segunda-feira, março 31, 2008

Insanidade total

"Ontem como hoje não são necessários polícias e juízes para impor a disciplina nas escolas. Basta acabar com pedagogias da treta

O Presidente da República vai receber um dia destes em audiência o procurador-geral da República. A reunião acontece na sequência do célebre vídeo feito pelo aluno Rafael numa sala de aula de um liceu do Porto, em que se vê durante largos segundos a Patrícia, uma aluna de 15 anos, a lutar com uma professora que lhe tinha acabado de tirar o telemóvel. As imagens, passadas na blogosfera, televisões e reproduzidas nos jornais, deixaram, segundo rezam as notícias, Cavaco Silva em estado de choque. Em choque já tinha ficado Pinto Monteiro, procurador-geral da República, que exige a denúncia de todos os casos de indisciplina ocorridos nas escolas e mandou instaurar um processo aos alunos envolvidos no incidente da Secundária do Porto. De repente, este sítio cada vez mais imbecil, pobre, deprimido e obviamente cada vez mais mal frequentado descobriu mais uma causa nobre para se mostrar indignado, revoltado e chocado. Desta feita é a indisciplina nas escolas públicas.

E as promessas de medidas duras, exemplares, implacáveis não param de chegar de vários quadrantes, mesmo dos principais responsáveis pelo estado a que isto chegou e que agora andam por aí armados em moralistas, castigadores, defensores da autoridade e de outras coisas que ficam sempre bem em qualquer discurso, particularmente de-pois de terem visto o vídeo do aluno Rafael. Pobre gente, pobre sítio, pobre ensino, pobres alunos, pobres professores, pobres pais. De repente, o senhor procurador ameaça colocar um magistrado do Ministério Público em cada escola, o ministro da Administração Interna uma esquadra de polícia e o senhor ministro da Justiça uma brigada especial da Polícia Judiciária para identificar e acompanhar os futuros delinquentes que iniciam bem cedo as suas práticas criminosas nos estabelecimentos de ensino. Sim, bem cedo. A exemplo dos que fumam e passam rapidamente para as drogas leves e daí para as duras, dos que bebem umas cervejas e ficam agarrados ao álcool toda a vida. Nada melhor, portanto, do que prevenir, isto é, vigiar desde cedo os drogados, alcoólicos e criminosos do futuro.

A insanidade é total. Ontem como hoje não são necessários polícias e juízes para impor a disciplina nas escolas. Ontem como hoje basta que existam bons professores. Ontem como hoje basta que existam professores que saibam ensinar. Ontem como hoje basta que acabem as pedagogias da treta. Ontem como hoje basta que as escolas ensinem os alunos a ler, a escrever sem erros e a saber a tabuada de cor e salteado. Ontem como hoje basta que exista rigor e autoridade.
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António Ribeiro Ferreira

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