sexta-feira, maio 09, 2008

Tempos de crise

"1. Ontem o Governo enfrentou, mais uma vez, uma moção de censura na AR. Simbolicamente. Com enfado, e contida sobranceria. Neste particular Sócrates dorme descansado. Sabe que terá sempre garantida a preciosa colaboração dos deputados do PSD e do CDS, que, nestes momentos, são mais fiéis do que os do seu próprio partido.

O centro-direita e a direita criticam o Governo todos os dias, mas não acreditam nas suas próprias criticas e, na hora da verdade, deixam de ver razões para o criticar. E, para que se não perca tudo, são, afinal, a única vítima da censura. Os que não dizem que sim nem que não. Mirones puros. Que estão ali por engano, não sabem nada de nada e, como bons Portuguesinhos, não querem que os comprometam. Pensam só na sua própria sobrevivência.

Este tipo de mecanismos constitucionais suscita a questão da eficácia da censura abstracta, ou seja, daquela, que antecipadamente se sabe que nenhuns efeitos reais pode produzir fora dos muros do hemiciclo. O PCP não desiste na esperança evangélica de que um milagre aconteça e alguma coisa se salve. Mantém a coerência e esgota os seus poderes constitucionais. Mas não deixa de ser o organizador da mistificação e um dos parceiros da farsa, que, afinal, reforça o Governo. A coerência não obriga a tanto.

2. Crise é a palavra-chave. O Estado está em crise. Os partidos políticos estão em crise. As teorias liberais e ultraliberais estão em crise. O comunismo idem aspas. A fé nas virtualidades dos mercados acabou. Todos os valores morais, individuais ou colectivos estão em crise. A família é alvo das mais inesperadas agressões e todos os tabus sexuais anseiam pela ‘libertação’. A vontade de defender valores individuais e universais está, também, em crise e os ‘iluminados’ chamam-lhe pejorativamente conservadorismo. A coragem de denunciar e resistir parece ter desaparecido. Só os corruptos, especuladores, pedófilos, violadores e criminosos em geral não estão em crise.

A Áustria e o seu repelente ‘pai-avô, abusador, sequestrador’ são apenas um exemplo das monstruosidades que esta crise de valores promete gerar. E que muito boa gente muito bem-pensante, com o seu laxismo e as suas fantásticas teses sociais, ajuda a que proliferem. No campo da política e da economia travam-se batalhas de vida e e de morte mas, no campo dos valores, assiste-se, cada vez mais, a uma contemporização doentia e destruidora. Por uma razão muito simples. Porque a dignidade e o culto dos valores não geram lucros. Ninguém enriquece pregando-os. E, por isso, os políticos não perdem tempo com tais minudências. Deixam isso para nós próprios e para algumas igrejas, que muito eloquentemente, depois, perseguem quando lhes saem ao caminho. O laicismo do estado, mal entendido, tende perigosamente a confundir-se com o mais criminoso laxismo ao nível dos valores. E aqui, mais uma vez, só a nossa reserva interior nos salvará.

3. O Benfica está como o PSD. Sem ponta por onde se lhe pegue. Sem soluções, sem imaginação, sem salvadores. Vive em circuito fechado. Em desespero, também ele teve de ir remexer o baú das recordações e não conseguiu tirar de lá melhor do que o ‘promissor’ Ericksson. Também pelos lados da Luz o tempo insiste em andar para trás. Futebol e política. Tão diferentes e tão iguais
."

João Marques dos Santos

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