A dança dos coxos.
"Os professores, descon-tentes e manietados, manifestam-se. Sócrates, sentindo a contestação a crescer, teve uma ideia delirante. Manifestar-se. Os professores estão descontentes com o Governo, a gestão das escolas e sobretudo com o novo sistema da sua avaliação. Sócrates, que gosta de mostrar quem manda, está descontente com os professores, que não acreditam em soluções nem homens providenciais e querem ter uma palavra a dizer nas questões mais importantes das suas escolas e vidas profissionais. Os pais dos alunos que erradamente julgam que as escolas devem suprir a falta de acompanhamento que eles (pelas mais variadas razões) não são capazes de dar aos seus filhos, estão descontentes com tudo.
Com Sócrates, com o sistema de Ensino, com a falta de segurança generalizada nas, e à volta, das escolas e com os professores. Só os seus lindos meninos estão inocentes. Alguns alunos, entretanto, vão agredindo uns professores e tornando as salas de aulas verdadeiros happenings onde tudo se pode fazer excepto ensinar ou aprender. Os professores, descontentes e manietados, manifestam-se. Sócrates, (porque Sócrates é o PS e o PS é uma extensão em coma político profundo dele próprio) sentindo a contestação a crescer, teve uma ideia delirante. Manifestar-se, também. Entrar na dança que os descontentes lhe sugerem. É difícil de acreditar, mas é verdade. Abandonado o patamar da discussão racional das razões de cada um entra-se no domínio do fantástico. Da representação. Da indigência política e intelectual. O ordeiro PS de Sócrates, que já começou a corrigir o tiro, ameaçou manifestar-se ‘espontaneamente’ em apoio ao grande chefe. Contra os professores e todos os que ousem contestá-lo.
À moda das grandes manifestações de ‘desagravo’ Salazaristas que enchiam o Terreiro do Paço com gentes que rumavam de borla à capital acompanhadas das respectivas bandeirinhas e farnel em troca de duas horas ao Sol a olhar para as varandas dos ministérios. Uma verdadeira viagem no tempo. O PS (leia-se, sempre, o Governo) a manifestar-se nas ruas contra o descontentamento dos cidadãos é coisa que nem ao diabo lembraria. Seria a transferência das razões do poder para o terreiro que é, por natureza, o palco dos que não têm voz. E onde facilmente seria batido.
O descabelado convívio de desagravo ‘socialista’ já tinha local e data marcados. Seria na Praça D. João I, no Porto, no próximo dia 15. Mas o ridículo e o perigo de outras forças mais efectivas ao nível da rua poderem deixar uma má recordação aos promotores deste original evento fê-los recolherem ao Pavilhão Académico. Já não teremos o gozo de ver Sócrates e os seus pelotões de infantaria a manifestar-se nas ruas contra os descontentes que lhes tiram o sono. Sócrates percebeu a tempo o gozo que estava a dar e no dia 15 lá irá, envergonhado, até ao Pavilhão Académico dizer às suas tropas que o PS é forte, tem o exclusivo da inteligência deste País, não receia nada nem ninguém e sobreviverá por todo o sempre. Será ovacionado até à exaustão. E acreditará que o universo começa e acaba no Pavilhão Académico.
Os professores desfilarão, amanhã, sabendo que estão a bater em mortos, mas que, ironicamente, a sua luta ameaça ser inglória. Porque a ministra é a herdeira dos amores que Sócrates devotava a Correia de Campos, o primogénito sacrificado para aplacar a fúria dos deuses. E nem Sócrates consegue viver sem um grande amor..."
João Marques dos Santos
Com Sócrates, com o sistema de Ensino, com a falta de segurança generalizada nas, e à volta, das escolas e com os professores. Só os seus lindos meninos estão inocentes. Alguns alunos, entretanto, vão agredindo uns professores e tornando as salas de aulas verdadeiros happenings onde tudo se pode fazer excepto ensinar ou aprender. Os professores, descontentes e manietados, manifestam-se. Sócrates, (porque Sócrates é o PS e o PS é uma extensão em coma político profundo dele próprio) sentindo a contestação a crescer, teve uma ideia delirante. Manifestar-se, também. Entrar na dança que os descontentes lhe sugerem. É difícil de acreditar, mas é verdade. Abandonado o patamar da discussão racional das razões de cada um entra-se no domínio do fantástico. Da representação. Da indigência política e intelectual. O ordeiro PS de Sócrates, que já começou a corrigir o tiro, ameaçou manifestar-se ‘espontaneamente’ em apoio ao grande chefe. Contra os professores e todos os que ousem contestá-lo.
À moda das grandes manifestações de ‘desagravo’ Salazaristas que enchiam o Terreiro do Paço com gentes que rumavam de borla à capital acompanhadas das respectivas bandeirinhas e farnel em troca de duas horas ao Sol a olhar para as varandas dos ministérios. Uma verdadeira viagem no tempo. O PS (leia-se, sempre, o Governo) a manifestar-se nas ruas contra o descontentamento dos cidadãos é coisa que nem ao diabo lembraria. Seria a transferência das razões do poder para o terreiro que é, por natureza, o palco dos que não têm voz. E onde facilmente seria batido.
O descabelado convívio de desagravo ‘socialista’ já tinha local e data marcados. Seria na Praça D. João I, no Porto, no próximo dia 15. Mas o ridículo e o perigo de outras forças mais efectivas ao nível da rua poderem deixar uma má recordação aos promotores deste original evento fê-los recolherem ao Pavilhão Académico. Já não teremos o gozo de ver Sócrates e os seus pelotões de infantaria a manifestar-se nas ruas contra os descontentes que lhes tiram o sono. Sócrates percebeu a tempo o gozo que estava a dar e no dia 15 lá irá, envergonhado, até ao Pavilhão Académico dizer às suas tropas que o PS é forte, tem o exclusivo da inteligência deste País, não receia nada nem ninguém e sobreviverá por todo o sempre. Será ovacionado até à exaustão. E acreditará que o universo começa e acaba no Pavilhão Académico.
Os professores desfilarão, amanhã, sabendo que estão a bater em mortos, mas que, ironicamente, a sua luta ameaça ser inglória. Porque a ministra é a herdeira dos amores que Sócrates devotava a Correia de Campos, o primogénito sacrificado para aplacar a fúria dos deuses. E nem Sócrates consegue viver sem um grande amor..."
João Marques dos Santos

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