Morangos com cicuta

Ainda sobre o vídeo (por estes dias só há um), João Grancho, coordenador da linha SOS Professor, disse:

"Este foi um acto condenável, mas recorrente."

Na quinta-feira, assustei-me com o vídeo.

Ontem, assustei-me porque o que me dá sustos é, afinal, banal.

A sério? Um professor ser arrastado por um aluno durante longos minutos, ser tratado por tu e aos gritos, ser gozado pela turma inteira (e não à socapa), ter toda a cena filmada, e ter como solução fugir, porta fora, é "recorrente".

Isto é, acontece aqui e ali e a tantos que é normal na sala dos professores o encolher de ombros: "Lá me aconteceu, levei nas trombas. Passas-me o jornal?"

A sério? Com risco de passar por ingénuo, garanto: não fazia ideia.

Não tenho soluções para os males do mundo, excepto a recusa de achar natural o que não é.

Se a escola é aquilo que vi, pergunto: como é que uma classe que se revelou tão mobilizada ainda há dias suporta o fascismo recorrente que lhe é infligido por miúdos? "

Ferreira Fernandes

Fascismo recorrente?

Por estas e por outras é que ainda hoje ninguém sabe o que é fascismo.

O que é um regime fascista e se fascismo foi o de Hitler, Mussolini, o de Lenine e Stalin, ou o de Mao, ou se o de todos.

Os senhores jornalistas banalizam termos e ideias.

Das ideias preconcebidas fica o rasto da ignorância do sítio onde escrevem porque os deixam.

Os meninos sabem onde podem pisar o risco.

Em casa se pisam o risco, levam uma lapada pedagógica, ou então já sabem que o respeitinho é muito bonito.Por vezes, nem isso alguns precisaram.

Antes, a grande maioria das vezes, a autoridade dos pais não era discutida, hoje, pela mão de senhores das televisões e das novelas de mentira das mesmas, as cabeças dos meninos ficam confusas, porque a vida não é como a dos moranguitos que lhes impingem, daí a vertigem.

As escolas tornaram-se depósitos de crianças e adolescentes, porque os país precisam de sustentar a vidinha da sociedade de consumo que lhes disseram que era para continuar.

Assim, quando chegam a casa, já as crianças estão quase a dormir, os adolescentes ou ainda não chegaram ou não se sabe por onde andaram e se acontece alguma coisa fora do normal, a culpa é do professor ou da escola, ou então têm de ir ao médico, ao psicólogo ou ao psiquiatra, curar a doença que foi incubada em casa.

Já nem complexo de culpa é.

Já nem complexo é.

Já é uma patologia familiar e social sem cura, porque os pedagogos deste estado agora têm de mostrar que se chegou ao limite.

O problema é que se chegou a um ponto de não retorno.

Como a crise é para continuar, vamos aguardar pelas cenas dos próximos capítulos.

Se fazem na escola o que fazem em casa então temos caso de polícia e de juízo.

Como juízo é coisa que não abunda no sítio e porque são exigidas tantas coisas por cá, que tal exigir um estudo à maturidade e sanidade mental dos fazedores de Códigos Penais?

Pelo menos uma coisa se concluiria: é que vivem com o corpo num sítio e são alienados da realidade existente no sítio.

Necessitavam ser obrigados a estágio junto de locais como os chamados bairros problemáticos, sem segurança, a permanecer no Instituto de Medicina Legal, agora I.P. e assistir às autópsias da violência que dizem ser pontuais.

Depois, novo exame para verificar se aprenderam alguma coisa, restando sempre o internamento compulsivo, para os recalcitrantes alienados, sem direito à reforma a que os políticos deste sítio têm em acumulação com o impensável.

Afinal, dizia alguém, que a crise do capitalismo actual é uma crise com muitas vítimas, mas sempre com os beneficiários conhecidos da Forbes e nada acontece por acaso, até o acto da matulona arrastar a professora pela sala de aula...

Boa Páscoa, afinal quer dizer passagem, do Inverno para Primavera, se quiserem...