A guerra civil encapotada

Duas na igreja, outra no comboio. Três numa semana. Facas ou pistolas, Bernardo viu de tudo e acabou sem nada. “Nós somos o divertimento deles.”

Ajeita os livros e faz-se sozinho rua acima – 16 anos de bairro a tropeçar no crime e o hábito roubou-lhe o medo.

“Vou por ali e já tento nem pensar nisso, só eu nunca levei!”

A sorte muda a cada esquina de Rio de Mouro, na linha de Sintra, e o colega João Rodrigues foi “espancado” na estação.

“Tenho amigos esfaqueados várias vezes e a mim encostam-me as facas ao pescoço”.
Os ataques são sempre feitos no escuro, ao fim da tarde.

Mas também vêm de “onde menos imagina”, desafia João.

Sai da Secundária Leal da Câmara e aponta discretamente ao portão do lado – os ‘mais pequenos’ da EB 2,3 Padre Alberto Neto.

“É um engano. Chumbam várias vezes e são mais velhos do que nós, já só andam ali para poder roubar.”Nada que o conselho executivo não saiba.

“Até os mais pequeninos são muitas vezes o reflexo daquilo que vêem em casa – um convite a entrarem na marginalidade”, lamenta ao CM o presidente João Simões.

O crime é afinal “normal” em Rio de Mouro e “toda a linha de Sintra precisa de outra política social”.

O professor diz que ali “são mais os antigos alunos – rapazes que abandonaram, foram abandonados e sem auto-estima entraram no mundo da delinquência e criminalidade”.

Mas não desistem da escola, agora pelos negócios da droga e do roubo. “Vejo-os da janela a encostarem -se às redes para traficar.

Ao final da tarde, já escuro, fazem esperas junto à rotunda para tentar assaltar as pessoas.”

As guerras importadas de África após a descolonização, são um dos efeitos das eternas guerras de etnias em África.

Quando se deslocam estas populações para locais onde há regras a cumprir, as populações que estão habituadas a cumprir as regras impostas, ficam prisioneiras das regras inventadas por mentecaptos, como os que fizeram o CPP, ou os que supervisionam a acção das polícias.
Assim, a população indígena que somos nós, ficamos prisioneiros no nosso próprio país e o que é mais grave, é que o politicamente correcto ainda não provou da violência dos que defende, e deveria.

É uma questão de tempo.
O politicamente correcto, quando fala na escravatura, esquece, que quem vendia e capturava os escravos aos esclavagistas eram indivíduos da mesma cor, de etnias diferentes.

Quando descobriram que os podiam vender ou trocar, por bens necessários em vez de os matarem, vendiam-nos.
Aqui, não há volta a dar neste argumento e podem contorcionar-se à vontade.
O racismo é tratá-los como os coitadinhos da sociedade, isso é racismo.
Quando no nosso caso, se ensinou o Português, os angolanos ou os moçambicanos nunca o seriam se não tivessem um veículo de comunicação, que foi a língua, portanto Angola, Guiné, Cabo Verde ou Moçambique, hoje, existem por causa da língua, tal como o imenso Brasil.
Exagero?
Penso que não.
Só o preconceito das ideias fará pensar o contrário.
O que se passa aqui, passa-se no Brasil, com a miséria provocada pelas grandes migrações das regiões mais pobres para as periferias das grandes cidades.
Por acaso o Sr Isaltino, o Sr Judas, o Sr Soares e todos os judas e soares do sítio não sabiam o que iriam provocar?
Pensam decerto que estão imunes à violência e á morte violenta?

Não estão.
Estão a ser vendidas cadeias para fazer condomínios de luxo, mas a verdade é eu vamos precisar delas.
Vamos precisar mais cedo do que se pensa dos militares que estão em guerras que não são nossas.
São voluntários, são pagos pelo dinheiro dos nossos impostos, deveriam ser eles a patrulhar as ruas.
Casos excepcionais, exigem medidas de excepção, antes que seja tarde, porque os dois lados estão armados.
Quem não cumpre as regras de convivência deve ser preso e expatriado se for o caso e se necessário o CPP alterado para penas cumulativas.
Quem provocou a iliteracia, as regras e as experiências sem nexo no ensino e a cultura de impunidade, deve ser afastado dos cargos políticos.
Uma nova República deverá renascer, mas apenas depois de castigar todos os actores que destruíram e enriqueceram à custa deste estado.
O Sr Bastonário dos Advogados ontem, surpreendeu quem o não conhecia.

Eu ontem não gostei do que ouvi, porque não gosto de teatro de marionettes.
Disse algumas verdades, para parecer credível e para agradar a alguns, os pobres como disse, mas esqueceu os pobres diabos que de vítimas passaram a acusados no processo Casa Pia. Falou em inocentes e em decapitações, tudo próprio de um espectáculo de bonecreiro.

Decerto muitos advogados coraram de vergonha.

Eu fiquei incomodado porque conhecia mal a figura.
Aprendamos...