OS PRIMITIVOS
"Visto que John McCain não ajuda ao estereótipo, o coro de insultos voltou-se para Sarah Palin, a candidata republicana à vice-presidência dos EUA. É verdade que, há duas semanas, eu nem sabia quem a senhora era. Hoje, com a ajuda de gente que também não sabia mas se especializou num instante, sinto-me informadíssimo. A julgar pelo que se escreve e diz por aí, trata-se de uma conservadora fanática e uma fundamentalista religiosa, que concebe filhos doentes, caça alces, pretende declarar guerra à Rússia e tem como principal desígnio impor a crença na criação divina do universo.
Como civilizadíssimos europeus, para quem só a direita é "radical" e "extrema", os portugueses ficaram horrorizados com a escolha de semelhante monstruosidade. Por sua vez, os americanos gostaram, e McCain desatou a crescer nas sondagens à conta da sra. Palin. De acordo com os "telejornais", os blogues e certa imprensa, não há aqui motivo de espanto. Sucede apenas que metade dos americanos é, basicamente, primitiva. Em Carnaxide ou em Gaia, vultos cosmopolitas explicam-nos que o eleitorado republicano é composto por caipiras do Sul evangélico, transidos de fervor místico e mortinhos por invocar o direito de posse de arma a fim de abater gays, minorias étnicas e mulheres que abortam.
Felizmente, esses simplórios que vêem o mundo a preto e branco não contavam com a profundidade analítica dos "liberais" de lá e, com superior sofisticação e superior nojo, dos peritos de cá. Não fossem os peritos, que, numa discutível homenagem a Darwin, provaram cientificamente o primitivismo de cada republicano, os cidadãos menos atentos poderiam ser enganados.
Desde logo, pelos factos: as declarações da sra. Palin têm sido manipuladas à exaustão; a sra. Palin governa pelo voto o estado menos religioso dos EUA; os "primitivos" do Sul elegeram Kennedy e sempre foram, nalguns casos (incluindo o Texas) até há bem pouco, eleitorado democrata; Barry Goldwater, pioneiro do "populismo" conservador, apoiava o casamento gay; Clinton defendia a pena de morte; Nixon foi o presidente mais "social" do último meio século americano; etc., etc., etc. Os factos americanos são confusos. A Europa culta prefere a imaginação."
Alberto Gonçalves
Como civilizadíssimos europeus, para quem só a direita é "radical" e "extrema", os portugueses ficaram horrorizados com a escolha de semelhante monstruosidade. Por sua vez, os americanos gostaram, e McCain desatou a crescer nas sondagens à conta da sra. Palin. De acordo com os "telejornais", os blogues e certa imprensa, não há aqui motivo de espanto. Sucede apenas que metade dos americanos é, basicamente, primitiva. Em Carnaxide ou em Gaia, vultos cosmopolitas explicam-nos que o eleitorado republicano é composto por caipiras do Sul evangélico, transidos de fervor místico e mortinhos por invocar o direito de posse de arma a fim de abater gays, minorias étnicas e mulheres que abortam.
Felizmente, esses simplórios que vêem o mundo a preto e branco não contavam com a profundidade analítica dos "liberais" de lá e, com superior sofisticação e superior nojo, dos peritos de cá. Não fossem os peritos, que, numa discutível homenagem a Darwin, provaram cientificamente o primitivismo de cada republicano, os cidadãos menos atentos poderiam ser enganados.
Desde logo, pelos factos: as declarações da sra. Palin têm sido manipuladas à exaustão; a sra. Palin governa pelo voto o estado menos religioso dos EUA; os "primitivos" do Sul elegeram Kennedy e sempre foram, nalguns casos (incluindo o Texas) até há bem pouco, eleitorado democrata; Barry Goldwater, pioneiro do "populismo" conservador, apoiava o casamento gay; Clinton defendia a pena de morte; Nixon foi o presidente mais "social" do último meio século americano; etc., etc., etc. Os factos americanos são confusos. A Europa culta prefere a imaginação."
Alberto Gonçalves
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