CASO ARQUIVADO
"O desaparecimento de Madeleine McCann levantou, desde o primeiro momento, dois tipos de preocupações humanitárias: a) o impacto do caso no turismo algarvio; b) o impacto do caso na imagem da Justiça portuguesa.
Podemos ficar descansados quanto à primeira aflição. De acordo com o presidente da Região de Turismo do Algarve, os turistas não desmobilizaram, "nem sequer na zona de Lagos", e fora "meia dúzia de desistências", não houve, continuo a citar, "efeitos nefastos".
Quanto à segunda aflição, a resposta é mais complexa. Claro que o processo terminou arquivado. Claro que os responsáveis pela investigação descobriram tudo o que aconteceu na tal praia da Luz no exacto instante em que deixaram de ser responsáveis pela investigação. Claro que no mundo inteiro há inúmeros exemplos de crianças sumidas cujo destino nunca é apurado.
Curioso é o barulho, o folclore que irrompe a cada novela judicial, a retórica bombástica da autoridade, o frenesim das "fontes", o empenho dos "media", a comoção do povo anónimo face a processos épicos que, em meses ou anos, invariavelmente falecem sem um pio.
O que distinguiu o "caso Maddie" da Casa Pia e dos apitos e das meninas em bolandas e dos sacos azuis autárquicos foi somente a exposição internacional, que mostrou ao estrangeiro o pitoresco indígena. Cá dentro, é de crer que o desenvolvimento e o epílogo da história não melhoraram nem pioraram a imagem da Justiça, sempre mal vista e sempre capaz de despertar prodigiosas expectativas. Como o Algarve, no fundo. "
Alberto Gonçalves
Podemos ficar descansados quanto à primeira aflição. De acordo com o presidente da Região de Turismo do Algarve, os turistas não desmobilizaram, "nem sequer na zona de Lagos", e fora "meia dúzia de desistências", não houve, continuo a citar, "efeitos nefastos".
Quanto à segunda aflição, a resposta é mais complexa. Claro que o processo terminou arquivado. Claro que os responsáveis pela investigação descobriram tudo o que aconteceu na tal praia da Luz no exacto instante em que deixaram de ser responsáveis pela investigação. Claro que no mundo inteiro há inúmeros exemplos de crianças sumidas cujo destino nunca é apurado.
Curioso é o barulho, o folclore que irrompe a cada novela judicial, a retórica bombástica da autoridade, o frenesim das "fontes", o empenho dos "media", a comoção do povo anónimo face a processos épicos que, em meses ou anos, invariavelmente falecem sem um pio.
O que distinguiu o "caso Maddie" da Casa Pia e dos apitos e das meninas em bolandas e dos sacos azuis autárquicos foi somente a exposição internacional, que mostrou ao estrangeiro o pitoresco indígena. Cá dentro, é de crer que o desenvolvimento e o epílogo da história não melhoraram nem pioraram a imagem da Justiça, sempre mal vista e sempre capaz de despertar prodigiosas expectativas. Como o Algarve, no fundo. "
Alberto Gonçalves
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