Ajudem Trichet
"Se houvesse uma eleição para a personalidade mais odiada, Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), ficaria, quase de certeza, nos primeiros lugares.
Para a maioria dos portugueses, ele é o principal culpado da diminuição brusca da sua qualidade de vida. Os juros subiram e o peso dos créditos nos orçamentos familiares está a passar a fronteira do suportável.
Com as palavras de ontem, depois de mais uma reunião dos banqueiros centrais, Trichet não conseguirá melhorias nos índices de popularidade. O BCE reviu em baixa as previsões de crescimento para a zona euro (1,4% em 2008) e subiu as projecções da inflação (3,5%). Pior era impossível. São mais dados a confirmarem que a Europa está a caminho da estagflação – crescimento fraco e preços altos. O pesadelo de um banqueiro central.
Os países europeus estão a mostrar fraca resistência à crise internacional: o Reino Unido, Itália, Espanha, França e Alemanha já estão ou vão a caminho de um estado recessivo. E, ao contrário do que seria de esperar tendo em conta a teoria económica, os preços continuam em alta. Basicamente, devido ao choque dos preços das matérias-primas e dos alimentos. O BCE está contra a parede. Por muito que quisesse baixar os juros para tentar segurar a economia europeia, não pode. O seu mandato é claro: tem que garantir a estabilidade dos preços. E a inflação está muito longe do referencial dos 2%. Portanto, a taxa de juro de referência vai continuar nos 4,25% - o valor mais alto em sete anos –, o que pode contribuir para empurrar a economia europeia para a recessão.
É aqui que entram os políticos. Até agora, na sua maioria, têm seguido um mau caminho. Estão basicamente preocupados em pressionar o BCE para baixar os juros, pisando o risco do respeito pela independência do banco central. Esquecem-se que têm também responsabilidades, nomeadamente na política de rendimentos. A tentação óbvia é promover aumentos salariais que compensem as pessoas pela subida dos preços, esquecendo a evolução da produtividade. Grande erro. Com este tipo de política está-se apenas a promover uma espiral inflacionista e a facilitar a passagem do aumento dos preços dos combustíveis e alimentos para a inflação subjacente. Ou seja, está a dificultar-se ainda mais a vida ao BCE.
Portanto, pede-se responsabilidade aos políticos europeus. Não devem ceder às pressões normais dos sindicatos e devem garantir aumentos salariais moderados no Estado, dando os sinais correctos para o sector privado.
Medidas como esta são obviamente impopulares. É mais fácil culpar o BCE e seguir políticas populistas. No entanto, a factura vai aparecer. Tal como a miopia financeira, a miopia política não dura para sempre. Mesmo com políticas desregradas, os salários sobem mais lentamente do que os preços. Portanto, mesmo com aumentos generosos e descabidos, as pessoas acabam por perder poder de compra. E percebem isso ao fim de algum tempo. Da mesma forma, não se deixam enganar por políticos que pensam apenas em vencer eleições no curto prazo. Numa altura de elaboração dos Orçamentos do Estado e da definição da política económica para 2009, pede-se que ajudem Trichet e partilhem a baixa popularidade."
Bruno Proença
Para a maioria dos portugueses, ele é o principal culpado da diminuição brusca da sua qualidade de vida. Os juros subiram e o peso dos créditos nos orçamentos familiares está a passar a fronteira do suportável.
Com as palavras de ontem, depois de mais uma reunião dos banqueiros centrais, Trichet não conseguirá melhorias nos índices de popularidade. O BCE reviu em baixa as previsões de crescimento para a zona euro (1,4% em 2008) e subiu as projecções da inflação (3,5%). Pior era impossível. São mais dados a confirmarem que a Europa está a caminho da estagflação – crescimento fraco e preços altos. O pesadelo de um banqueiro central.
Os países europeus estão a mostrar fraca resistência à crise internacional: o Reino Unido, Itália, Espanha, França e Alemanha já estão ou vão a caminho de um estado recessivo. E, ao contrário do que seria de esperar tendo em conta a teoria económica, os preços continuam em alta. Basicamente, devido ao choque dos preços das matérias-primas e dos alimentos. O BCE está contra a parede. Por muito que quisesse baixar os juros para tentar segurar a economia europeia, não pode. O seu mandato é claro: tem que garantir a estabilidade dos preços. E a inflação está muito longe do referencial dos 2%. Portanto, a taxa de juro de referência vai continuar nos 4,25% - o valor mais alto em sete anos –, o que pode contribuir para empurrar a economia europeia para a recessão.
É aqui que entram os políticos. Até agora, na sua maioria, têm seguido um mau caminho. Estão basicamente preocupados em pressionar o BCE para baixar os juros, pisando o risco do respeito pela independência do banco central. Esquecem-se que têm também responsabilidades, nomeadamente na política de rendimentos. A tentação óbvia é promover aumentos salariais que compensem as pessoas pela subida dos preços, esquecendo a evolução da produtividade. Grande erro. Com este tipo de política está-se apenas a promover uma espiral inflacionista e a facilitar a passagem do aumento dos preços dos combustíveis e alimentos para a inflação subjacente. Ou seja, está a dificultar-se ainda mais a vida ao BCE.
Portanto, pede-se responsabilidade aos políticos europeus. Não devem ceder às pressões normais dos sindicatos e devem garantir aumentos salariais moderados no Estado, dando os sinais correctos para o sector privado.
Medidas como esta são obviamente impopulares. É mais fácil culpar o BCE e seguir políticas populistas. No entanto, a factura vai aparecer. Tal como a miopia financeira, a miopia política não dura para sempre. Mesmo com políticas desregradas, os salários sobem mais lentamente do que os preços. Portanto, mesmo com aumentos generosos e descabidos, as pessoas acabam por perder poder de compra. E percebem isso ao fim de algum tempo. Da mesma forma, não se deixam enganar por políticos que pensam apenas em vencer eleições no curto prazo. Numa altura de elaboração dos Orçamentos do Estado e da definição da política económica para 2009, pede-se que ajudem Trichet e partilhem a baixa popularidade."
Bruno Proença
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