"Ice" crime
"Saber reagir a uma onda de criminalidade é um desafio à sensatez de quem governa e tem responsabilidades sobre o tema. Sobrevalorizar os acontecimentos envolve o risco de agravar o sentimento de insegurança a que os cidadãos ficam expostos. Desvalorizar as situações alimenta a sensação de impunidade por parte de quem viola a lei. E aprofunda a percepção de que cada um está entregue a si próprio, restando-lhe a esperança de não ser o próximo nome a inscrever na lista de vítimas.
Nas últimas semanas, o período de férias terá ajudado o Governo a decidir como actuar perante a sucessão de episódios, no mínimo, preocupantes sobre o estado da segurança em Portugal. Reinou o silêncio e o vazio por parte dos ministros da Justiça e da Administração Interna, enquanto o país assistia, atónito, a uma vaga de assaltos a dependências bancárias, entre o mergulho no mar e o "trabalho para o bronze" nos areais do país.
Num Verão praticamente sem incêndios, pareceu que o Governo tinha as mangueiras a postos para lançar água sobre as chamas, mas não estava preparado para surpresas vindas de outro lado qualquer. Não deixa de ser estranho que o primeiro-ministro esteja disponível para inaugurar um centro de atendimento da Portugal Telecom, mas fique mudo e resguardado quando, contabilizando apenas os balcões das instituições financeiras, as estatísticas revelam o ritmo de um assalto por dia nos tempos mais recentes. Entre o crime e o "ice cream", José Sócrates preferiu o sossego estival.
Com o Governo tolhido por qualquer motivo que não se compreende, mas a que não será estranha a forma complexada como à esquerda se olha para os problemas da segurança e da criminalidade, sobrevalorizando as garantias dos suspeitos e subestimando os direitos das vítimas, coube ao Procurador-Geral da República tomar a iniciativa.
Ao apresentar, ontem, um conjunto de propostas destinadas a melhorar a eficiência no combate ao crime violento, Pinto Monteiro preencheu a lacuna deixada em aberto pela falta de comparência de Alberto Costa e Rui Pereira. Caso se acrescente a contradição, no interior do Executivo, sobre a alteração ou manutenção da legislação penal, fica completo o quadro de má gestão política revelado neste caso por quem se senta nas cadeiras do poder em Ministérios que não podiam assobiar para o lado.
A maioria dos assaltos realizados nas últimas semanas resultaram no desaparecimento de valores relativamente reduzidos. Parecem obra de amadores mal preparados, quando se compara com a utilização de explosivos para subtrair, em plena auto-estrada do Sul, alguns milhões de euros do interior de uma carrinha de transporte de valores. Não só as transacções electrónicas fazem com que os bancos tenham cada vez menos dinheiro em caixa, como parece ser claro que quem se arrisca na aventura, rouba para satisfazer pequenas necessidades. A tentação para negligenciar o pequeno crime é, assim, enorme.
Como notou Pinto Monteiro, é preciso fazer o contrário: atacar o pequeno crime, enquanto ponto de partida para voos mais altos. E convinha não esquecer dois outros detalhes. Além do que se vê, ouve e lê nos "media", o que gera o sentimento de insegurança é o facto de cada vez mais portugueses conhecerem alguém que foi assaltado ou terem já passado por essa amarga experiência. Seria aconselhável, também, que os governantes dessem menos credibilidade às estatísticas sobre o pequeno crime. A não ser que queiram tapar o sol com uma peneira, deviam saber que há muitas situações em que as vítimas nem sequer apresentam queixa por acreditarem que não haverá quaisquer consequências."
João Cândido da Silva
Nas últimas semanas, o período de férias terá ajudado o Governo a decidir como actuar perante a sucessão de episódios, no mínimo, preocupantes sobre o estado da segurança em Portugal. Reinou o silêncio e o vazio por parte dos ministros da Justiça e da Administração Interna, enquanto o país assistia, atónito, a uma vaga de assaltos a dependências bancárias, entre o mergulho no mar e o "trabalho para o bronze" nos areais do país.
Num Verão praticamente sem incêndios, pareceu que o Governo tinha as mangueiras a postos para lançar água sobre as chamas, mas não estava preparado para surpresas vindas de outro lado qualquer. Não deixa de ser estranho que o primeiro-ministro esteja disponível para inaugurar um centro de atendimento da Portugal Telecom, mas fique mudo e resguardado quando, contabilizando apenas os balcões das instituições financeiras, as estatísticas revelam o ritmo de um assalto por dia nos tempos mais recentes. Entre o crime e o "ice cream", José Sócrates preferiu o sossego estival.
Com o Governo tolhido por qualquer motivo que não se compreende, mas a que não será estranha a forma complexada como à esquerda se olha para os problemas da segurança e da criminalidade, sobrevalorizando as garantias dos suspeitos e subestimando os direitos das vítimas, coube ao Procurador-Geral da República tomar a iniciativa.
Ao apresentar, ontem, um conjunto de propostas destinadas a melhorar a eficiência no combate ao crime violento, Pinto Monteiro preencheu a lacuna deixada em aberto pela falta de comparência de Alberto Costa e Rui Pereira. Caso se acrescente a contradição, no interior do Executivo, sobre a alteração ou manutenção da legislação penal, fica completo o quadro de má gestão política revelado neste caso por quem se senta nas cadeiras do poder em Ministérios que não podiam assobiar para o lado.
A maioria dos assaltos realizados nas últimas semanas resultaram no desaparecimento de valores relativamente reduzidos. Parecem obra de amadores mal preparados, quando se compara com a utilização de explosivos para subtrair, em plena auto-estrada do Sul, alguns milhões de euros do interior de uma carrinha de transporte de valores. Não só as transacções electrónicas fazem com que os bancos tenham cada vez menos dinheiro em caixa, como parece ser claro que quem se arrisca na aventura, rouba para satisfazer pequenas necessidades. A tentação para negligenciar o pequeno crime é, assim, enorme.
Como notou Pinto Monteiro, é preciso fazer o contrário: atacar o pequeno crime, enquanto ponto de partida para voos mais altos. E convinha não esquecer dois outros detalhes. Além do que se vê, ouve e lê nos "media", o que gera o sentimento de insegurança é o facto de cada vez mais portugueses conhecerem alguém que foi assaltado ou terem já passado por essa amarga experiência. Seria aconselhável, também, que os governantes dessem menos credibilidade às estatísticas sobre o pequeno crime. A não ser que queiram tapar o sol com uma peneira, deviam saber que há muitas situações em que as vítimas nem sequer apresentam queixa por acreditarem que não haverá quaisquer consequências."
João Cândido da Silva
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