Mau ambiente.
"A ausência de alternativa credível mais enfatiza Sócrates como o mais provável substituto de si próprio.
Estranho. O país está esquisito. Paira um ambiente de suspeição e de anátema sobre tudo e sobre todos. O motor do nosso dia-a-dia passou a ser a desconfiança. Portugal virou-se para dentro de si próprio num estranho acto de autoflagelação interna que coloca à vista geral o pior das suas entranhas. Seria sempre um exercício útil se, à laia de operação mãos limpas, dele soubéssemos extrair aqueles que são os tumores do sistema e se, por consequência, algo de verdadeiramente transformador fôssemos capazes de transportar para o futuro. Já duvido que seja um exercício útil quando o mesmo parece apenas esgotar-se no mero lance de ataque seja de indivíduo contra indivíduo, de sector contra sector, de corporação contra corporação ou de facção contra facção. Pergunta-se: como é possível construir num ambiente de desconstrução geral?
O tabu. É por isso que, mais do que uma entrevista certinha nos argumentos e fundamentada nos números, pedia-se ao primeiro-ministro algo que nos fizesse motivar e acreditar. Ao fim de três anos de governação, José Sócrates ainda não conseguiu apresentar-nos uma agenda susceptível de gerar em seu torno as forças mobilizadoras necessárias para estimular uma nova oportunidade para Portugal. Vivemos de migalhas e satisfazemo-nos com umas décimas acima no percentual do crescimento económico previsto. Esquecemos que continuamos em divergência face ao crescimento médio da União Europeia e que Espanha, por exemplo, vai já longe do nosso alcance. Se o dado relevante que saiu da entrevista de José Sócrates se resume à construção de um novo tabu é porque nada de verdadeiramente interessante existiu que se fizesse sobressair sobre o facto. Um facto que, diga-se, é bem construído no plano do jogo político, quer porque sobre o tabuleiro surgiram novos dados, como seja o reforço expressivo da via Alegre de oposição a Sócrates, quer porque a ausência de alternativa credível mais enfatiza Sócrates como o mais provável substituto de si próprio.
As reflexões. Houve uma altura em que se avançou com uma espécie de estados gerais da Social-Democracia que depois acabaram por perder gás e impacto, fruto de circunstâncias várias, fossem elas de oportunidade, fossem de modelo. Facto é que o actual surgimento de vários grupos de reflexão, que gravitam neste circuito político, é bem a expressão de que continua a faltar à Social-Democracia olhar sobre si própria à luz de um novo tempo e de um novo espaço. Um olhar que se pretende virado para a substância das coisas e não determinado pelas imposições dos calendários políticos ou das agendas individuais. O exercício que se pretende é muito mais um acto constitutivo e menos um qualquer malabarismo mediático de instantânea eficácia mas de nulas consequências. "
Rita Marques Guedes
Estranho. O país está esquisito. Paira um ambiente de suspeição e de anátema sobre tudo e sobre todos. O motor do nosso dia-a-dia passou a ser a desconfiança. Portugal virou-se para dentro de si próprio num estranho acto de autoflagelação interna que coloca à vista geral o pior das suas entranhas. Seria sempre um exercício útil se, à laia de operação mãos limpas, dele soubéssemos extrair aqueles que são os tumores do sistema e se, por consequência, algo de verdadeiramente transformador fôssemos capazes de transportar para o futuro. Já duvido que seja um exercício útil quando o mesmo parece apenas esgotar-se no mero lance de ataque seja de indivíduo contra indivíduo, de sector contra sector, de corporação contra corporação ou de facção contra facção. Pergunta-se: como é possível construir num ambiente de desconstrução geral?
O tabu. É por isso que, mais do que uma entrevista certinha nos argumentos e fundamentada nos números, pedia-se ao primeiro-ministro algo que nos fizesse motivar e acreditar. Ao fim de três anos de governação, José Sócrates ainda não conseguiu apresentar-nos uma agenda susceptível de gerar em seu torno as forças mobilizadoras necessárias para estimular uma nova oportunidade para Portugal. Vivemos de migalhas e satisfazemo-nos com umas décimas acima no percentual do crescimento económico previsto. Esquecemos que continuamos em divergência face ao crescimento médio da União Europeia e que Espanha, por exemplo, vai já longe do nosso alcance. Se o dado relevante que saiu da entrevista de José Sócrates se resume à construção de um novo tabu é porque nada de verdadeiramente interessante existiu que se fizesse sobressair sobre o facto. Um facto que, diga-se, é bem construído no plano do jogo político, quer porque sobre o tabuleiro surgiram novos dados, como seja o reforço expressivo da via Alegre de oposição a Sócrates, quer porque a ausência de alternativa credível mais enfatiza Sócrates como o mais provável substituto de si próprio.
As reflexões. Houve uma altura em que se avançou com uma espécie de estados gerais da Social-Democracia que depois acabaram por perder gás e impacto, fruto de circunstâncias várias, fossem elas de oportunidade, fossem de modelo. Facto é que o actual surgimento de vários grupos de reflexão, que gravitam neste circuito político, é bem a expressão de que continua a faltar à Social-Democracia olhar sobre si própria à luz de um novo tempo e de um novo espaço. Um olhar que se pretende virado para a substância das coisas e não determinado pelas imposições dos calendários políticos ou das agendas individuais. O exercício que se pretende é muito mais um acto constitutivo e menos um qualquer malabarismo mediático de instantânea eficácia mas de nulas consequências. "
Rita Marques Guedes
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