Carta aberta a Rui Costa
"Meu caro Rui Sabes tão bem quanto eu a consideração que tenho por ti e lamento que alguns ‘oportunistas’ andem a meter achas numa suposta ‘fogueira’, levando-te a responder a comentários que tenho produzido no âmbito das minhas atribuições profissionais. Vi-te nascer praticamente para o futebol e sempre te olhei como um predestinado. Mais: como um atleta de qualidades raras e uma pessoa de excelente trato. Como não perdi a memória e tu também não, lembramo-nos os dois dos tempos que passámos juntos, em estágios, em treinos, em concentrações, em jogos da Selecção Nacional de sub-20, cada qual no seu papel. Tratámo-nos sempre com mútuo respeito e nem o facto de ser um pedaço mais velho não me pesa a consciência de te ter tratado com menos deferência e até algum afecto, dentro daquilo que é permitido a profissionais com obrigações distintas. Os teus pais, sempre presentes na tua fase de crescimento futebolístico, sabem isso muito bem.
Sei que tens, nos jornais, quem te elogie as qualidades mesmo quando os jogos não te saem de feição. Para eles, tu és sempre o Maestro, quer jogues bem ou menos bem. Estão sempre prontos para te telefonar, a saber se a família está bem e se precisas de alguma coisa. Conheço-os tão bem quanto tu. Nos momentos certos, lá estão eles para promover a tua imagem. Sabes que não sou assim. Nem contigo, nem com o Luís, nem com o Fernando, nem com o João, nem com o Vítor, nem com o Paulo, nem com todos aqueles (aos milhares) que acompanhei praticamente desde o ‘berço’. Não fiz nada de especial, ninguém está em dívida comigo, mas também não admito que subvertam as coisas.
Ninguém mais do que eu, na imprensa desportiva, defendeu a emancipação dos jogadores portugueses – e vocês, às vezes, esquecem-se das responsabilidades que adquiriram. Deixa-me dizer-te que a tua geração tem uma responsabilidade acrescida. Se gostam do futebol português, façam alguma coisa por ele. Não basta ganhar dinheiro (e ainda bem que o ganharam!!!) e utilizar a imprensa para promoção pessoal e de certos negócios. Vocês também fazem parte do negócio da comunicação social e é bom ter a consciência de que os direitos e deveres devem ser repartidos.
Vivemos outro tempo. Dizes que não traíste Camacho. Podes dizê-lo. Mas deves ter consciência de que, se a situação fosse inversa, não te irias sentir decerto muito confortável. Foste usado e levado pela onda. Embora não acredite numa inocência imaculada, acredito que te tivesses deixado levar por um certo deslumbramento. Afinal, ser ‘o’ Benfica não é para todos. Colocaram-te nessa posição e era difícil recusar. Quando nos sentimos atirados para o topo de um clube como o Benfica isso não pode deixar de causar certo impacto. Compreendo-o. A questão é saber se te sentes preparado para preencheres os défices estruturais do Benfica. Como julgo que não és super-herói e porque passas directamente de jogador para director desportivo, num momento particularmente difícil da existência do Benfica, não creio que não tenhas parado um instante para pensar se esta solução é boa para ti e para o Benfica.
Repara: estamos na fase da mística. Achas que a mística se injecta? Achas que chamar o Chalana, o Shéu, o Rui Águas e o Eusébio para a tua beira é suficiente? É importante que o Benfica valorize as suas figuras, mas reconstruir a mística não é um processo automático. Se fosse, a equipa teria ganho ao Getafe. Repara: estás a jogar e a tratar de assuntos administrativos. Isto faz algum sentido? Achas que todos os jogadores à tua volta vêem isso com bons olhos? Os Nunos e o Makukula até podem ver – e os outros? Não te passa pela cabeça que a desmotivação de Camacho pode ter começado no momento em que te quiseram motivar? Não estou a dizer que, ao contrário do que todos dizem, não possas ser solução no futuro. Mas já pensaste na possibilidade de te teres tornado num problema dentro da solução? Tenho a certeza que a tua relação com o presidente é boa.
