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"Na campanha para as últimas "presidenciais", entrevistei, para outro jornal, todos os candidatos. Todos, menos Francisco Louçã, que um desacerto de datas me impediu de conhecer. Confesso que fiquei aliviado. Não por questões políticas, mas por questões clínicas: de alguma forma, temia que o homem explodisse de indignação à minha frente e o INEM se atrasasse. Não é um medo extensível. Estive em duas ocasiões com Jerónimo de Sousa, cujas obrigações profissionais o levam a proferir as maiores barbaridades. Comunismo à parte, porém, Jerónimo é um sujeito afável, com quem não custa fumar um cigarro sem falar de disparates, e que noutras circunstâncias daria um parceiro decente de bola ou churrasco. Louçã, pelo contrário, parece inviável fora das circunstâncias que o celebrizaram.
Quando, por exemplo na entrevista ao DN e à TSF, ele fala, com insuperável deleite, de "radicalidade", "protesto", "resistência", "acção", "contestação", "combate" e "destruição", percebe-se que esta fúria ininterrupta é o seu estado natural, e que, sem a fúria e o pesadíssimo sarcasmo que a acompanha, Louçã não faria sentido. Com a fúria, Louçã também não faz sentido, mas, a julgar pelo relativo sucesso do Bloco, há milhares de pessoas convencidas do contrário.
Elas lá sabem. A mim, que sou dado à compaixão, Louçã aflige-me. A revolução permanente não implica a apoplexia iminente. Ou se calhar implica, donde a "deriva de direita" de tantos seguidores de Trotsky se dever mais provavelmente a conselho médico do que a convicção ideológica. Louçã, caso raro, não segue conselhos e não se move para lado nenhum. Na citada entrevista, ele lembra o óbvio: "Sempre fui o que sou hoje." Pois foi: uma geringonça que reproduz infantilidades "esquerdistas" com a cadência de um metrónomo e a danação dos detentores da Verdade.
Não haverá, além dos camaradas do BE que imitam a exaltação do chefe, uma alma apartidária que lhe sugira calma? E que o informe de que o mundo e o capitalismo não vão acabar nem hoje nem graças ao seu fervor? E que uma síncope, provocada pelo combate ao "sistema" que o tolera e alimenta, ainda acaba com ele primeiro? Não terá amigos assim sinceros e caridosos? Talvez não: se é desgastante ser Francisco Louçã, aturá-lo rondaria o masoquismo. Mesmo à distância garantida pelos "média", aquele drama humanitário dói."
Alberto Gonçalves
Quando, por exemplo na entrevista ao DN e à TSF, ele fala, com insuperável deleite, de "radicalidade", "protesto", "resistência", "acção", "contestação", "combate" e "destruição", percebe-se que esta fúria ininterrupta é o seu estado natural, e que, sem a fúria e o pesadíssimo sarcasmo que a acompanha, Louçã não faria sentido. Com a fúria, Louçã também não faz sentido, mas, a julgar pelo relativo sucesso do Bloco, há milhares de pessoas convencidas do contrário.
Elas lá sabem. A mim, que sou dado à compaixão, Louçã aflige-me. A revolução permanente não implica a apoplexia iminente. Ou se calhar implica, donde a "deriva de direita" de tantos seguidores de Trotsky se dever mais provavelmente a conselho médico do que a convicção ideológica. Louçã, caso raro, não segue conselhos e não se move para lado nenhum. Na citada entrevista, ele lembra o óbvio: "Sempre fui o que sou hoje." Pois foi: uma geringonça que reproduz infantilidades "esquerdistas" com a cadência de um metrónomo e a danação dos detentores da Verdade.
Não haverá, além dos camaradas do BE que imitam a exaltação do chefe, uma alma apartidária que lhe sugira calma? E que o informe de que o mundo e o capitalismo não vão acabar nem hoje nem graças ao seu fervor? E que uma síncope, provocada pelo combate ao "sistema" que o tolera e alimenta, ainda acaba com ele primeiro? Não terá amigos assim sinceros e caridosos? Talvez não: se é desgastante ser Francisco Louçã, aturá-lo rondaria o masoquismo. Mesmo à distância garantida pelos "média", aquele drama humanitário dói."
Alberto Gonçalves
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