A COORDENAÇÃO DA SEGURANÇA

"Em declarações à TSF, o tenente-general Leonel Carvalho, que chefia o Gabinete Coordenador de Segurança, declarou não ter provas, "em termos matemáticos", do aumento significativo do número de crimes. Em compensação, aparentemente tem provas de que as notícias sobre crimes, além de instigarem o medo das pessoas, aumentam o número de crimes. Entre parêntesis, é interessante as notícias estimularem um fenómeno que se mantém intacto. Fora de parêntesis, a perniciosa influência dos media é do conhecimento de todos os que acreditam que as manchetes de acidentes aéreos fazem desabar aviões e as reportagens acerca da fome no Sudão abrem o apetite.

Por mim, não me custa acreditar. Depois de ver o relato sucessivo de dezasseis assaltos e homicídios no "telejornal", é quase impossível um sujeito não se sentir tentado a empunhar um bastão de basebol e praticar carjacking no vizinho e respectivo veículo. O que nos leva a uma questão: se a ciência forense apurou sem ponta de dúvida que a responsabilidade pelos crimes é das notícias (excepto, supõe-se, pelos crimes que deram origem às notícias), o que esperam as autoridades para acabar com as notícias e, em casos de contumácia, prender os seus autores?

A hipótese até vem a calhar, já que prender criminosos dá um trabalhão e assegurar que continuam presos é uma ilusão sem futuro. Encarcerar jornalistas, pelo contrário, não custa nada: ao invés dos meliantes convencionais, têm paradeiro certo, são comparativamente mansos, pouquíssimos usam arma e nenhum possui engenho prático para desactivar a pulseira electrónica ou comover um juiz.

Em vez de convocar discretamente os jornalistas para as pouco discretas intervenções nos bairros sociais, bastava à polícia uma simples rusga nocturna ao bar Snob, em Lisboa: não só os jornalistas já lá estão como a respectiva detenção faria o crime regressar num ápice a níveis normais. Dos quais, aliás e de acordo com o tenente-general Leonel Carvalho, praticamente nunca saiu."

Alberto Gonçalves