ALTURAS DE CRISE
"A crise global é negativa? Depende. De momento, eventualmente adiou a construção de uma aberração de 540 metros e três aberraçõezinhas adicionais no lugar do World Trade Center. Leio no DN que, graças ao "sub-prime", o banco Merrill Lynch desistiu de ocupar uma das monstruosidades e comprometeu o projecto geral. Apesar de provisório, é um consolo para quem gosta de Nova Iorque.
E um consolo que não tem nada a ver com a dimensão simbólica do Ground Zero. Se, ao contrário do "New York Times", estou longe de achar que as sucessivas hesitações em volta da escolha do sucessor das torres destruídas no 11 de Setembro constituem "uma vitória dos terroristas" que as destruíram, também não me parece que aquele buraco vazio seja exactamente uma derrota do sr. Atta e seu bando de tarados. Derrota seria deixar que a cidade contaminasse naturalmente o buraco, apropriando-se dele sem usar os atentados de há sete anos como pretexto.
A minha objecção, porém, é mais prosaica: a julgar pelas maquetas, a chamada "Torre da Liberdade" será um horror adequado aos caipiras do Dubai e um insulto à silhueta de Manhattan, desde 2001 novamente dominada pelo Empire State Building.
O Empire, construído logo a seguir ao "crash" de 1929, foi o epitáfio tardio e esplendoroso de uma era optimista, que traduziu nos arranha-céus a construção de um carácter especificamente "americano" e o fim da derradeira subserviência "mental" perante a Europa. O Empire marcou igualmente o fim de uma certa arquitectura. Nos EUA e no mundo, os arranha-céus que se lhe seguiram ergueram-se sobre toleimas estéticas e um vazio de propósitos, excepto o de bater recordes de altura e atirar grosserias de aço e vidro à cara do transeunte. As próprias torres do World Trade Center já integravam este gigantismo abjecto. A sua queda só é lamentável por sido resultado de uma tragédia, que escusava de deixar outras cicatrizes além das que já deixou."
Alberto Gonçalves
E um consolo que não tem nada a ver com a dimensão simbólica do Ground Zero. Se, ao contrário do "New York Times", estou longe de achar que as sucessivas hesitações em volta da escolha do sucessor das torres destruídas no 11 de Setembro constituem "uma vitória dos terroristas" que as destruíram, também não me parece que aquele buraco vazio seja exactamente uma derrota do sr. Atta e seu bando de tarados. Derrota seria deixar que a cidade contaminasse naturalmente o buraco, apropriando-se dele sem usar os atentados de há sete anos como pretexto.
A minha objecção, porém, é mais prosaica: a julgar pelas maquetas, a chamada "Torre da Liberdade" será um horror adequado aos caipiras do Dubai e um insulto à silhueta de Manhattan, desde 2001 novamente dominada pelo Empire State Building.
O Empire, construído logo a seguir ao "crash" de 1929, foi o epitáfio tardio e esplendoroso de uma era optimista, que traduziu nos arranha-céus a construção de um carácter especificamente "americano" e o fim da derradeira subserviência "mental" perante a Europa. O Empire marcou igualmente o fim de uma certa arquitectura. Nos EUA e no mundo, os arranha-céus que se lhe seguiram ergueram-se sobre toleimas estéticas e um vazio de propósitos, excepto o de bater recordes de altura e atirar grosserias de aço e vidro à cara do transeunte. As próprias torres do World Trade Center já integravam este gigantismo abjecto. A sua queda só é lamentável por sido resultado de uma tragédia, que escusava de deixar outras cicatrizes além das que já deixou."
Alberto Gonçalves
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