sexta-feira, janeiro 25, 2008

Europa-América

"A Europa observa em Barack Obama a antítese de George W. Bush. Face ao estado do mundo, essa diferença pode fazer toda a diferença.

Definitivamente, Barack Obama é o candidato da Europa. O facto de ser negro, praticar um discurso social e cultivar uma imagem casual e sofisticada, fazem de Obama o retrato perfeito da América liberal. Mesmo que o senador seja um produto dos ‘talk-shows’ e uma figura de estilo envolvida no ideal da “mudança”, a Europa observa em Barack Obama a antítese de George W. Bush. Face ao estado do mundo, essa diferença pode fazer toda a diferença. Visto do velho continente, Obama simboliza o espírito americano num coração europeu. Barack Obama pode não representar a total complexidade da América, mas representa certamente a América que existe na fantástica imaginação da Europa.

Numa nação americana ainda marcada pelas “guerras culturais” dos anos 60, as questões da raça, da religião e do género continuam a condicionar o discurso político. Talvez de modo surpreendente, Barack Obama parece perfilar-se enquanto candidato de uma nova era, distante do universo estafado das políticas radicais e identitárias. Na aspiração a uma nova era, Obama aproxima-se de Ronald Reagan, não na proposta política, mas pelo menos na presença e na oratória inspirada. Tal como Reagan conseguiu unir em coligação os conservadores fiscais, sociais e nacionais, se Obama alcançar o pleno de uma “grande coligação social” em torno do Partido Democrático, talvez o sonho de Obama se transforme na revolução Obama.

De modo compreensível, Barack Obama revela todo um discurso político centrado na ideia e na “audácia da esperança”. Para uma Europa onde a palavra remete para uma realidade remota, convém sublinhar que a esperança é a versão secular de uma ideia de fé. Em termos políticos, a esperança implica a tolerância no presente e a idealização de um destino comum. Quando Nicolas Sarkozy designa o seu plano para as ‘banlieues’ de “Esperança Subúrbio”, estará a precisamente a invocar o apelo político da esperança. Em rigoroso contraste, quando o Papa Bento XVI se vê impedido de discursar na Universidade de Roma, “La Sapienza”, observa-se a recusa da esperança e o apelo para uma visão parcial e sectária que ameaça a tolerância enquanto regra universal da civilização do Ocidente.

Em Portugal, o argumento político da esperança é um recurso raro, mas comum. Comum no discurso, mas raro na acção. Pela virtude do Governo e pelo estado da Nação, Sócrates é o Barack Obama nacional. Sendo assim, ainda haverá lugar para a esperança em Portugal?
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Carlos Marques de Almeida

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