Não era boa a relação dele com Veiga? Não era boa com Fernando Santos? Não era tão boa com Camacho? Serás chamado a escolher um treinador. Que vais fazer? Certamente ir buscar um treinador que domines. Isso é bom para o Benfica, mesmo que esse treinador venha de Itália?
Se me permites, peço para reflectires, porque temo que, daqui a um tempo, relativamente escasso, estejas farto das incongruências do costume e concluas que foi uma perda de tempo. Creio que estás a tempo de reunir mais e melhores condições para seres um grande director desportivo, no Benfica. Não agora. Crê-me com sinceridade e consideração,
Rui Santos. "
Sei que tens, nos jornais, quem te elogie as qualidades mesmo quando os jogos não te saem de feição. Para eles, tu és sempre o Maestro, quer jogues bem ou menos bem. Estão sempre prontos para te telefonar, a saber se a família está bem e se precisas de alguma coisa. Conheço-os tão bem quanto tu. Nos momentos certos, lá estão eles para promover a tua imagem. Sabes que não sou assim. Nem contigo, nem com o Luís, nem com o Fernando, nem com o João, nem com o Vítor, nem com o Paulo, nem com todos aqueles (aos milhares) que acompanhei praticamente desde o ‘berço’. Não fiz nada de especial, ninguém está em dívida comigo, mas também não admito que subvertam as coisas.
Ninguém mais do que eu, na imprensa desportiva, defendeu a emancipação dos jogadores portugueses – e vocês, às vezes, esquecem-se das responsabilidades que adquiriram. Deixa-me dizer-te que a tua geração tem uma responsabilidade acrescida. Se gostam do futebol português, façam alguma coisa por ele. Não basta ganhar dinheiro (e ainda bem que o ganharam!!!) e utilizar a imprensa para promoção pessoal e de certos negócios. Vocês também fazem parte do negócio da comunicação social e é bom ter a consciência de que os direitos e deveres devem ser repartidos.
Vivemos outro tempo. Dizes que não traíste Camacho. Podes dizê-lo. Mas deves ter consciência de que, se a situação fosse inversa, não te irias sentir decerto muito confortável. Foste usado e levado pela onda. Embora não acredite numa inocência imaculada, acredito que te tivesses deixado levar por um certo deslumbramento. Afinal, ser ‘o’ Benfica não é para todos. Colocaram-te nessa posição e era difícil recusar. Quando nos sentimos atirados para o topo de um clube como o Benfica isso não pode deixar de causar certo impacto. Compreendo-o. A questão é saber se te sentes preparado para preencheres os défices estruturais do Benfica. Como julgo que não és super-herói e porque passas directamente de jogador para director desportivo, num momento particularmente difícil da existência do Benfica, não creio que não tenhas parado um instante para pensar se esta solução é boa para ti e para o Benfica.
Repara: estamos na fase da mística. Achas que a mística se injecta? Achas que chamar o Chalana, o Shéu, o Rui Águas e o Eusébio para a tua beira é suficiente? É importante que o Benfica valorize as suas figuras, mas reconstruir a mística não é um processo automático. Se fosse, a equipa teria ganho ao Getafe. Repara: estás a jogar e a tratar de assuntos administrativos. Isto faz algum sentido? Achas que todos os jogadores à tua volta vêem isso com bons olhos? Os Nunos e o Makukula até podem ver – e os outros? Não te passa pela cabeça que a desmotivação de Camacho pode ter começado no momento em que te quiseram motivar? Não estou a dizer que, ao contrário do que todos dizem, não possas ser solução no futuro. Mas já pensaste na possibilidade de te teres tornado num problema dentro da solução? Tenho a certeza que a tua relação com o presidente é boa.
Não era boa a relação dele com Veiga? Não era boa com Fernando Santos? Não era tão boa com Camacho? Serás chamado a escolher um treinador. Que vais fazer? Certamente ir buscar um treinador que domines. Isso é bom para o Benfica, mesmo que esse treinador venha de Itália?
Se me permites, peço para reflectires, porque temo que, daqui a um tempo, relativamente escasso, estejas farto das incongruências do costume e concluas que foi uma perda de tempo. Creio que estás a tempo de reunir mais e melhores condições para seres um grande director desportivo, no Benfica. Não agora. Crê-me com sinceridade e consideração,
Rui Santos. "
1 Comments:
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