quarta-feira, setembro 10, 2008

Da bonança Fraddie/Fannie ao furacão Lehman em 24 horas

As bolsas norte-americanas fecharam em forte queda na terça-feira, com o índice S&P 500 a sofrer a maior queda, desde 2006, na ressaca da breve festa da nacionalização das maiores instituições hipotecárias dos Estados Unidos.
A anunciada insolvência do histórico banco de investimento Lehman Brothers, que não consegue captar recursos suficientes para pagar os seus compromissos, accionou os alarmes.
O seguro de risco sobre USD 10 milhões de títulos Lehman Brothers passaram de USD 322 mil (sexta-feira) para mais de USD 500 mil (ontem).
No sector financeiro, as vendas de títulos ultrapassaram largamente as compras, com resultados previsíveis.
O Dow Jones recuou 2,43 %, para 11.230 pontos. O Nasdaq baixou 2,64%, e atingiu a barreira crítica dos 2 200 pontos.
O afundanço do índice SP 500 foi de robustos 3,41% (6,5% no sector financeiro), tendo aterrado nos 1 224 pontos.
Por seu turno, enquanto o dólar mantém a tendência ascendente, o petróleo fez a inevitável correcção.
O euro passou a valer USD 1.417 e os contratos de crude (Outubro), caíram 0,5%, fechando a USD 102,70/barril.
Na sessão, o papel Lehman “derreteu” 45%.
A decisão do governo americano de salvar politicamente as hipotecárias Fannie Mae/Freddie Mac não resistiu 24 horas.
O mercado mostrou não acreditar que o Lehman tenha condições para sobreviver, como referimos em Julho.
A caminho do cadafalso já se perfila outra “celebrity” da banca global: Merril Lynch.
Em Julho recordando:
Esta semana marca o início da segunda fase da crise do sistema financeiro a nível planetário. Como prognosticámos no ano passado, não estávamos perante uma crise sub-regional (EUA) e menos ainda subsectorial (subprime americano). A crise, ontem quanto hoje, é sistémica (económica e financeira) e global (cinco continentes). Recentes desenvolvimentos confirmam tais postulados e prenunciam outros, mais graves e perigosos.
O governo Bush/Cheney decidiu ontem aprovar mais uma operação de salvamento do sistema financeiro americano. O apoio total e incondicional às gigantes hipotecárias Fannie Mae e Freddie Mac, no mínimo, até final de 2008, custará aos contribuintes USD 500-600 mil milhões/bilhões. O Congresso aprovara há menos de uma semana outro programa hipotecário e imobiliário de emergência (USD 300 mil milhões/ bilhões) para financiar particulares e empresas em risco de penhora ou falência. Os mercados, como sempre, reagem relativamente bem nos dias imediatos, mas entram em pânico nos meses que se seguem. Porquê?
O grau de exposição à crise por parte dos irmãos gémeos Fannie Mae e Freddie Mac é assustador. Em capitais próprios, por cada dólar amarrado a contratos hipotecários e derivativos de dívida, a primeira apenas dispõe de 1.6 cêntimos e a segunda 1.9 cêntimos. Entre os valores mais altos das suas acções e as actuais cotações o resultado é igualmente revelador: Fannie Mae (-88.5%) e Freddie Mac (-89.6%). Os especuladores Jim Rogers e George Soros, em entrevistas à Rádio Bloomberg classificaram hoje a decisão do governo como “um desastre”. Rogers disse que ambas estão “insolventes” e Soros esclareceu que nenhuma tem “problemas de liquidez” mas que ambas têm “problemas de solvência”. O ex-presidente do banco da Reserva Federal de St. Louis, William Poole, na semana passada, também reconhecera que as duas empresas “já estão em insolvência”. Uma e outra são responsáveis por mais de 50% dos compromissos hipotecários do mercado americano, avaliado globalmente em USD 12 milhões de biliões/ trilhões… O Secretário do Tesouro, Hank Paulson, estimou em USD 2.5 milhões o número de penhoras hipotecárias, nos EUA, até final do ano. Em 2009, os analistas prevêm que aquele número seja ultrapassado. Ainda alguém duvida que os contribuintes americanos - os pagantes da factura final - não geram riqueza suficiente para salvar nem aquelas, nem outras empresas de igual dimensão, e ainda menos o sistema?
