Tristes sucatas
"A conversa fiada da crise internacional foi completamente destruída pelo FMI, que já salvou o sítio da bancarrota por duas vezes”.
A última semana neste sítio obviamente cada vez mais mal frequentado pode provocar uma sonora gargalhada ou um choro convulsivo. Para bem da saúde dos indígenas é óbvio que a primeira opção é a mais recomendável. É preciso olhar com humor para os acontecimentos da Quinta da Fonte, em Loures. Negros e ciganos aos tiros num bairro em que ninguém paga renda, luz e água e em que noventa por cento dos habitantes vivem dos subsídios do Estado.
Um exemplo para as comunidades de outros bairros sociais e, já agora, para o comum dos mortais que teve o azar de nascer neste sítio e ainda não conseguiu fugir para bem longe. Agora, depois de muitas cenas, encontrou-se uma solução milagrosa. Vai haver uma vigília, uma marcha pela paz e serão pintadas algumas fachadas e uns murais, tipo arte rupestre, multiculturais. Tudo perfeito, como se vê. Tudo muito politicamente correcto. Entretanto, os mais altos responsáveis por este desgraçado sítio continuam a tratar os indígenas como verdadeiros atrasados mentais. Sócrates, digníssimo primeiro-ministro, continua a falar de confiança, fé, coragem e a gabar a sua magnífica obra sempre que lhe colocam um microfone à frente.
Cavaco Silva, digníssimo Presidente da República, apela aos cidadãos para não baixarem os braços, para continuarem a lutar para não morrerem à fome. Conversa de quem continua a iludir a realidade e tenta atirar para o lixo as verdades que vêm de fora. Com o apoio de fortíssimos aliados, a começar na própria Comunicação Social. A conversa fiada da crise internacional, do subprime americano, do preço do petróleo, dos produtos alimentares e de outras coisas mais foi completamente destruída pelo FMI, Fundo Monetário Internacional, essa tenebrosa organização que já salvou o sítio da bancarrota por duas vezes e que já cá estaria outra vez se não fosse a Europa e o euro. Pois a verdade é só uma.
A crise, que já obriga famílias da classe média a pedirem apoio alimentar, tem, fundamentalmente, raízes domésticas. O Estado, as empresas e as famílias andam há anos e anos a viver acima das possibilidades. O Estado, as empresas e as famílias estão cada vez mais pobres. O sítio arrisca-se a ser, dentro de poucos anos, o mais pobre da União Europeia. Esta é a verdade. Dura e implacável. Uma correria para o abismo que ninguém tem coragem de travar. O resto são tretas. Tristes tretas. Como os três anos dourados de Sócrates. Três anos que, afinal, são de sucata."
António Ribeiro Ferreira
A última semana neste sítio obviamente cada vez mais mal frequentado pode provocar uma sonora gargalhada ou um choro convulsivo. Para bem da saúde dos indígenas é óbvio que a primeira opção é a mais recomendável. É preciso olhar com humor para os acontecimentos da Quinta da Fonte, em Loures. Negros e ciganos aos tiros num bairro em que ninguém paga renda, luz e água e em que noventa por cento dos habitantes vivem dos subsídios do Estado.
Um exemplo para as comunidades de outros bairros sociais e, já agora, para o comum dos mortais que teve o azar de nascer neste sítio e ainda não conseguiu fugir para bem longe. Agora, depois de muitas cenas, encontrou-se uma solução milagrosa. Vai haver uma vigília, uma marcha pela paz e serão pintadas algumas fachadas e uns murais, tipo arte rupestre, multiculturais. Tudo perfeito, como se vê. Tudo muito politicamente correcto. Entretanto, os mais altos responsáveis por este desgraçado sítio continuam a tratar os indígenas como verdadeiros atrasados mentais. Sócrates, digníssimo primeiro-ministro, continua a falar de confiança, fé, coragem e a gabar a sua magnífica obra sempre que lhe colocam um microfone à frente.
Cavaco Silva, digníssimo Presidente da República, apela aos cidadãos para não baixarem os braços, para continuarem a lutar para não morrerem à fome. Conversa de quem continua a iludir a realidade e tenta atirar para o lixo as verdades que vêm de fora. Com o apoio de fortíssimos aliados, a começar na própria Comunicação Social. A conversa fiada da crise internacional, do subprime americano, do preço do petróleo, dos produtos alimentares e de outras coisas mais foi completamente destruída pelo FMI, Fundo Monetário Internacional, essa tenebrosa organização que já salvou o sítio da bancarrota por duas vezes e que já cá estaria outra vez se não fosse a Europa e o euro. Pois a verdade é só uma.
A crise, que já obriga famílias da classe média a pedirem apoio alimentar, tem, fundamentalmente, raízes domésticas. O Estado, as empresas e as famílias andam há anos e anos a viver acima das possibilidades. O Estado, as empresas e as famílias estão cada vez mais pobres. O sítio arrisca-se a ser, dentro de poucos anos, o mais pobre da União Europeia. Esta é a verdade. Dura e implacável. Uma correria para o abismo que ninguém tem coragem de travar. O resto são tretas. Tristes tretas. Como os três anos dourados de Sócrates. Três anos que, afinal, são de sucata."
António Ribeiro Ferreira
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