que os resultados das eleições estão predeterminados, o que pode levar muitos eleitores a ficarem em casa e a uma alta abstenção. As sondagens apontam para uma afluência de 60%, mas o Kremlin tem receios.
Este é o maior perigo que agora se coloca perante a Rússia Unida. Por isso, as autoridades recorrem aos mais exóticos meios para atrair os eleitores.
“Seria desejável que, nos restantes dias, os dirigentes das regiões, das comissões eleitorais e dos órgãos de poder local se dirigissem uma vez mais aos eleitores para que participem na votação”, pediu Vladimir Tchurov, dirigente da Comissão Eleitoral Central da Rússia.
Para que no dia 2 ninguém falte, as autoridades de Kemerovo, na Sibéria, prometem consultas grátis de especialidades como ginecologia e urologia, em gabinetes situados perto das urnas de voto.
Em várias regiões da Rússia, as autoridades vão realizar lotarias entre os eleitores, podendo estes ganhar valiosos prémios como computadores, frigoríficos, máquinas de lavar, etc.
Segundo têm denunciado os partidos da oposição, as autoridades recorrem também à chantagem para obrigar os eleitores a votar."
José Milhazes
Estes versos de uma canção soviética, composta em 1937, ano do auge das repressões estalinistas na União Soviética, regressam do passado quando se vê como decorre a campanha eleitoral na Rússia.
No próximo dia 2 de Dezembro, cerca de 108 milhões de eleitores deverão escolher 450 deputados da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento. Não obstante nos boletins de voto estarem onze partidos políticos, todos os olhares se concentraram em Vladimir Putin depois de ter aceite ser o cabeça de lista do Partido Rússia Unida e de transformar o escrutínio num referendo à sua política.
Num encontro com construtores de estradas na Sibéria, Putin reconheceu que quanto maior for a vitória no dia 2 de Dezembro, maior será o seu “direito moral” de influir a política russa depois de abandonar o cargo de Presidente da Rússia, em Maio do ano que vem.
Esta foi uma das condições essenciais para garantir uma grande vitória da Rússia Unida, visto que, segundo as sondagens, a popularidade desta força política fica muito aquém da base social de apoio de Vladimir Putin: 40 e 70%, respectivamente.
Enquanto que, no boletim de voto, ao lado do símbolo dos outros partidos foram impressos os nomes dos três primeiros candidatos, o nome de Vladimir Putin é o único que acompanha o emblema da Rússia Unida.
Praticamente todas as sondagens dão a este partido uma maioria constitucional (entre 55 e 67%), restando saber quantos partidos superarão a barreira dos 7%, condição necessária para eleger deputados. Segundo os estudos da opinião pública, na futura Duma Estatal estarão representados, além da Rússia Unida, mais dois ou três partidos: Partido Comunista (6 a 14%), Partido Liberal Democrático (5 a 11%) e Rússia Justa (4 a 8%).
A campanha eleitoral correu “às mil maravilhas” para a Rússia Unida. Não obstante estar prevista na lei eleitoral a realização de debates televisivos e radiofónicos entre representantes dos onze partidos, o partido de Putin recusou-se a participar neles. Era preciso explicar ao eleitoral em que consiste o “Plano de Putin”, tão apregoado durante a campanha, mas que os eleitores não o viram.
Além disso, os três canais nacionais de televisão, os únicos órgãos de informação que cobrem o imenso país que é a Rússia, não pouparam esforços para fazer campanha por Putin e denegrir os adversários. Adversários, não. A Rússia Unida ressuscitou o termo “inimigos”, tão querido na era estalinista.
Para Putin, os inimigos internos são aqueles que levaram a URSS à ruína e os que “há dez anos atrás, controlavam as posições fulcrais no Parlamento, no Governo, que, nos anos 90, ocupando altos cargos, agiam em prejuízo da sociedade e do Estado, serviam os interesses das estruturas oligarquicas e pilharam as riquezas nacionais”.
O Presidente Putin espera que os eleitores russos tenham memória curta, porque, na época comunista, ele era coronel do KGB (polícia secreta soviética) e, nos anos 90, ocupou cargos importantes, entre os quais o de dirigente do Serviço Federal de Segurança (herdeiro do KGB) da Rússia.
As sondagens apontam para que os partidos da oposição liberal não ultrapassem os 2% dos votos, mas o Kremlin faz deles um dos principais inimigos e reprime violentamente as “marchas dos descordantes”.
A campanha eleitoral ficou também marcada por uma forte retórica anti-ocidental. “Não metam os vossos narizes ranhosos nos assuntos internos deste país!” – exclamou Putin num encontro com eleitores de São Petersburgo. Além disso, foi seriamente reduzido o número de observadores estrangeiros autorizados a acompanhar o acto eleitoral.
Tudo isto criou na opinião pública a ideia de que os resultados das eleições estão predeterminados, o que pode levar muitos eleitores a ficarem em casa e a uma alta abstenção. As sondagens apontam para uma afluência de 60%, mas o Kremlin tem receios.
Este é o maior perigo que agora se coloca perante a Rússia Unida. Por isso, as autoridades recorrem aos mais exóticos meios para atrair os eleitores.
“Seria desejável que, nos restantes dias, os dirigentes das regiões, das comissões eleitorais e dos órgãos de poder local se dirigissem uma vez mais aos eleitores para que participem na votação”, pediu Vladimir Tchurov, dirigente da Comissão Eleitoral Central da Rússia.
Para que no dia 2 ninguém falte, as autoridades de Kemerovo, na Sibéria, prometem consultas grátis de especialidades como ginecologia e urologia, em gabinetes situados perto das urnas de voto.
Em várias regiões da Rússia, as autoridades vão realizar lotarias entre os eleitores, podendo estes ganhar valiosos prémios como computadores, frigoríficos, máquinas de lavar, etc.
Segundo têm denunciado os partidos da oposição, as autoridades recorrem também à chantagem para obrigar os eleitores a votar."
José Milhazes
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