A EQUIPA DE TODOS, TODOS, TODOS NÓS

"Num desses frequentes "debates" desportivos, um dos vigorosos participantes bateu com a mão na mesa e dissipou as últimas dúvidas: depois da "efusiva", "arrepiante" e "comovente" recepção dos emigrantes à selecção da bola, na Suíça, já não restam desculpas para que qualquer português (qualquer, ouviram?) se abstenha de apoiar apaixonadamente a equipa no Euro.

A sério? É pena. Preparado para passar as próximas semanas a uma distância segura do televisor ou da rua, tinha inventariado uma série de desculpas decentes. Ou que eu julgava decentes: há muito que não ligo a futebol; não acredito que os resultados do futebol dependam do facto de eu usar um cachecol e berrar feito perdido; não acho que o atraso ou o progresso da nação dependam dos resultados do futebol.

Em vão. Aparentemente, as desculpas não servem de nada, e a minha vontade não conta. Em países menos patrióticos, as pessoas são livres de optar entre o fervor e o alheamento. Em Portugal, onde a devoção à selecção é compulsiva, a liberdade na matéria limita-se a pormenores técnicos. Podemos discordar das preferências do sr. Scolari para o "eixo da defesa" ou para o "corredor direito". Podemos, no máximo, odiar o sr. Scolari ou o guarda-redes Não Sei Quantos. O que não podemos é ser indiferentes à alegria, ao sonho, à esperança, à conquista, à caminhada, à glória, à crença, à festa, à magia, à loucura, aos emigrantes, a "Rónaldo" e a tudo o que nos engrandece como povo, embora pareça reduzir-nos a um daqueles discursos patetas de Barack Obama.

Só uma pergunta: e se, graças a uma irredutível perversidade, persistirmos na indiferença, qual é a pena? Chibatadas em praça pública (com ecrã gigante)? Enxovalho no editorial de A Bola (com "Rónaldo" na primeira página)? A prisão (com obrigação de assistir aos jogos na sala de convívio)? O exílio? Eu escolho o exílio, caso não seja na Suíça, caso não seja maçada e caso neste país ainda se possa escolher alguma coisa. "

Alberto Gonçalves