terça-feira, setembro 23, 2008

O PROBLEMA DA FOME

"Depois da proibição de fumar em restaurantes, aproxima-se a proibição de comer em restaurantes. Pelo menos, de comer qualquer coisa que se assemelhe a um prato decente, critério que a beterraba e uns farrapos de cenoura não preenchem. Infelizmente, a beterraba e os farrapos que desde há tempos ocupam dois terços de cada dose, mesmo tratando-se de uma dose de rojões à minhota, ameaçam ser cada vez mais preponderantes e tomar conta da travessa inteira. Com o entusiástico apoio de uma chusma dessas instituições que não escolhemos e que, por mera generosidade, entenderam cuidar de nós, a fatídica Direcção-Geral da Saúde quer impor um "menu saudável" nos lugares de repasto, em princípio a título de alternativa aos menus doentios que consumimos e pagamos de livre vontade.

Claro que, nos meandros do pequeno totalitarismo, os princípios são voláteis. Num instante, como se viu na história do tabaco, a "alternativa" torna-se altamente recomendada e, logo a seguir, compulsória. Quando damos por ela, temos o elevado brio e os escassos modos da ASAE a invadirem estabelecimentos privados em busca da caldeirada indigesta ou do doce calórico. Aliás, julgo que este já é o procedimento corrente nas escolas e nas praias, onde criancinhas e banhistas se vêem impedidos de prejudicar a saúde que, por acaso e para desgosto do Estado, é a deles.

Aos 39 anos e avesso a praias, o "pogrom" ainda não me afecta. Se insistirem muito, deixo igualmente de frequentar restaurantes e, em última instância, de me alimentar. Tudo é preferível à absurda exigência de uma vida tão longa quanto chata, a carregar um corpo saudável e uma cabeça sob observação psiquiátrica: apenas masoquistas ambicionam chegar aos oitenta a roer beterrabas.
"

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!