segunda-feira, junho 23, 2008

São Miguel de Odrinhas



Odrinhas é indiscutivelmente o local mais importante em termos de presença romana em Sintra, Portugal. Para além do Museu, o sítio de Odrinhas possui uma variadíssima multiplicidade de vestígios romanos e de outras épocas subsequentes que atestam a permanência da presença humana no local pelo menos desde o século I a. C. até à actualidade. Esta persistência é tanto mais curiosa quanto se verifica numa zona onde não se conhece nenhum aglomerado importante. O núcleo urbano mais próximo situava-se em Faião, a urbe romana de maior importância do Município Olisiponense, logo a seguir a Olissipo. Existem ainda vestígios de uma via romana que ligaria Odrinhas a Faião.

Em Odrinhas, da época romana fazem parte quase todos os muros e compartimentos actualmente visíveis no local, e que são vestígios de uma villa fundada durante a segunda metade do século I a. C. Sobre esta villa primitiva, construir-se-ia, já no século IV d. C., uma outra de que faz parte um pavimento em mosaico monocromo de desenho geométrico, ainda hoje visível ao lado da capela de S. Miguel.

Curiosa também é a existência no local de uma estrutura absidal, construída com pedras da região dispostas horizontalmente em fileiras paralelas e datada do século II d. C. Escavações realizadas na década de 50 permitiram fazer a reconstituição do edifício, que teria uma planta semelhante à aqui apresentada. Tratar-se-ia de um templo romano ou paleo-cristão formado por uma abside em ferradura e de falsa abóbada, dois absidíolos ou talvez nichos, uma nave rectangular e um possível pequeno nartex. Contudo, para além da peculiaridade da planta e da sua estranha orientação norte-sul, não foi encontrado, durante as escavações, qualquer objecto de culto. Daí que há alguns anos tenha surgido a teoria de que a abside faria parte da villa romana aí existente, provavelmente um salão nobre onde o senhor da casa recebia as visitas. Tese diferente é sustentada por Justino Maciel (1983), que afirma tratar-se de um mausoléu romano, uma cópia dos modelos aúlicos do centro do Império, concretamente do Mausoléu de Santa Constança, e sugere uma datação posterior (séc. IV).

Na Baixa Idade Média o local foi transformado em cemitério (é o único cemitério de cariz medieval escavado em Portugal), como ainda hoje se pode comprovar pelas numerosas sepulturas existentes em torno da ermida de S. Miguel, cada uma delas com a respectiva cabeceira discóide, num total de 35, se bem que não haja a certeza de que a actual distribuição das mesmas seja a primitiva.

O Museu, designado inicialmente Museu Arqueológico Prof. Dr. Joaquim Fontes, foi construído a partir das ruínas com o objectivo de receber os vestígios provenientes daquelas. A riqueza do espólio encontrado na região, do qual se destaca uma das maiores colecções epigráficas conhecidas, depressa obrigou à construção de um anexo alpendrado e à utilização de espaços exteriores. Há alguns anos, a Câmara Municipal de Sintra, proprietária do Museu, decidiu remodelar o local, construindo um complexo museológico que alberga o espólio do antigo museu, uma biblioteca especializada, auditório, gabinetes de estudo, serviços de restauro, para além de várias áreas de lazer. Odrinhas é agora um local de passagem obrigatório para o conhecimento não só da presença romana, mas de toda a antiguidade sintrense.

As ruínas de Odrinhas estão classificadas como "Imóvel de Interesse Público" desde 30/11/1950.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Odrinhas muito mais que VIGOR, muito mais que ERPS, muito mais que um Museu...

www.danzoo2007megastore.blogspot.com

segunda-feira, abril 13, 2009  

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