terça-feira, julho 08, 2008

UM PROFUNDO EMBARAÇO

"A entrevista do eng. Sócrates à RTP constituiu uma remake da apresentação da biografia do eng. Sócrates aos media em geral, realizada dois dias antes. Ambas as cerimónias versaram o louvor e exaltação do primeiro-ministro, na apresentação a cargo de Dias Loureiro, na entrevista a cargo do próprio. Dias Loureiro foi mais enfático: proclamou a grandeza do eng. Sócrates, emocionou-se com a sua "afectividade", elogiou-lhe a "sensatez" e a "coragem", a "prudência", o "optimismo" e a "atenção aos detalhes". No fim, ainda teve tempo (e desfaçatez) para confirmar a "capacidade de liderança" e a "capacidade estratégica" do Menino de Ouro do PS.

Na RTP, embalado na doçura dos jornalistas, o Menino de Ouro ficou só um pouco aquém no panegírico. Sobre a crise: "Eu tenho o ânimo, a vontade e a coragem para lidar com as dificuldades". Sobre o futuro: "É preciso ânimo, coragem e vontade." Sobre o bom povo: "Os portugueses esperam que eu lhes dê ânimo e coragem [e vontade, presume-se]."

Percebeu-se abundantemente, pois, que, na opinião do eng. Sócrates, o eng. Sócrates possui a coragem, o ânimo e a vontade (a ordem é aleatória) de que o País carece e que a ralé, ávida e desnorteada, reclama. Se exceptuarmos a atenção aos detalhes ("Não quero comprometer-me com detalhes", respondeu sempre que as questões envolviam números), Dias Loureiro saiu corroborado. O eng. Sócrates confessou "afectividade" (a aflição com os pobres, "novos" ou "velhos"), optimismo, prudência, sensatez e, afinal, capacidade estratégica e de liderança. Pelo menos para liderar um país que reage àquela inacreditável entrevista com aplausos, apupos ou indiferença, mas sem um profundo embaraço
."

Alberto Gonçalves

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