quinta-feira, fevereiro 14, 2008

AS TENTAÇÕES DE MARINHO PINTO

"O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, tem andado nas primeiras páginas dos jornais depois das declarações que fez sobre a corrupção nos negócios e nas relações entre o Estado e grupos com acesso privilegiado ao poder. Marinho falou alto e não houve quem não lhe pedisse nomes, factos e lugares das ocorrências. O Presidente chamou-o a Belém e os deputados aprestaram-se também para o ouvir no Parlamento. Marinho, que imagino bom conviva ao almoço, tornou-se rapidamente o sujeito mais requisitado do momento. Não há quem não o deseje com ardência. Também eu, se ele tiver tempo, me candidato a uma entrevista, porque também tenho perguntas a fazer. Para ser mais preciso, não é que eu minimize (longe disso) o problema da corrupção e as muitas formas de promiscuidade que existem em Portugal entre quem tem poder no Estado e quem tem poder na sociedade. E não recuso ao bastonário da Ordem em que estou inscrito (esclareça-se, com inscrição suspensa) nenhum direito de trazer esses temas para o debate público e de fazer todas as denúncias e censuras com o vigor que lhe apetecer. Aliás, há tempos que esses temas ou já são do conhecimento geral, ou transitaram directamente para a justiça.

Não precisámos do dr. Marinho para perceber que a vida pública portuguesa se transformou num desfile de processos: o "Apito Dourado", a operação "Furacão", a obscuridade de alguns bancos, as investigações da PJ ao acordo com que Isaltino Morais resolveu o litígio do Meco. Se juntarmos assuntos diversos como as revelações de José António Cerejo sobre os projectos de arquitectura assinados por Sócrates nos anos 80, ou curiosidades como os 300 despachos de um só ministro (Telmo Correio) num só dia, ou o quase pronunciamento que o general Garcia Leandro quase anunciou porque, entre outras coisas, o País quase não tolera as vilanias que se andam por aí a fazer, o retrato final não é animador. Ao menos, a investigação vai funcionando. Mas, só para abreviar a conversa mais íntima que desejo ter com o dr. Marinho, era bom que alguém lhe lembrasse que, antes de outra coisa (um servidor do bem, um procurador informal da República), ele é o bastonário da Ordem dos Advogados.

Isto significa tão-só que antes de se virar para fora em busca de legitimidade por via do estardalhaço, o dr. Marinho devia começar por se voltar para dentro e tratar dos muitos problemas com que a casa vive. Nunca conheci instituição tão desprezada pelo grosso dos advogados que conheço e, além disso, tão financeiramente predadora como a Ordem. Quotas e contribuições elevadas, serviços avulsos, ganhe muito ou pouco, tenha 25 ou 50 anos, ali uma pessoa está sempre a pagar. Veja se se trata da casa, dr. Marinho
. "

Pedro Lomba

Divulgue o seu blog!