sábado, março 01, 2008

Mal estar

A partir de uma metáfora de António Barreto.
O que têm em comum uma metáfora do sociólogo António Barreto, o relatório da Sedes, um diálogo à porta de um supermercado de Évora e a insurreição social proposta por George Steiner em 25 de Outubro de 2007, na Fundação Calouste Gulbenkian?
Muito, digo eu.
Num programa televisivo de Fevereiro de 2008, António Barreto afirmou que tinha ido, por curiosidade, ver o edifício do Casino de Lisboa e que, ao passar na rua, reparou que o Pavilhão de Portugal estava coberto de rachas na estrutura.
Então lembrou-se de uma metáfora: "O Pavilhão do Futuro é um casino e o Pavilhão de Portugal está coberto de rachas."
O relatório da Sedes Tomada de posição - Fevereiro de 2008, ao apontar para uma degradação da sociedade, aponta para uma estrutura cheia de rachas, para "um mal-estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional".
No contexto do peditório da Cáritas, presenciei um diálogo muito interessante à porta de um supermercado de Évora, no qual a pessoa a quem tinha sido pedido um donativo estava a fundamentar a sua recusa em dar com argumentos que poderiam ser os meus e de muitos leitores.
Dizia que pagava impostos todos os dias, há muitos anos, que não via quaisquer benefícios por fazer esses pagamentos e ainda por cima o dinheiro dos seus impostos servia para oferecer edifícios (Pavilhão do Futuro) a um dos homens mais ricos do mundo, o sr. Stanley Ho.
Por essas razões, dizia à Cáritas que fosse pedir ao Estado uma parte dos seus impostos, para desenvolver os seus programas sociais. Este é o "mal-estar difuso" de que fala a Sedes, que leva um cidadão a recusar um donativo, com um argumento que mina a confiança essencial à coesão nacional.
Em Outubro de 2007, o pensador George Steiner apelava à revolta social, ao ponto de sugerir uma revolta social violenta, por parte daqueles que se sentem ofendidos, esta é a palavra correcta, pelas classes políticas, que neste estado de coisas coincidem com as classes que detêm o poder económico (...).
Se o futuro de Portugal é um casino, se o Pavilhão de Portugal rachou, se um grupo de pensadores fala em "mal-estar difuso" e se um cidadão, como muitos milhares de outros, não confia ao ponto de recusar um simples donativo, então George Steiner faz bem em admirar-se por que é que as pessoas não se revoltam.
Depois de tudo isto, recordemos um momento populista do Presidente da República Portuguesa, no seu discurso de Ano Novo (ou de Natal), ao sentir-se preocupado com os ordenados auferidos pelos dirigentes das grandes empresas.
Por um lado, é assunto puramente privado, da conta dos accionistas dessas empresas (a não ser que a Presidência da República esteja a defender os interesses dos accionistas) e, por outro, o Presidente da República tinha muito por onde chamar a atenção, nomeadamente quanto ao salário mínimo legal, quanto à exploração de mão-de-obra barata, quanto aos salários de miséria pagos às pessoas que trabalham à hora, quanto ao índice de miséria infantil em Portugal (...). Razão tem o grande pensador em admirar-se.
Pedro Bravo
Évora
Não resisti a postar este texto, (enviado por um amigo por mail), de Pedro Bravo, apenas direi bravo Pedro!

14 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sinto muita tristeza por nós todos. É extremamente lamentável que 34 anos depois do 25/4 e 23 anos depois da adesão à Europa,este país se encontre como está. Isto prova que esta geração de políticos não soube governar Portugal e,infelizmente, não vislumbro que a próxima esteja mais preparada.Vão-se desperdiçar duas gerações ingloriamente. "Morro com a Pátria".

