terça-feira, julho 29, 2008

SALUDOS AMIGOS

"O eng. Sócrates pediu a Chávez para que se sentisse em casa. Não valia a pena. Mal chegou, e enquanto os seus jagunços particulares enxovalhavam PSP e jornalistas, Chávez fez questão de garantir que aquela era de facto "a casa de amigos", repleta de "carinho", "generosidade" e "calor humano". Como é típico, o proto-ditador venezuelano entrou imediatamente em roda livre, a envolver o primeiro-ministro na partilha do "mesmo sangue, dos mesmos sonhos, da mesma utopia de Quixote e de Bolívar". Lindas palavras. Chávez pertence ao tipo de visitas que dispensam intimações do anfitrião para ficarem à-vontade: muito antes disso, já se encontram esparramadas no sofá, de peúgas e cerveja.

Diga-se que o eng. Sócrates tem qualquer coisa que atrai gente assim e exala calor humano assim. Quanto mais folclórico o déspota, mais descontraído se sente por cá. O soba da Venezuela é apenas um assaz regular exemplo. Mas Lisboa tem beneficiado de um corrupio de luminárias do gabarito de Mobutu, Kadhafi, a família Eduardo dos Santos, o sr. Al-Bashir do Sudão, o sr. Zenawi da Etiópia e, a pretexto da Cimeira da CPLP, agora sua excelência Teodoro Obiang, presidente da Guiné Equatorial e alegado canibal.

O eng. Sócrates podia pendurar ao pescoço uma placa com a versão ligeiramente modificada do poema de Emma Lazarus inscrito na Estátua da Liberdade: "Venham a mim os facínoras, os tiranetes, os estadistas patéticos ou perigosos. Venham a mim os monumentos ambulantes ao abuso de poder, os genocidas, os terroristas, os dementes e os corruptos. Mandem-me os que praticamente não gozam de estima em nenhum lugar civilizado do planeta, que eu recebo-os em São Bento e estrago-os com mimos."

Para nosso alívio, seria conveniente acreditarmos que o eng. Sócrates confraterniza com a cáfila por interesse petrolífero e sacrifício patriótico. Para nossa inquietação, depois lembramo-nos que o mesmo eng. Sócrates é o governante que não aceita subordinar a "independência nacional" aos preços dos combustíveis e que vai mudar "o paradigma energético".

Ou as energias "renováveis" são conversa fiada, ou o eng. Sócrates aprecia genuinamente o convívio com a cáfila. A primeira hipótese é tolerável, a segunda nem por isso. É que, se deve ser terrível viver no país em que Chávez manda, é no mínimo embaraçoso viver num país que ocasionalmente o deixa mandar
."

Alberto Gonçalves

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