quinta-feira, julho 10, 2008

Operação perfeita

"Essa gente está entre nós, sob a forma de grupos e partidos da esquerda radical e da esquerda conservadora

Segundo a própria, foi uma operação "perfeita". E foi-o, de facto. No dia 2 de Julho de 2008, Ingrid Betancourt era libertada após 6 anos e 4 meses na selva, onde a organização terrorista das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) a mantinham sequestrada.

Foram 2321 dias de angústia, ameaças, desespero; 2321 dias de privação, de doença, de subnutrição física e emocional; 2321 dias de separação dos seus filhos, da sua família. 2321 de terror que terminaram e todo o Mundo celebrou, comovido, o seu regresso à Liberdade. Perdão, não foi todo o Mundo. Alguns reagiram com indisfarçável irritação pela forma "impecável" como a comunidade internacional ludibriou as FARC e com disfarçada decepção por estas terem perdido a jóia da comunidade refém.

Essa gente está entre nós, sob a forma de grupos e partidos da esquerda radical e da esquerda conservadora. Vivem obcecados com os agrilhoados de Guantanamo, mas ficam inebriados com o charme revolucionário das guerrilhas; apregoam a libertação dos povos, mas condescendem facilmente com a privação de liberdade; são agnósticos, mas veneram a escola de um perturbado como Che Guevara, para quem os fins dos rebeldes justificam todos os meios. Mais. Militam para justificar qualquer meio que tenha como fim combater o que designam por imperialismo.

Involuntariamente, Betancourt tornou--se um símbolo da guerra que dilacera o seu país. Em Portugal, o voto de congratulação da Assembleia da República pela sua libertação tornou-se o símbolo da divisão entre os partidos que condenam frontalmente o terrorismo e os que transigem. Nos últimos 20 anos, o dinheiro do narcotráfico permitiu às FARC criarem estados terroristas dentro do Estado, ceifou a vida a mais de 70 mil pessoas e provocou o êxodo interno de cerca de 3 milhões. Neste momento, ainda detém cerca de 700 reféns.

Para estes grupos políticos, o terrorismo, a cobardia dos raptos, a opressão e a tortura têm graus de condenação variáveis consoante os autores e os fins. Ora, os Direitos Humanos e a liberdade não têm valor variável e a sua defesa tem de ser intransigente.

Para estes grupos, uma libertação aceitável de Betancourt teria de ter sido bem negociada, sob o alto patrocínio de Hugo Chávez. Uma libertação levada a cabo sem sangue, com o auxílio da maior democracia do Mundo, é mais que uma desilusão. É a suprema humilhação
."

Teresa Caeiro

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