FOUCAULT NA FAVELA
"Tropa de Elite, o filme que agora estreia em Portugal, foi recebido pela "inteligência" brasileira com os ponderados qualificativos de "fascista" e "perigoso". Bem, "inteligência" é maneira de dizer. E, por falta de vocabulário e cabeça, "fascista" ou "perigoso" são os termos habitualmente usados por "intelectuais" do Terceiro Mundo e de quarta apanha para definir o que não veicule uma imagem romântica do crime. Conhece-se o estilo. Já em 1967, uma peça "polémica" do artista plástico e inspirador do "tropicalismo" Hélio Oiticica consistia numa bandeira com a frase: "Seja marginal, seja herói." Tropa de Elite, de facto, não vai por aí.
Numa rara inversão dos valores infantis que mandam no cinema contemporâneo, não só brasileiro, os heróis da fita não são delinquentes comuns ou "Che" Guevara: são polícias. E polícias do BOPE, as forças especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Claro que os métodos do BOPE ultrapassam com regularidade a fronteira da decência, e Tropa de Elite mostra-o flagrantemente. Mas, para mágoa dos padrões vigentes, a obra de José Padilha não esconde nem ornamenta o que está do la- do oposto: os traficantes e assassinos que subjugaram as favelas do Rio a benefício do negócio.
Trata-se de pobres? Apenas se acreditarmos que a venda de estupefacientes rende menos do que o salário de um polícia local, ou que a penúria irremediavelmente impede uma vida honesta. De qualquer modo, em Tropa de Elite a pobreza não legitima tudo, como pretendem o professor e os estudantes de Foucault, esse charlatão célebre, no instante mais "programático" do filme. Matias é o único favelado (e o único preto) numa turma de classe média divertidíssima a produzir "clichés" sobre a intrínseca maldade dos "mecanismos de opressão". Acontece que, sem que os colegas o saibam, Matias é também agente do BOPE e, para indignação geral, não se contém: "Tem que reprimir mesmo ( ) Vocês não têm noção de quanta criança entra para o tráfico e morre por causa de maconha e de pó ( ) Do apartamentozinho de vocês não dá para ver, não."
O ligeiro maniqueísmo da cena tolera-se por comparação com o imenso maniqueísmo que a cena visa contestar. Dito de outra maneira, a opressão começa nos gangues e "só rico com consciência social não entende que guerra é guerra". Os muitos milhões de brasileiros que viram Tropa de Elite nas salas e em casa (as cópias pirateadas atingiram números inéditos) não podem ser acusados de riqueza. Consta que, nos momentos do filme em que a ficção executava a justiça que o mundo real não costuma trazer, os espectadores levantavam-se das cadeiras e berravam "Caveira!", o macabro grito do BOPE. É normal: o dúbio consolo dos simples deixa os "intelectuais" a resmungar baixinho."
Numa rara inversão dos valores infantis que mandam no cinema contemporâneo, não só brasileiro, os heróis da fita não são delinquentes comuns ou "Che" Guevara: são polícias. E polícias do BOPE, as forças especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Claro que os métodos do BOPE ultrapassam com regularidade a fronteira da decência, e Tropa de Elite mostra-o flagrantemente. Mas, para mágoa dos padrões vigentes, a obra de José Padilha não esconde nem ornamenta o que está do la- do oposto: os traficantes e assassinos que subjugaram as favelas do Rio a benefício do negócio.
Trata-se de pobres? Apenas se acreditarmos que a venda de estupefacientes rende menos do que o salário de um polícia local, ou que a penúria irremediavelmente impede uma vida honesta. De qualquer modo, em Tropa de Elite a pobreza não legitima tudo, como pretendem o professor e os estudantes de Foucault, esse charlatão célebre, no instante mais "programático" do filme. Matias é o único favelado (e o único preto) numa turma de classe média divertidíssima a produzir "clichés" sobre a intrínseca maldade dos "mecanismos de opressão". Acontece que, sem que os colegas o saibam, Matias é também agente do BOPE e, para indignação geral, não se contém: "Tem que reprimir mesmo ( ) Vocês não têm noção de quanta criança entra para o tráfico e morre por causa de maconha e de pó ( ) Do apartamentozinho de vocês não dá para ver, não."
O ligeiro maniqueísmo da cena tolera-se por comparação com o imenso maniqueísmo que a cena visa contestar. Dito de outra maneira, a opressão começa nos gangues e "só rico com consciência social não entende que guerra é guerra". Os muitos milhões de brasileiros que viram Tropa de Elite nas salas e em casa (as cópias pirateadas atingiram números inéditos) não podem ser acusados de riqueza. Consta que, nos momentos do filme em que a ficção executava a justiça que o mundo real não costuma trazer, os espectadores levantavam-se das cadeiras e berravam "Caveira!", o macabro grito do BOPE. É normal: o dúbio consolo dos simples deixa os "intelectuais" a resmungar baixinho."
Alberto Gonçalves
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