quarta-feira, maio 07, 2008

Novos pobres

"O êxito da última campanha de recolha de alimentos promovida pelos Bancos Alimentares Contra a Fome permitiu constatar duas realidades:

A pobreza aumenta e a pobreza alastra pelo tecido social atingindo as classes médias empregadas que até há pouco possuíam vidas estruturadas e estabilizadas.

A razão não se resume, como o discurso político vem propalando em jeito de desresponsabilização, ao elevado endividamento que compromete a substância dos seus rendimentos. Radica, antes, numa conjugação de factores onde intervêm a insuportável carga fiscal directa, a especulação instalada no mercado imobiliário, os níveis de preços inflacionados por tributações despropositadas, as necessidades decorrentes das insuficiências do Estado, como a educação ou a saúde, que impõem o recurso a alternativas privadas com custos acrescidos.

E, como a cereja que encima o bolo, resta o paradigma de representação social traduzido em consumos de gama alta, como carro, vestuário, férias, cuja não correspondência é socialmente excludente e estigmatizável.

Ora nem os rendimentos esticam, nem os encargos fiscais e sociais são contidos. A manta deixa cada vez mais corpo a descoberto. As pessoas cansam-se. As famílias desestabilizam-se. A natalidade não cresce. A desilusão, a frustração e o desespero ensombram presentes e antecipam futuros.

E por mais importantes que sejam as pontes e os aeroportos, não há sociedade que subsista com esta classe média desesperada e exaurida, aguardando de marmita em punho que lhe forneçam o alimento
."

José Luís Seixas

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