quarta-feira, janeiro 30, 2008

O último dos moicanos

"As palavras de Teixeira dos Santos serão as últimas a ceder perante os sinais cada vez mais evidentes de abrandamento económico mundial.

Para quem ainda tenha dúvidas acerca dos riscos que pairam hoje sobre a economia nacional, basta observar o número de vezes que os membros do Governo, o governador do Banco de Portugal e o Presidente da República transmitem “mensagens de confiança” aos portugueses. Tantos recados, transpirados em “optimismo moderado” numa altura em que as grandes economias mundiais revêem as suas previsões de crescimento em baixa, só podem querer dizer uma coisa: estas pessoas estão mesmo preocupadas e, logo, nós também devemos estar.

A raiz da preocupação é, claro, a crise financeira internacional e a cada vez mais certa recessão norte-americana que deverá arrastar outros países: economias próximas como Espanha ou Reino Unido, e longínquas como Japão ou Singapura. Nestas latitudes está concentrada cerca de 12% da riqueza mundial e mais de 35% das exportações portuguesas – o caso é mesmo sério.

Face às nuvens negras que vêm de fora, o ministro das Finanças e o primeiro-ministro dão uma resposta política, baseada em argumentos económicos: o país está melhor preparado que há dois anos e meio (ou seja, quando José Sócrates foi eleito) para resistir a um choque externo. As contas públicas estão mais equilibradas – o que abre margem para um corte provável dos impostos – e os projectos de investimento das grandes empresas nacionais e estrangeiras (estimados em 1,5 mil milhões de euros em 2008) servirão de almofada ao esperado aperto do crédito. Por fim, como já afirmou Teixeira dos Santos, na Europa ninguém espera uma grande quebra motivada pelo contágio americano (o FMI discorda e cortou ontem o,5 pontos ao cenário inicial).

Há menos de duas semanas, em conversa com o Diário Económico – à margem de uma conferência de imprensa sobre o brilharete no défice que acabou por se centrar na crise internacional – o ministro das Finanças explicava de forma subtil que o seu cargo é político e que a única via que pode seguir é a de um “optimismo fundamentado”. As palavras de Teixeira dos Santos – e as do primeiro-ministro, para quem a crise inesperada promete dificultar o ano anterior às eleições – serão, assim, as últimas a ceder perante os sinais cada vez mais evidentes de abrandamento.

A retórica política soa, no entanto, de forma estranha aos portugueses – sabe, inevitavelmente, a optimismo num quadro de dificuldades. E são estas garantias do Governo que acabarão por ser julgadas daqui a um ano, nas eleições. A crise pode não significar mais uma recessão em Portugal, mas vai seguramente anular a aceleração que era esperada ainda há seis meses. A remodelação no Governo pode não ser suficiente para compensar as expectativas defraudadas naqueles que são os principais problemas para os portugueses: o desemprego e o crescimento
."

Bruno Faria Lopes

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