Uma pequena parte das dívidas americanas (a federal) caminha para os USD 9.5 biliões/ trilhões. Se a esta, juntarmos as dívidas dos particulares, empresas, municípios, governos estaduais e agências federais sectoriais (saúde, segurança social, educação, etc.) os valores em dívida são estratosféricos. Isto é um sinal de que os próximos Titanic’s da economia global não são às dezenas. São às centenas. Espalham-se pelos EUA, Zona Euro, Ásia, América Latina e até pelo continente africano. Na calha, como sempre, estão multinacionais americanas. O efeito dominó vem a seguir. O banco de investimento Lehman Brothers, será um dos primeiros a cair. Nos últimos 17 meses perdeu mais de 83% do seu valor em capitalização bolsista. A instituição está atulhada em derivativos de créditos hipotecários actualmente sem mercado comprador, logo, sem valor. Na melhor das hipóteses, conseguirá livrar-se de 3% deste “lixo tóxico”. A ajuda será modesta em efeitos positivos. Na carteira global de activos do grupo, nos últimos meses, estes títulos de alto risco passaram de 5.4% para 6.5%. Aos prejuízos acumulados desde 2007, no primeiro trimestre de 2008, somaram-se mais USD 2.87 mil milhões/bilhões. Para sair desta infindável embrulhada o grupo financeiro Lehman Brothers precisará de muito capital e toneladas de confiança. Nos tempos que correm, ambas são commodities escassas e caras. A venerável e centenária instituição de Wall Street está nos cuidados intensivos. Em coma. Resta saber quanto tempo demorará a emissão da certidão de óbito.
O sector automóvel, como noticiámos há duas semanas, dá igualmente sinais graves de anemia. Na realidade os resultados da General Motors (GM) nos últimos anos aumentaram os receios de outra falência anunciada. A conjuntura internacional, a concorrência, e o modelo de negócio da GM são parte do problema e não das solução. Só no primeiro trimestre de 2008, os prejuízos ascenderam a USD 3.25 mil milhões/bilhões. Na passada 5.a feira a empresa registou um resultado histórico. Pela primeira vez nos últimos 54 anos, o valor das acções foi cotado abaixo dos USD 10 (USD 9.69). De imediato, aumentaram os rumores de a empresa pedir judicialmente a protecção dos credores para evitar a falência. Rick Wagoner, CEO da GMC/General Motors Corporation, negou de imediato e explicou as razões para o optimismo: “A GM dispõe actualmente de USD 24 mil milhões/bilhões em ‘cash’ e mais USD 7 mil milhões/bilhões em facilidades de crédito não utilizadas. (…) Em qualquer dos cenários que prevemos (…) a nossa tesouraria continuará robusta durante este ano.” Indiferentes ao discurso corporativo, boatos sobre a possibilidade de a GM declarar falência nos próximos cinco anos continuam a dividir os analistas. Escassos 25% dizem ser pouco provável. Os restantes 75% opinam ser provável/altamente provável. Nos anos 50 do século passado a General Motors chegou a ter uma capitalização bolsista de USD 66 mil milhões/ bilhões e a dominar quase 50% do mercado automóvel dos EUA. Hoje o valor bolsista ronda a décima parte e a quota de mercado está abaixo dos 20%. Em números, o fabricante n.º 1 de verdadeiros “veículos automóveis” vale menos do que a Mattel, fabricante da “Barbie” e de outros brinquedos. Entre eles, os engraçados modelos “Corvette”, sob licença da GM. “Made in China”, obviamente…
PVC
De MRAlliance

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Para os que criticam o BCE e não viram o que fez a CGD e o estado do sítio e o Banco Central do sítio.
Toupeira

quarta-feira, setembro 10, 2008  

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