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

a pobresa é o resultado da falta de justiça e trabalho para todos porque infelismente o trabalho premitido não é para todos e a justiça está muito aquém de um país democratico é tempo de os portugueses levantarem a vós e diser queremos trabalho e justiça

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Este é mais um relatório, a juntar a muitos outros de organismos nacionais e comunitários, a referir que em Portugal as desigualdades aumentam e são as maiores nos países da UE. Curiosamente o min.das finança disse na semana passada no parlamento que estão a baixar. A propaganda é de tal maneira "refinada", que chegou-se ao ponto do "país rosa" desmentir os factos e números.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

os governos teem feito pelas dezigualdades.enquanto se roubar de metralahadora em punho.enquanto a corrupcao de colarinho branco andar os olhos de todos, sem vergonha politicos reformados com uns anitos no poder,reformas arranjadas milionarias .um povo so procura beneficios,so olha para o vizinho.nao entende que a culpa e de quem destribui a riqueza do pais.politicos e juizes vao gozando.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

O que Bruxelas diz, só vem confirmar o que os portugueses já tinham percebido e sentido na primeira pessoa, pois quem é que vive com um salário mínimo de 380,00 euros líquidos? São estas pessoas que vivem em risco de pobreza e se tiverem um filho, esse risco aumenta. No geral os salários são muito baixos em relação ao custo de vida, excepto para uma pequena percentagem. Leiria

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Mas que grande novidade... a novidade é esta: Os anos passam e a vida continua a piorar, mais desigualdades, menos fé nesta corja de políticos e um perfeito estado de apatia e infelicidade... para alguns! Uma revolução está para breve e Deus QUEIRA que, desta vez, seja sem cravos!

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

E quanto aos outros que ficam sem trabalho, sim falo da situação dos recibos verdes, que infelizmente nem direito a um subsidio têm. E esses estão enquadrados aonde? E quando é o póprio IEFP a mandar embora as prestações de serviços, digam-me (quem saiba é claro)em que escala estamos inseridos, porque para mim só me resta ou ir pedir ou roubar.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Enquanto o povo português está na cauda da Europa, com menor rendimento salarial e cada vez menos saúde e educação, os ricos estão cada vez mais ricos.Os ex. gestores do BCP, sairam e vão ficar ricos sem jogar no euromilhões.Milhares vão receber por ano/por toda a vida.Os lucros do bancos nunca foram tão altos, e terem trabalhadores a ganhar 500 euros atrás do balções.E este o país que temos.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Estamos numa situação mt pior do que antes do 25.É bem feito,calem-se,não se queixem, nós temos o que merece-mos.Aqui é só telenovelas,futebol e copos; o que interessa e de que maneira aos politicos;insultam-se os árbitros de futb.mas não vão p a rua para limparem o país e exigir-se condições de vida e de trabalho dignas de um país da UE.Por isso têm o q merecem.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Portugal tem mais desigualdades, veio logo o governo dizer que isso era em 2005, que agora estava diferente. Pois está, está muito pior, é que para além desses pobres continuarem pobres, há muitos que para lá caminham (classe média e baixa)

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Uma vergonha! Isto porque há 8% da população portuguesa que arrecadou a maior fatia de dinheiro e toda a gente sabe que não foi de forma honesta, porque a trabalhar honestamente, ninguém fica tão rico! Nestes, o ministro das Finanças não toca. Podem ter milhões em off-shores, comprar palacetes, barcos ou aviões que ninguém lhes pede contas.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Todos sabemos da miséria e pobreza envorgonhada que existe neste País. Tal situação deve-se aos governos do PSD e PS que têm estado no poder, permitindo fugas ao fisco, corrupção descarada, altos salários para "alguns", chorudas indemnizações para "outros", etc. O que é preciso é avisar a malta para um novo 25 de Abril e acabar com a ditadura dita democrática! Voto é arma do Povo, temos de usa-la!

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Pobres? Mas não foi o que o PM disse no seu discurso. Portugal tem mais desigualdade, mas que engraçado e eu que pensava que Portugal já não existia. Então ainda não venderam isto tudo? As coisas que nós aprendemos em Demo..cra..cia.

sábado, março 01, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Este governo PS rebenta com o poder de compra da classe média, que caminha para a pobreza e depois ainda tem a lata de de dizer que dá uns subsidios a quem enviou para a pobreza e logo assim dizer-se socialista.

sábado, março 01, 2008  

Enviar um comentário

<< Home

Divulgue o seu blog!