terça-feira, abril 01, 2008

SAIR DO ARMÁRIO, CORRER PARA ISRAEL

"O Ocidente pode nem saber exactamente o que é o povo palestinano. Ainda assim, é inegável que, numa vasta maioria, "está" com ele. A julgar pelos subsídios, os estadistas estão com os palestinianos. A julgar pela opinião avulsa, os cidadãos médios estão com os palestinianos. A julgar pelas regulares marchas indignadas, as minorias, incluindo por exemplo os movimentos gay, estão com os palestinianos, irmanados por uma opressão comum, além de uma vontade comum de protestar o "nazi- -sionismo".

É difícil apurar aquilo que, nesta piedade consensual, é ignorância ou hipocrisia. O DN conta a história de X, 33 anos, palestiniano de Jenine, homossexual, namorado de um israelita e em perigo de vida na terra natal pelos dois últimos motivos. Depois de uma requisição às respectivas autoridades, X obteve de Israel permissão para se juntar ao amante. Há dias, rumou a Telavive, em busca de protecção definitiva face à selvajaria.

O currículo de X não tem nada de inédito. Mesmo que não irrompa pelas manchetes com a prontidão das "atrocidades" israelitas, a homofobia violenta é moeda corrente em Gaza e na Cisjordânia. Normalmente, começa-se por tentar corrigir a "desonra" em família com o recurso a espancamentos pedagógicos. Se a pedagogia não resulta, o "pervertido" é entregue às compassivas mãos da polícia, que o tortura até ao desmaio ou à denúncia de companheiros de anátema, não necessariamente por esta ordem. Caso escape às ameaças de morte ou, o que será mais decisivo, à própria morte, sobra ao homossexual palestiniano uma fatal e, aos olhos ocidentais, inacreditável alternativa: fugir para Israel

Por razões políticas e não só, talvez não encontre o paraíso. Em Israel, como de resto em qualquer parte do mundo decente, as pessoas são livres de não venerar excessivamente a homossexualidade e "desvios" afins. Porém, ao invés do que sucede nas zonas bárbaras do mundo, não são livres de traduzir a antipatia em agressão física e assassínio.

Durante a sua atribulada existência, de certeza que o Estado israelita cometeu evidentemente menos desvarios do que os seus inimigos inventam, e eventualmente mais do que os amigos gostariam. Porém, chamar-lhe nazi é um erro grotesco e um desperdício: os nazis, assaz idênticos aos de há seis décadas, habitam à volta daquela detestada nação. À volta, por dentro e, dado que privilegiam a comunicação através de rockets, em cima. Como há seis décadas, algum Ocidente aprecia o género. Inúmeros gays ocidentais, também. Mas nesses a "perversão" dominante é o masoquismo. Ou a estupidez
."

Alberto Gonçalves

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