quarta-feira, agosto 27, 2008

VERDES DE RAIVA

"Antigamente, as pequenas comunidades tinham sempre os seus malucos de estimação, os quais, na falta de cuidados médicos, corriam pelas ruas, com olhos transtornados e pouca roupa, a anunciar o fim do mundo. Apesar dos avanços nas prestações de saúde, as sociedades modernas têm o Greenpeace. O Greenpeace é uma associação especializada em informar a humanidade de que a humanidade não deveria existir e que, já que desgraçadamente existe, tudo o que lhe diz respeito é vergonhoso, intolerável e catastrófico. "Tudo" não é exagero: para os membros do Greenpeace, qualquer pretexto permite amaldiçoar o semelhante. Do aquecimento global aos casacos de pele, da poluição à guerra no Iraque, os "activistas" (agora chamam-lhes assim) da seita arranjam com encantadora facilidade motivos de protesto e apocalipses para o dia seguinte.

O que não arranjam são provas. A história da Greenpeace é um já longo relato de patranhas deliberadas, erros inadvertidos, exageros e imprecisões. Às vezes, os "activistas" até acertam, mas apenas na medida em que um carro desgovernado pode percorrer cem metros e não atropelar os transeuntes. É uma probabilidade remota: regra geral, o Greenpeace atropela os factos e, por simpatia dos media, a imputabilidade.

Em Portugal, por exemplo, os bloqueios da associação ao desembarque de madeiras proibidas que afinal não eram proibidas ficaram célebres. Que se saiba, os prejuízos dos importadores ficaram por pagar. Com nenhuma legitimidade, a Greenpeace denuncia. Com escassa ciência, a Greenpeace falha. Com pleno descaramento, a Greenpeace safa-se airosamente e ascende a um prestígio que não se entende.

Ou entende-se: à luz da estranha culpa que sentimos por vivermos como vivemos. E, descendo ao pormenor, por comermos como comemos, a deixa para o Greenpeace trazer uma barcaça a Lisboa a fim de nos explicar que possuímos "um apetite insaciável" e de nos aconselhar a ingestão de peixes "sustentáveis". Insustentável é a soberba de uma senhora da barcaça, que nos invectivou, com maus modos, a reduzir o consumo de bacalhau. Um dia, quando se apurar que, contas feitas, era a tainha que estava em risco, a senhora provavelmente não vai pedir-nos desculpa. Certamente eu não lhe pedi a opinião.

Essa é, aliás, a única vantagem da Greenpeace. Se não lhe reconhecemos autoridade, não lhe devemos obediência, bênção que merece todas as comemorações possíveis: à Brás, à espanhola, assado, no forno, à Zé do Pipo, à lagareiro, com grão, à Gomes de Sá
"

Alberto Gonçalves

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